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 ISSN: 1022-6508

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 Número 51:: Septiembre - Diciembre / Setembro - Dezembro 2009

Escuela y fracaso. Niveles y territorios
Escola e fracasso. Níveis e territórios

  Índice número 51

A avaliação da satisfação com a profissão em professores do ensino secundário em Portugal. Contribuição para o estudo do sucesso escolar

Maria Figueiredo *

 

SÍNTESE: Este é um estudo realizado mediante pesquisa, de caráter exploratório-descritivo, cuja finalidade é delimitar um perfil transversal da profissão de professor de Ensino Secundário que defina a satisfação com a prática diária da docência e seu impacto no sucesso da escola. Levamos em consideração uma mostra de 524 professores do Ensino Secundário no Portugal Continental, aos quais se aplicaram entre Dezembro de 2006 e Julho de 2007 três instrumentos de medida: (1) uma pesquisa de informação sociodemográfica, (2) uma pesquisa de fontes de satisfação com a profissão de docente e (3) uma escala numérica de perfil de satisfação dos professores com a sua profissão. Os dados obtidos revelam níveis muito significativos neste grupo de profissionais do ensino.
Palavras-chave: satisfação profissional; professorado de Ensino Secundário.

Síntesis: Este trabajo es un estudio realizado mediante encuesta, de carácter exploratorio-descriptivo, cuya finalidad es delimitar un perfil transversal a la profesión del profesor de Enseñanza Secundaria que defina la satisfacción con la práctica diaria de la docencia y su impacto en  la escuela. Hemos tenido en cuenta una muestra de 524 profesores de Enseñanza Secundaria en Portugal Continental, a los que se les aplicaron entre diciembre de 2006 y julio de 2007 tres instrumentos de medida: (1) una encuesta de información socio-demográfica, (2) una encuesta de fuentes de satisfacción con la profesión de docente y (3) una escala numérica de perfil de satisfacción de los profesores con su profesión. Los datos obtenidos revelan niveles muy significativos de insatisfacción en este grupo de profesionales de la enseñanza.
Palabras clave: satisfacción profesional; profesorado de Enseñanza Secundaria.

ABSTRACT: This paper is the result of a research conducted through exploratory-descriptive surveys aimed at specifying a cross-profile of the high school teacher profession. A profile that can define satisfaction levels regarding every day practices of teachers, and its impact on school. We have considered a sample of 524 high school teachers in continental Portugal, with whom we used the following survey tools:(1) a social-demographic information survey;(2) a satisfaction survey regarding the teaching profession;(3) a numeric scale of satisfaction profile of teachers regarding their profession.Data gathered shows significant levels of dissatisfaction among this particular group of teachers.
Keywords: professional satisfaction; high school faculty.

* Professora convidada na Pós-graduação em Necessidades Educativas Especiais no Instituto Superior de Ciências da Informação e Administração, de Aveiro, Portugal.

