Revista Iberoamericana de Educación (2024), vol. 96 núm. 1, pp. 49-69 - OEI

https://doi.org/10.35362/rie9616439 - ISSN: 1022-6508 / ISSNe: 1681-5653

recibido / recebido: 02/07/2024; aceptado / aceite: 23/09/2024

Mapeamento da paisagem linguística em Pelotas (Brasil) e sua contribuição para o ensino de variedades do alemão como língua adicional

Cartografía del paisaje lingüístico de Pelotas (Brasil) y su contribución a la enseñanza de las variedades del alemán como lengua adicional

Mapping of the linguistic landscape in Pelotas (Brazil) and its contribution to the teaching of varieties of German as an additional language

 

Lucas Löff Machado 1 https://orcid.org/0000-0002-5070-870 

Evelin Nascimento Lima 1 https://orcid.org/0000-0002-4561-0932 

Barbara de Lima Sobral 1 https://orcid.org/0009-0004-8830-6836

1 Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Brasil

 

Resumo. Este artigo apresenta uma pesquisa em andamento sobre a paisagem linguística no espaço urbano de Pelotas, analisando aspectos sócio-históricos e linguísticos em um corpus de 118 nomes de estabelecimentos coletados entre 2022 e 2024 e discute possíveis competências na formação de profesores e pesquisadores da língua alemã como língua adicional. Apesar das práticas hegemônicas monolíngues, ainda hoje é possível encontrar falantes e a herança cultural de três variedades alemãs de imigração na paisagem linguística: alemão, Iídiche e pomerano. Após a recolha das imagens, os nomes foram classificados de acordo com parâmetros geolinguísticos, semânticos e etimológicos. Os resultados e a discussão mostram 1) concentração dos nomes em áreas centrais e de imigração nas últimas décadas com predomínio de nomes de família de origem pomerana, 2) preponderância de nomes de estabelecimentos motivados por nomes de família e 3) existência de etimologias diversas com expressividade de etimologías ligadas a lugares na própria pomerânia. Com relação ao ensino de língua adicional, a partir do presente projeto podem ser exploradas e aprofundadas competências lexicais, semânticas e discursivas relacionadas à língua alemã e suas variedades.

Palavras-chave: Imigração alemã; Pelotas; paisagem linguística; ensino de línguas;

Resumen: Este artículo presenta una investigación en curso sobre el paisaje lingüístico en el espacio urbano de Pelotas, analizando aspectos sociohistóricos y lingüísticos en un corpus de 118 nombres de establecimientos recogidos entre 2022 y 2024, y analiza posibles competencias en la formación de docentes e investigadores del alemán como lengua adicional. A pesar de las prácticas hegemónicas monolingües, en la actualidad aún es posible encontrar hablantes y la herencia cultural de tres variedades alemanas inmigrantes en el paisaje lingüístico: alemán, yiddish y pomeranio. Tras recoger las imágenes, los nombres se clasificaron según parámetros geolingüísticos, semánticos y etimológicos. Los resultados y el análisis muestran 1) una concentración de nombres en las zonas centrales y de inmigración en las últimas décadas, con un predominio de los apellidos de origen pomerano, 2) una preponderancia de nombres de establecimientos basados en apellidos y 3) la existencia de etimologías diversas, con un número significativo de etimologías vinculadas a lugares de la propia Pomerania. En cuanto a la enseñanza de lenguas adicionales, este proyecto permitirá explorar y profundizar en las competencias léxicas, semánticas y discursivas relacionadas con la lengua alemana y sus variedades.

Palabras clave: inmigración alemana; Pelotas; paisaje lingüístico; enseñanza de idiomas.

