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 ISSN: 1681-5653

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De fazedoras de cópias a produtoras de textos: as professoras da educação básica
e o exercício da autoria escrita no cotidiano da escola

Josélia Gomes Neves
Professora assistente da Universidade Federal de Rondônia, Campus de Ji-Paraná, Departamento de Ciências Humanas e Sociais, Rondônia, Brasil


No período de 2001 a 2004 realizei informalmente um acompanhamento pedagógico junto a um grupo de professoras e coordenadoras de uma instituição de ensino em Porto Velho - Rondônia, sobre à produção de registros referentes ao desempenho de aprendizagem dos alunos e alunas daquela comunidade de ensino. Inicialmente, meu interesse deu-se em função do fato de minha filha Giulia Ranah, estudar no referido estabelecimento, entretanto, aos poucos a relação que tínhamos foi se desenhando, onde de forma simultânea eu era mãe de aluna e também mediadora do grupo.

Os Relatórios de Aprendizagem representam um rompimento com a tradicional nota, constituindo-se em um modelo de avaliação formativa, na medida em que favorecem a reflexão da prática educativa. "Relatar o trabalho vivido não faz parte da tradição escolar, muito mais habituada a elaborar planos para o futuro, sem uma reflexão consistente deste fazer por meio da escrita" (Hoffman, 1988, p. 25).

Durante a leitura dos relatórios, havia uma expectativa sempre muito grande por parte das professoras: Estava claro? Tinha muitos erros? Como posso melhorar? Em relação ao anterior, houve avanços? A minha escrita está boa? Que sugestões você pode encaminhar? Essa demanda gerava reflexões, pois eu devolvia os questionamentos feitos por elas em forma de novas perguntas e encaminhava com freqüência sugestões bibliográficas que a meu ver, poderia contribuir para ajudá-las na ampliação de sua compreensão.

Os encontros então, foram, cada vez mais, se caracterizando como importantes espaços de troca, onde se verificavam questões, que problematizadas, apontavam novos horizontes para o trabalho diário na sala de aula. Um dos aspectos que aos poucos foi chamando minha atenção, referiu-se à produção escrita das professoras, pois era evidente, nos relatórios lidos, como estas se apropriavam cada vez mais da

escrita para manifestarem suas impressões e principalmente a visibilidade da sua competência escritora expressa nas letras que ora apresentavam alegrias, ora dúvidas, angústias, o que acabava por validar a idéia de que fazemos o caminho, ao caminhar ou melhor, aprendemos a escrever, escrevendo, a descoberta da escrita enquanto manifestação de autonomia e autoria: "Acredito que um razoável domínio das regras gramaticais e uma fluência na escrita (o que se adquire praticando...) são importantes para o professor. Como encorajar seus alunos a viver uma aventura que ele mesmo não viveu?" (Warschauer, 1993, p. 64).

Embora nosso ponto de partida tenha sido os Relatórios de Avaliação dos alunos e alunas, que neste trabalho identificamos como Relatórios de Aprendizagem, nos limitamos a analisar o aspecto da escrita produzida pelas professoras. Tínhamos e temos ainda muitas perguntas: o que podem revelar as escritas das professoras? Através de seus registros é possível identificar o que sabem, as atitudes pedagógicas que manifestam, os conhecimentos didáticos que dispõe, as concepções teóricas que fundamentam sua prática?

Numa perspectiva de estudo da psicogênese destas escritas, prosseguimos com as entrevistas e análises dos relatórios. Já sabemos que muitas vezes o trabalho docente é sustentado por teorias não assumidas pelos professores, até porque muitas vezes, os próprios/as não se dão conta disso. Neste sentido o registro escrito, discutido no coletivo possibilita a transformação da prática em objeto de estudo, explicitando inclusive o que está subjacente, para um melhor conhecimento e intervenção do educador/a, além de qualificar, como estávamos vendo a sua escrita.

Uma das observações importantes verificadas por ocasião das análises, referiu-se a necessidade de enriquecimento nos relatórios, seja em forma de citação direta ou indireta, de onde podemos inferir leituras que são desenvolvidas e que contribui na própria interpretação da aprendizagem. Para Madalena Freire (1992, p. 32). "Nesse aprendizado permanente de escrever e socializar nossa reflexão, sedimenta-se a disciplina intelectual tão necessária a um educador, pesquisador, estudioso do que faz e da fundamentação teórica que o inspira no seu ensina". Desta forma o registro escrito embora enfatize o aspecto avaliativo do aluno/a, acaba também por retratar o percurso de ambos. Ao localizar os pontos de partida dos alunos/as, seus avanços, por sua vez também responde a questionamentos do professor/a, através de um objeto que favorece o desenvolvimento da autoria: a escrita.