1.   Introdução

Escola e Insucesso. O discurso sociopedagógico actual está repleto de inconformismos e desagrados expressos pelos vários actores do teatro educacional, professores, alunos, pais e governantes. Muitos afirmam que os alunos têm cada vez mais insucesso nos seus esforços de aprendizagem, que os professores estão em ruptura com os vários aspectos da profissão, que os pais se desresponsabilizam da sua missão de educadores dos filhos, e a colocam, completa e excessivamente, sobre os ombros dos professores, e que os governantes são administradores de secretaria, alheios à realidade social, familiar e pedagógica da Escola de hoje. Trata-se de um contexto em que nada nem ninguém se sente detentor de saberes socialmente significativos. Partindo do paradigma de que não é possível não aprender em qualquer fase do desenvolvimento humano, e vivendo numa época da história mundial em que o Homem tem possibilidades indefinidas de controlar e melhorar a Vida, tanto em aspectos científicos, como existenciais, o insucesso escolar é incompreensível e não se insere num plano evolucionista ou humanista. Não passa de um diagnóstico feito em função de um conjunto de parâmetros técnicos, pedagógicos, sociais, pessoais, profissionais e até económicos. Como o panorama avaliativo é vasto, mesmo que o insucesso escolar tenha expressão de primeira ordem no aluno, tomamos como estudo o impacto que a satisfação com a profissão tem nos professores, emissários da aprendizagem, mediadores institucionais e mesmo coautores do sucesso ou fracasso de seus alunos. Portanto, temos que olhar para a multidisciplinaridade da educação moderna e avaliar o papel de cada parte no resultado final, isto é, no objectivo final da escola, a evolução dos alunos através do Conhecimento. Portugal está a empreender reformas importantes, pelo menos significativas, na escola, desde o ensino pré-escolar, com dados recentes de eficácia nos resultados (taxa de escolarização no pré-escolar de 78,4% e taxas de retenção e desistência no ensino primário, 1.º e 2.º ciclo da ordem de 10%, aumentando para 18,4% no 3.º ciclo - dados do Ministério da Educação, 2007) até ao ensino superior, com a adesão ao modelo de Bolonha. Para não cairmos no discurso obsoleto e falacioso de apontar erros sem vislumbrar soluções positivas e reformadoras a fim de modificar o curso dos eventos pedagógicos e da satisfação global com a escola, escolheu-se um modelo de pesquisa salutogénica que fomos buscar à psicologia positiva (Seligman, 2000), que tem como objectivo trazer novos conhecimentos sobre o desenvolvimento da psique humana na tentativa de alcançar mais e melhor saber sobre comportamentos de qualidade e de satisfação global com a vida. De acordo com Seligman, (2002), a psicologia positiva baseia-se em três pilares: (1) o estudo da emoção positiva, (2) o estudo dos traços e qualidades positivas, sobretudo força e virtudes, incluindo inteligência e capacidades físicas e (3) o estudo das instituições positivas como a escola, a família ou a liberdade.

Com base neste modelo escolheram-se instrumentos de medida e de definição de perfil e a metodologia de análise de dados.

1.1 Satisfação global com a vida

Na perspectiva salutogénica afirmamos que a satisfação global com a vida desenvolve-se a partir de contextos de valores intrínsecos e subjectivos, assim como de outros extrínsecos e sociais.

Diferentes autores (McCullough, Heubner e Laughlin, 2000; Anguas, 1997 e Martinez e Garcia, 1994 in Albuquerque e Tróccoli, 2004, Diener, Lyubomirsky e King, 2005), conceptualizam a satisfação com a vida e mesmo o sentimento de felicidade num modelo dimensional tripartido, de: (1) a satisfação global com a vida, dimensão de julgamento cognitivo sobre algum domínio particular da própria vida, comparando as circunstâncias reais de vida e outro padrão ideal qualquer, isto é, uma avaliação sobre a vida de acordo com valores próprios (Shin e Johnson, 1978, in Albuquerque e Tróccoli, 2004); (2) o afecto positivo, que é um sentimento hedónico expresso num determinado momento, como entusiasmo, interesse, alegria, felicidade ou prazer activo, mais emocional que cognitivo; e (3) o afecto negativo, como sendo um estado transitório de emoções desagradáveis, como tristeza, aborrecimento, angústia, depressão, perda, ansiedade, inquietação ou outros sintomas aflitivos (Diener, 1995, in Albuquerque e Tróccoli, 2004).