Abstract. This article presents ongoing research on the linguistic landscape in the urban space of Pelotas, analyzing socio-historical and linguistic aspects in a corpus of 118 establishment names collected between 2022 and 2024 and discusses possible competencies in the training of teachers and researchers of German as an additional language. Despite monolingual hegemonic practices, it is still possible today to find speakers and the cultural heritage of three German immigration varieties: German, Yiddish and Pomeranian. After collecting the images, the names were classified according to geolinguistic, semantic and etymological parameters. The results and discussion show 1) a concentration of such names in central and immigrant areas in recent decades with a predominance of family names of Pomeranian origin, 2) a preponderance of establishment names motivated by family names and 3) the existence of diverse etymologies with a significant number of etymologies linked to places in Pomerania itself. With regard to the teaching of additional languages, this project will enable lexical, semantic and discursive skills related to the German language and its varieties to be explored and deepened.

Keywords: German immigration; Pelotas; linguistic landscape; language teaching.

1. Introdução

O espaço urbano de Pelotas integra os limites da Serra dos Tapes no Sul do Rio Grande do Sul (Figura 1) e é atravessado em sua paisagem pela diversidade linguística e cultural. O município no extremo sul-brasileiro é formado pela interação de diferentes grupos linguísticos desde o século XIX em duas principais áreas: o sudeste de terras de estancieiros movidos durante até o século XIX pelo braço negro, o noroeste na região propriamente dita das Serra dos Tapes, por descendentes dos mesmos lusitanos, açorianos, africanos e pelo incremento europeu de outros países (Anjos, 1996). A ocupação desse território se deu através da comercialização de lotes de terras a partir de 1850, que originariamente eram habitadas por grupos indígenas como os próprios Tapes. A presença de grupos culturais distintos, cuja existência passou do charque à produção de hortifruti até a industrialização com ondas migratórias do interior para a cidade no último século, manifesta-se, hoje, nos mais variados domínios sociais da cidade. Embora o português seja a língua hegemônica e tenha substituído o alemão em contextos como a religião luterana e nas escolas comunitárias no interior, por conta da política de nacionalização forçada do Estado-Novo (1937-1945), ainda encontram-se famílias, proprietários de lojas ou mesmo trabalhadores em certos espaços, com pertencimento às variedades de cultura alemã, além de outros grupos de origem francesa, italiana, africana e de migração recentes que continuam chegando a Pelotas. Esse “mosaico étnico” (Anjos, 1996; Cerqueira, 2010) atravessou os séculos e pode ser observado, hoje, em nomes de estabelecimentos pelas ruas da cidade.

Figura 1. Mapa da localização do Município de Pelotas na região da Serra dos Tapes.

Fuente: Wassmansdorf (2024, p. 27).

Mais especificamente quanto à língua alemã no Rio Grande do sul, essa pode ser compreendida como um conjunto de variedades (Altenhofen, 2019). Esse conjunto inclui grupos imigrantes bastante distintos linguisticamente entre si, pois de um lado temos o pomerano como variedade do baixo-alemão com características linguísticas mais dialetais do que os grupos hunsriqueano e o próprio iídiche falado pelo grupo judaico. Essas duas últimas são originárias do centro-sul da atual Alemanha e, por conseguinte, linguisticamente mais próximas ao alemão escrito ou padrão (v. cap. 2). A presença de variedades de língua alemã manifesta-se na paisagem sonora (soundscape) e em memórias compartilhadas coletivamente, como indicam nomes de estabelecimentos, mas também marcas e eventos como as festas folclóricas (p. ex. Deutsches Fest de Pelotas), bem como na identificação de espaços e lugares com o elemento teuto, como por exemplo a Igreja Protestante Martim Lutero e parte alemã do Cemitério Ecumênico Municipal, respectivamente conhecidos como Igreja e cemitério “dos alemães” (Bach, 2017).

Partindo da relevância histórica dos diferentes grupos de variedades alemãs e da sua interação na formação da cidade de Pelotas e na existência da própria Universidade Federal de Pelotas (UFPel), procurou-se no presente artigo explorar de modo inicial o potencial do multilinguismo para o ensino de línguas adicionais, mais especificamente na formação de futuros professores de língua alemã como língua adicional. O ponto de partida, portanto, é a pergunta “como e onde se fazem presentes variedades da língua alemã na paisagem linguística da área urbana de Pelotas?” e seu potencial para ações voltadas à interface entre pesquisa e ensino. Neste trabalho, serão apresentados resultados do grupo de pesquisa Normas Linguísticas e Imigração (NOLI)1, como contribuição a ações já realizadas em projetos maiores de pesquisa e conscientização linguística na UFPel2.