Para o grupo de professoras entrevistadas, as dificuldades no ato de relatar o desempenho de aprendizagem dos alunos/as está vinculada fundamentalmente a dificuldade de expressar-se por meio da escrita. E então os professores e professoras vivenciam um dilema profissional, pois diariamente planejam atividades de escrita para os alunos/as e um dia também participaram na condição de alunos/as de situações semelhantes e então como fica a questão? Se estas atividades de contato com a escrita foram pouco significativas, como são as que ele/a propicia agora aos seus alunos e, ainda, que mecanismos de superação utiliza para rever a forma de ensino e como resolve suas lacunas de aprendizagem da escrita?

Neste estudo, observamos as aproximações entre o ato de relatar o desempenho de aprendizagem do aluno/a e o aperfeiçoamento da competência da escrita docente. As professoras, de uma forma muito clara, recuperam sua trajetória inicial marcada pela produção de cópias e não pela construção, relembram as dificuldades e apontam alguns ganhos nesta caminhada.

O trabalho inicial de relatar, de acordo com as professoras, são, em algumas situações meras observações do senso comum, em função disso apontam como fundamental iniciar esse processo, avançar no exercício da leitura e conseqüentemente na fundamentação teórica para responder estas demandas, na medida em que esta fundamentação poderá ajudá-lo a construir explicações para o que está sendo anotado, forjando ao mesmo tempo um educador com uma nova condição: não mais reprodutor de conhecimentos alheios, mas alguém com capacidade de reinventar a própria prática.

Ao indagarmos as professoras sobre o que pensavam de alguns relatórios que podem ser considerados mal escritos, já que são analisados no coletivo, observamos que ainda há muitas dificuldades em se lidar com o erro, resignificado na concepção construtivista. Fica a questão: Vale só para o aluno/a? Será que conservamos a idéia da ausência de erro como explicitação da aprendizagem? Permanece o mito de que o professor/a não pode errar?

O ato de registrar por escrito suas atividades, contribuiu também para retomar a concepção de planejamento que se deseja - não mais aquele modelo para inglês ver ou a instituição olhar, o conhecido jogo do faz-de-conta - que não viabiliza o crescimento profissional de quem o faz, mas estamos nos referindo a uma proposta funcional, que pode servir como instrumento para aprimorar os próximos passos, conforme aponta esta fala:

Muitos ganhos significativos já podem ser partilhados no processo educativo da apropriação da escrita. Ganhos esses conquistados pelos professores e professoras nos fóruns locais, com seus pares, na própria escola. Foi gratificante confirmar no presente estudo algumas hipóteses a respeito da produção autônoma e autoral destas professoras. Talvez, muitas e muitos há no Brasil, que em suas salas de aula, todos os dias reinventam utopias fundamentadas na lógica da escola inclusiva de que todos e todas são capazes de aprender.

Penso eu, que as condições estão criadas - embora tenhamos vindo de uma escola que nos exigia apenas um texto por ano, as minhas férias, há um movimento de revisão deste modelo. As professoras que colaboraram com este trabalho, nos ajudam a acreditar que "a mudança é difícil mas é possível" (Freire, 1996) pois de fazedoras de cópia agora são escritoras de textos, isso ficou claramente evidenciado na evolução das escritas, mediante observação na comparação dos relatórios.

Com Renato Russo, celebro este tempo de possibilidade: "Depois de vinte anos na escola, não é difícil aprender. Vamos fazer nosso dever de casa e aí então, vocês vão ver suas crianças derrubando reis, fazer comédia no cinema com as suas leis".

Bibliografia

FREIRE, M. (1992): Cadernos pedagógicos: observação, registro e planejamento. São Paulo, Espaço Pedagógico.
FREIRE, P. (1996): Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo.
HOFFMANN, J. (1988): Avaliação mediadora. Porto Alegre, Educação e Realidade.
WARSCHAUER, C. (1993): A roda e o registro: uma parceria entre professor, alunos e conhecimento. Rio de Janeiro, Paz e Terra.

 

Correo electrónico: shiva.ro@uol.com.br Número 41/2
10-01- 07

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