1.2 Satisfação com a profissão de professor

Profissão de substrato relacional ou «emotional labor»: importa compreender como se estabelece a relação positiva entre a satisfação no trabalho e a satisfação com a vida em geral, se bem que são poucos e recentes os estudos sobre esta relação no grupo dos professores. A relação educativa professor-aluno, tradicionalmente, estruturava-se sobre uma relação assimétrica em que o professor era o responsável pelos alunos e o detentor do poder do saber. O conceito de «emotional labor» (Hochschild, 1983, in Soares, 2003) entende a profissão de professor como uma profissão de «substrato emocional», isto é, em que se tem essencialmente de viver, dirigir e compreender emoções, onde é tão importante fazê-lo com as próprias emoções, como com as dos outros que connosco dividem esse contexto, para que sejam providenciadas as adequadas respostas a regras e normas institucionais (Chu, 2002). Os professores constituem um dos maiores grupos profissionais e um dos mais qualificados, do ponto de vista académico. Utilizando o poder metafórico de Hameline, D. (Nóvoa, 1999), qualificamos o professor como um conhecedor que em primeiro lugar é um doctus, aquele que revela com prazer a sua ciência, um peritus, o que tem qualidades especiais para fazer algo e, ainda, um sapiens, aquele que depois de realizar uma acção continua a apreciá-la para a aperfeiçoar. A acção docente na sua especificidade afirma-se por profissionalismo, ou seja, pelo conjunto de comportamentos, de conhecimentos, de habilidades, de atitudes e valores que vão no sentido de aumentar níveis de sucesso e de combate ao insucesso escolar.

2.   Metodologia

Descreve-se um estudo fenomenológico de abordagem quantitativa do tipo exploratório descritivo, cujo quadro teórico é o da Psicologia Positiva. Abordagem esta compatível com a investigação social, a descoberta e exploração de factores respeitantes ao comportamento humano, pretendendo encontrar um perfil transversal à profissão de professor que defina a satisfação com a prática diária da docência, abordando um conjunto de afectos positivos, de satisfação generalizada e vivida com a profissão e que nos leve a perceber vertentes ligadas ao insucesso escolar e que extravasam os limites da escola para se misturarem, ainda pouco claramente para o mundo científico-pedagógico, e propor novos estudos e novas abordagens que gratifiquem a qualidade intrínseca ao ser humano de aprender do nascer ao morrer.

2.1 Amostra

O sistema administrativo escolar português se organiza em cinco divisões regionais que correspondem às áreas geográficas: Norte, Centro, Lisboa, Sul e Ilhas. O sistema educacional português está centralizado no Ministério da Educação, que é responsável pela elaboração e aplicação das políticas educativas. Pretende-se retirar conclusões sobre o grande número de indivíduos que em Portugal são professores do ensino secundário (38.529, dados preliminares 2004-05 do Ministério da Educação), utilizando para isso o universo de professores do distrito de Setúbal (1.ª fase) e dos distritos de Aveiro, Viseu, Coimbra e Leiria (2.ª fase). O trabalho de campo transcorreu durante o 3.º período lectivo, do ano lectivo 2006-2007, na 1.ª fase, entre Dezembro de 2006 e Abril de 2007, e consistiu na passagem do Inquérito de Informação Sociodemográfica e no Questionário de Fontes de Satisfação, e entre Junho e Julho de 2007, na 2.ª fase, tempo de entrega e recolha do último instrumento de trabalho, a Escala de Satisfação com a Profissão para Professores.

A entrega e recolha dos questionários foi mediada pelos Conse­lhos Executivos das escolas e pelos coordenadores de áreas, e entregue nas reuniões que iam tendo lugar durante aquele período lectivo. No total, participaram desta investigação 524 indivíduos, 305 na 1.ª fase e 219 na 2.ª fase, todos professores, de diferentes idades e estados civis, mulheres e homens, efectivos e não-efectivos, a iniciarem carreira ou já em desenvolvimento, de todo o conjunto de grupos disciplinares, do 10.º ao 12.º ano lectivo, acumulando ou não outros cargos na escola, entre outras diferenças que caracterizam todos e cada um dos professores participantes. Como critérios de inclusão / exclusão refere-se que: (1) incluíram-se os indivíduos cuja actividade profissional é a docência no ensino secundário, e não se incluíram os indivíduos que não aceitaram participar no estudo, sejam quais forem suas razões; (2) que a passagem das escalas se efectuou no decurso do ano lectivo 2006/2007, e (3) que transcorreu num espaço cronológico entre Dezembro de 2006 e Julho de 2007, período de tempo cujos limites correram em função de maior ou menor disponibilidade dos professores participantes.