Considerando a perspectiva de práticas orais e escritas, entende-se a paisagem linguística como um conjunto de elementos orais e visuais que incluem, por exemplo, língua oral, imagens, objetos e a interação de pessoas com esses elementos (Shohamy & Waksman, 2009 apud Gorter & Cenoz, 2024). Nesse contexto, também pode-se considerar o espaço “online” como parte da arena na qual se insere a paisagem linguística (Gorter & Cenoz, 2024).

A pesquisa com línguas minoritárias de origem alemã na América Latina pode ser um recurso central na formação de professores de línguas adicionais. Como será argumentado a seguir, enquanto pesquisadores em formação e aprendizes de línguas, é necessário compreender não apenas relações de estrutura linguística, mas também relações de poder, valor e comodificação existentes no multilinguismo local, seja entre variedades de mesma base, como por exemplo entre alemão, pomerano e iídiche, seja entre línguas distintas (Gorter & Cenoz, 2024). O foco deste estudo recai sobre os nomes dos lugares, uma dimensão dentre as possíveis na paisagem linguística:

The methodology of linguistic landscape research can be applied in onomastic investigations and, at the same time, the onomastic dimension in linguistic landscape studies can be extended. All in all, the study of linguistic landscapes can lead to new insights into the role of names in the environment. (Gorter & Cenoz, 2024, p. 367)

Ao longo do presente artigo, serão introduzidos aspectos históricos da constituição de variedades alemãs em Pelotas. Em seguida (cap. 2), são descritas as três variedades linguísticas, alemão hunsriqueano, pomerano e iídiche, e sua contribuição para a formação histórica e cultural de Pelotas. O capítulo discute o papel da paisagem linguística como recurso para o ensino de alemão como língua adicional com exemplos de trabalhos relacionados ao baixo- e alto-alemão. Na metodologia (cap. 4), são apresentados os instrumentos de pesquisa, sua aplicação e referencial teórico para análise. No capítulo 5, passamos para a análise e discussão dos dados em três áreas: língua e espaço, língua e semântica e aspectos etimológicos. Por fim, discutem-se os resultados em termos de contribuição para a formação linguística e científica no âmbito do ensino superior e escolar do alemão como língua adicional.

2.Contribuições das variedades alemãs na história de Pelotas

Os três grupos no centro dessa pesquisa não se distinguem somente através de suas territorialidades e trajetórias históricas. Enquanto o alemão ou sua variedade hunsriqueana possui proximidade tipológica em relação à língua padrão alemã – reconhecida inclusive por falantes locais de outros grupos que usam atributos como legítimo –, as variedades do pomerano e iídiche passaram por uma substituição paulatina ao longo dos últimos séculos em seus territórios de origem em momentos que se optou por usar a língua nacional (alemão na Alemanha e hebraico em Israel, respectivamente). Nesse sentido, a diglossia interna entre as próprias variedades do alemão e externa em relação ao português como atual língua-teto indica também uma hierarquia de valores simbólicos até hoje.3

A presença de grupos falantes de variedades alemãs no Município de Pelotas está relacionada a atores sociais diversos durante a imigração. Além de passagens de figuras históricas como Karl von Koseritz, combatente da Revolução inconclusa de 1848 pela unificação da Alemanha, que serviu no exército imperial do Brasil e chegou a ser político e a fundar um jornal em Pelotas, e de um grupo de imigrantes chegados em Rio Grande e estabelecidos em Monte Bonito em 1850 (Cerqueira, 2010), o contingente inicial de imigrantes de fala alemã se estabeleceu a partir de 1858 na Colônia de São Lourenço (Bosenbecker, 2011). Dali, os imigrantes e seus descendentes passaram a ocupar outras regiões, localizadas atualmente nos municípios de Pelotas, Arroio do Padre, Canguçu, Morro Redondo e Turuçu (Limberger et al., 2021). Nessa área, ainda é possível encontrar domínios (p. ex. igreja) e situações como festas, onde a norma local do alemão é utilizada nas mais diversas formas (anúncios, música, conversa, poema, cultos etc.).4