2.2 Instrumentos de recolha de dados

Para a concretização do objectivo geral do estudo – construir um perfil de satisfação profissional dos professores do ensino secundário e contribuir para ao estudo do sucesso escolar – tinham sido desenvolvidos e aplicados três instrumentos de recolha de dados.

I.   Uma investigação de informação sociodemográfica.
II.  Um questionário de fontes de satisfação com a profissão de docente, com uma só pergunta aberta, o Questionário de Fontes de Satisfação.
III.  Uma escala numérica de perfil de satisfação dos professores com sua profissão, a Escala de Satisfação com a Profissão de Professor.

2.2.1    Questionário de informação sociodemográfica

Para a obtenção de dados de identificação amostral considerou-se importante o desenho de um inquérito de informação sociodemográfica, cujas 17 questões têm a ver com os dados únicos de cada indivíduo nos seus contextos pessoais e profissionais.

2.2.2    Questionário de Fontes de Satisfação

O Questionário de Fontes de Satisfação com a profissão de docente, com uma só pergunta aberta, foi construído para que se extraíssem das respostas fornecidas as dimensões valorizadas pelos professores sobre sua satisfação com a prática docente, as quais nos tinham permitido construir algumas das perguntas consideradas pertinentes e essenciais numa escala de perfil, mas que faltavam, apesar das fontes de apoio ao desenvolvimento de nossa escala de perfil. Seguindo um modelo dedutivo de análise de conteúdo das respostas partiu-se do enquadramento teórico para a análise e conclusões, com as respostas qualitativas sendo divididas em unidades de análise, as quais foram assim agrupadas em categorias dimensionais de características formais partilhadas. Este foi um dos dois instrumentos, aplicados na 1.ª fase de estudo, que permitiu avançar para a construção da requerida escala de satisfação com a profissão de professor.

2.2.3    Escala de Satisfação com a Profissão de Professor

A Escala de Perfil é composta por 33 itens e está dividida em módulos que designamos dimensões. Cada dimensão, que não é directamente observável mas sim definida através de um conjunto de outras variáveis (itens), denomina-se variável latente (Hill & Hill, 2000) e é constituída por uma temática em particular que corresponde aos factores de maior importância de satisfação com a profissão. Utilizou-se uma escala numérica de resposta de tipo Likert, de seis pontos, cuja formatação prevê que os respondentes assinalem uma opção de resposta, entre 1 e 6, o equivalente entre «Completamente insatisfatório» e «Plenamente satisfatório». A Escala de Perfil permitiu-nos determinar 5 dimensões de relevante importância para o desempenho da profissão de professor com satisfação:

  1. Profissão (Profissão de substrato relacional)
  2. Aprendizagem (Aprendizagem contínua)
  3. Instituição (Instituição de trabalho)
  4. Reconhecimento (Reconhecimento de alunos e professores)
  5. .Empenho (Empenho na docência)

Da análise do valor médio obtido para as 5 variáveis pode-se afirmar que a satisfação profissional dos professores do ensino secundário é muito baixa, sobretudo no que diz respeito à satisfação em relação com a aprendizagem ao longo da carreira profissional.

3.   Resultados

Identificámos percepções tendencialmente negativas na sua carga emocional e grandes dificuldades para referenciar emoções positivas, chegando às respostas pretendidas, resultado das perguntas de investigação, cujo domínio principal prende-se com o perfil de satisfação profissional dos professores do ensino secundário. Pelo que se apresentam agora alguns dos principais resultados:

As «Idades» apresentam um comportamento idêntico, quer se trate de professores do género feminino, quer do masculino; verifica-se uma maior amplitude nas idades das professoras em que os indivíduos mais jovens e os mais idosos são do sexo feminino.

Os inquiridos do «género» masculino possuem habilitações académicas superiores aos do género feminino, falamos de cerca de 30% contra 17%; é no grupo masculino que está a grande parte dos inquiridos com bacharelato.

Já esperada é a forte e positiva relação existente entre a idade e o número de anos ao serviço da docência; quanto mais idade tem o docente maior é o número de anos ao serviço, por isso no quadro 3 as observações encontrem-se concentradas junto à recta que permitiria escrever a relação matemática entre as duas variáveis; tal relação pode ser confirmada pelo coeficiente de correlação (índice estatístico que permite identificar a existência e tipo de relação entre variáveis) que apresenta um valor de 0,91.

Tinham-se confirmado um conjunto de itens aceitáveis como instrumentos de medida, com nenhum dos critérios a apresentar valores de rejeição, o que possibilitou proceder à interpretação de cada uma das variáveis latentes, quadro 4, para a sua clara identificação.

Da análise do valor médio obtido para as 5 variáveis, quadro 5, pode-se afirmar que a satisfação profissional dos professores do ensino secundário é muito baixa, sobretudo no que se refere à aprendizagem ao longo da sua carreira profissional.

4.   Discussion de resultados

Destacam-se algumas conclusões sobre as quais poderemos reflectir à luz do seguinte modo:

4.1 (Como é que os professores definem a satisfação profissional?)

Os professores negam sentirem-se satisfeitos com sua profissão. Esta é, sempre, a primeira e mais afirmativa posição, se bem que com as avaliações cruzadas levadas a cabo no nosso estudo, foi possível encontrar influências diferentes, mais ou menos altas, sobre a satisfação profissional.

4.2 (Quais são os elementos, psicológicos, contextuais e relacionais, implicados na satisfação profissional?)

Poder identificar algumas percepções desta classe profissional permitiu-nos distinguir quais as dimensões mais importantes e que mais influenciam os professores na sua satisfação profissional, para que figurem num perfil. Falamos de cinco dimensões de carácter psicossocial e que congregam: (1) a profissão específica de professor que é uma profissão de substrato emocional; (2) o factor aprendizagem que não para de acontecer ao longo da vida profissional, tanto para quem aprende, como para quem ensina; (3) a escola como instituição de trabalho especial e específica, por ser um tecido organizacional vivo e em constante mudança, e que o é através dos professores; por ser especial, porque ensina a crescer através do conhecimento que veicula e de todas as formas com que prepara as crianças e os jovens para serem adultos; porque não há outra instituição que tenha semelhante papel, mesmo que sejam instituições que funcionem com pessoas e para pessoas; sendo específica porque tem um papel e uma função social única, a função social que transforma a face da economia de um país, pelo potencial humano que forma; e é nesta função que reside o seu maior risco se os seus elementos constituintes perdem qualidades; é o risco do fracasso generalizado, de resultados tão amplos como destruidores do papel de uma sociedade moderna e em crescimento; (4) a necessidade básica específica de reconhe­cimento, pessoal, social e profissional, e (5) toda a dinâmica absolutamente necessária de empenhamento e envolvimento na prática docente, ano após ano, grupo após grupo, e que se define como intrínseco para ser eficaz e manter o sucesso dos alunos e da educação em geral.

4.3 (Quais as diferenças nos níveis de satisfação dos professores do ensino secundário relacionadas com factores psicológicos, contextuais e relacionais, isto é, psicossociais?)

Ainda sobre as referidas cinco dimensões e observando as diferenças entre si, podemos apontar o que a seguir se descreve. A profissão (1) de professor é uma profissão de acção social cuja especificidade tem a ver com as relações privilegiadas que se constroem e que estão fundamentalmente assentes exactamente nessa relação do professor com o aluno. É a partir daqui que se desenrolam as aprendizagens, o crescimento dos alunos e o seu sucesso.

Portanto, estamos num domínio eminentemente relacional, o qual também diz respeito ao conjunto de factores reunidos à volta do reconhecimento (4), necessidade básica humana, que é o processamento da informação recebida do exterior sobre o desempenho próprio e que vai no sentido do fazer bem feito ou correcto e que pelo seu carácter amplo sobre o sentimento de reconhecimento, é uma dimensão de influência relacional mas também psicológica, pelo que, podemos dizer que este é um domínio psico-relacional.

Como domínio psicológico ressalvamos a dimensão empenho (5) a qual encerra processos psicológicos intrínsecos, como aqueles que estão ligados à motivação para ensinar e ao prazer de ver-se envolvido em projectos pedagógicos, o que nos dá elementos muito importantes sobre questões estruturais do indivíduo que têm a ver com aquilo que é mais importante para que a docência seja uma profissão de satisfações de vida de várias ordens. Os dois restantes domínios que completam a constituição do perfil de satisfação com a profissão estão relacionados com factores contextuais. Referimo-nos à aprendizagem (2) que esta profissão específica obriga e proporciona uma dupla interacção renovada continuamente que só assim possibilita ascender na carreira e usufruir de mais e melhores benefícios materiais.

E, também, à instituição de trabalho (3), a escola, com estruturas organizativas e com dinâmicas específicas, já que os seus clientes não são completamente autónomos, por isso trazem a família para dentro das suas fronteiras e necessitam dos professores-prestadores como modelos de vida profissional e pessoal, de sucesso e de realização, para além dos saberes que divulgam.

4.4 (Quais os elementos de maior importância que devem figurar num perfil de satisfação profissional dos professores do ensino secundário?)

LLevando em conta as cinco dimensões de perfil seria possível dizer que a satisfação com a docência advém, sobretudo, do facto de esta ser uma profissão de substrato relacional, desenvolvida numa organização de trabalho tão específica que não tem par, e relacionada com factores motivadores intrínsecos dirigidos para o desenvolvimento do saber.

5.  Conclusão

Aceitando a satisfação como uma característica de predisposição individual, que se generaliza partindo de uma avaliação positiva com a vida que influencia o desempenho profissional, temos que destacar a necessidade de que os professores tenham bem clara a sua identidade individual e o seu papel profissional, no que respeita aos seus limites, para que a contaminação ou indistinção de identidade não ponham em causa o seu bom e satisfatório desempenho profissional. Se dispusermos de um grupo profissional, com fundamental importância no desenvolvimento humano e no seu sucesso, com um manifesto quadro vivencial com a profissão de satisfação negativa, então, algo está perigosamente em perigo no ensino e na saúde, tanto para alunos, como para professores, bem como para as famílias portuguesas.

O que poderá inverter este cenário pode estar relacionado tanto com processos reactivos, como com outros mais proactivos pois é preciso ter ocorrências individuais de gestão de dificuldades, mas também capacidades intrínsecas a si próprio para sentir satisfação e fazer desse sentimento a construção de si mesmo. A combinação a que nos referimos entre identidade individual e papel profissional reforça reciprocidades entre satisfação com o desempenho profissional e uma vida feliz. E alerta-nos, ainda, para um novo paradigma social em que a realidade profissional se desenrola dinamicamente em profunda interacção com todos os outros domínios da realidade quotidiana de um indivíduo. Assim, fica claro, por um lado, que a satisfação profissional, pela sua multi-dimensão, estende-se até ao processamento da satisfação com a vida em geral e, por outro lado, que a satisfação profissional recebe as disposições positivas individuais para a vida em geral. Portanto, constatamos que os professores relacionam estreitamente a sua satisfação com a vida em geral com a sua satisfação profissional. Os critérios referentes à actividade profissional, as recompensas que a profissão proporciona ao indivíduo e as relações afectivas que transbordam da profissão para a vida global, são experiências mais ou menos satisfatórias, dependendo da significação que cada indivíduo lhe confere.

E esta significação é negativa, segundo o nosso estudo, revelando que a vida dos professores é uma mescla pouco saudável para qualquer pessoa, independentemente da sua profissão, mas de certeza que o é para os profissionais da docência. Consideramos que a elasticidade de fronteiras entre dimensões humanas, para o homem moderno, implica reforços de concorrências e de habilidades para a sobrevivência e para as vivências absolutamente necessárias para o seu desenvolvimento que é de formação especializada. Mas se passamos da flexibilidade entre dimensões humanas e, neste caso, profissionais, para uma amálgama caótica que não permita a ninguém defender papéis diferentes, em função dos múltiplos requisitos e, ainda, que influencia toda a vida quando alguma polarização negativa acontece, como presentemente é a situação profissional dos docentes, então, só podemos dizer que é preciso aprender a distinguir dimensões cognitivas e subjectivas e reconhecer fronteiras dimensionais já que o enquadramento da vida humana se desenrola numa matriz viva de interacções, não sendo provável eximir-se para outra fórmula vivencial qualquer.

Parece-nos que os professores modernos devem querer, e gostar de o ser (devem ter características intrínsecas de empatia, motivação para partilhar saberes, capacidade para mediar conflitos relacionais e disposição emocional positiva, no que diz respeito à sua identidade individual) e desenvolver a profissão num verdadeiro substrato pedagógico (necessitam de reconhecimento socioprofissional, motivação extrínseca e legislação facilitadora para a formação de sujeitos autónomos e independentes), para que os resultados da aprendizagem e do ensino, à escala macro-social ou do ponto de vista individual, sejam de satisfação. Nesta perspectiva poderíamos descrever o modelo da ilustração 1.

Parece-nos que os professores estão duplamente prisioneiros no desempenho de sua profissão e impedidos de sentir satisfação: de si mesmos e do sistema educacional vigente. Nem a dimensão cognitiva sobre a satisfação com a vida, nem a dimensão afectiva, emocionalmente positiva ou negativa, estão bem representadas no presente estudo. Mas sendo a satisfação um processo tanto reactivo como proactivo estamos provavelmente num encontro incompreendido e com deficit de descodificação social, cultural, política e profissional de gestão de competências individuais e de relações sociais e institucionais. Como estão estes profissionais a dirigir a sua carreira sem ver que a instituição está a crescer mal e em direcção ao fracasso generalizado? O que os professores nos dizem é que não se sentem bem com a docência, nem com o seu presente. O que dizemos, é que é possível contribuir individualmente com uma parte importante para a expressão óptima do papel docente na escola, e só assim se poderá falar de reestruturação do sistema escolar ou mesmo de mudança de paradigma, da escola como bem de consumo numa lógica de custo-benefício para a escola que satisfaz necessidades humanas e sociais vivendo-as e dirigindo-as.

Como e com o quê estão os professores a comparar sua vida profissional real de tal forma que se sentem frustrados nos seus ideais? Quando o diferencial entre o real e o ideal é muito grande para servir à inovação e torna-se mal-estar e insatisfação, perde-se a representação sobre a satisfação com a profissão. Confraternizamos com o risco desta profissão de substrato emocional sufocar por falta de sapiens e de doctus e só restarem peritus. Um risco que não é só dos professores mas é de todos nós. Descrevemos, explicamos, avaliamos e definimos um perfil, mas só conseguimos afirmar, mais uma vez, que os professores não falam de satisfação com a mesma facilidade com que o fazem sobre as suas insatisfações. Defeito dos protagonistas do ensino ou crise sociopedagógica numa cultura do conhecimento adormecida em reformas redentoras e paliativas, mas muito pouco renovadoras, ao som de uma sociedade ambígua de valores e esquecida de que é pelo ensino que se começa, se organiza ou se restabelece e, ainda, se promove a modernização social e individual da Humanidade?

Recomenda-se que se desenvolvam novos estudos em que se cruzem variáveis relacionadas com os vários profissionais envolvidos na Escola e nas aprendizagens, no sentido de se compreender e reorganizar não só os processos pedagógicos, mas também as questões sociais intrinsecamente ligadas a todo este tecido educacional.

Bibliografia

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