Contudo, o uso das línguas minoritárias também sentiu os impactos de conflitos políticos e culturais durante a imigração. Já em 1918, a Liga de Resistência Nacional, criada em Porto Alegre, possuía uma lista de perseguição com nomes de empresas de descendentes de alemães (Schulze, 2015). Com a melhoria das relações comerciais após a I. Guerra, empresas exportadoras de fumo chegavam a ser preteridas nas exportações à Alemanha por não terem um nome alemão. A aproximação econômica do Brasil aos Estados Unidos em detrimento da relação pujante com a Alemanha até o início da Segunda Guerra Mundial, levou o governo de Getúlio Vargas a tomar medidas que comprovassem sua afiliação política ao lado dos Estados Unidos, de modo que foram proibidas línguas de imigração como alemão, italiano e japonês. Na escola, a língua alemã foi substituída pelo inglês e francês e assim perdurou até mesmo depois da II. Guerra (SR/18/2) (Fachel, 2002).5 Ironicamente, isso significou a preservação de um grupo expressivo de variedades locais, pois elas continuaram a ser faladas em casa (Altenhofen, 1996). Parte considerável das indústrias (curtumes, moinhos, calçadistas, entre outros)6 estavam instaladas nas áreas de imigraçãoalemã até o período do Estado-Novo.

Os imigrantes trouxeram suas variedades locais - pomeranos trouxeram o Düütsch (Blank, 2023), hunsriqueanos Deitsch ou Deutsch (Altenhofen, 2016) e judeus jidisch ou Daitsch (König, 2004), além de diferentes graus de competência no alemão escrito. A paisagem linguística exposta hoje, é, por assim dizer, uma manifestação do conjunto de práticas escritas que os imigrantes mantiveram e que, até a proibição da língua durante o Estado-Novo, envolvia a publicação de jornais, literatura, canções e livros didáticos.

3.Paisagem Linguística como recurso educacional

Embora o uso de variedades alemãs no ensino escolar venha ganhando força, seja através de iniciativas municipais a partir da co-oficilização, por exemplo, do pomerano no Espírito Santo ou de iniciativas pontuais de professores tanto no ensino básico quanto superior, ainda é um campo que carece de maior atenção. O projeto “Pomerano: Língua Viva”, de caráter extensionista na UFPel, leva conhecimentos sobre a língua pomerana a escolas da região da Serra dos Tapes no formato de oficinas de conscientização linguística.

A paisagem linguística, enquanto fenômeno oral e escrito, pode ser uma ferramenta auxiliar nesse contexto de ensino em meio ao multilinguismo (Gorter & Cenoz, 2024; Solmaz & Przymus, 2021). Brinkmann et al. (2022), no âmbito do projeto Local Linguistic Landscapes for Global Education in the School Context, apresentam diretrizes para a introdução da paisagem linguística em diferentes níveis de ensino, sendo duas frentes de trabalho especialmente relevantes para a formação de professores: 1) consciência linguística crítica e 2) transformação da paisagem linguística em materiais pedagógicos (idem, p. 27).

Outros exemplos se destinam ao ensino de língua alemã padrão através da paisagem linguística. Em uma apresentação de poster sobre a abordagem do baixo-alemão nessa temática, Arendt e Stern (2021) justificam o uso da paisagem linguística como ferramenta de ensino no nível básico e superior. Segundo as autoras, sua utilização pode preencher lacunas no ensino de línguas minoritárias e promover o engajamento da comunidade escolar e acadêmica com ambiente autêntico. Em seu trabalho com uma turma de 32 graduandos, matriculados no curso de Plattdeutsch I da Universidade, são analisadas propostas dos estudantes nas habilidades de 1) identificação de elementos do baixo-alemão, 2) reflexão metalinguística e 3) produção linguística.

Como exemplifica Dini (2024), a exemplo da língua alemã, o material coletado no espaço físico pode servir como material de sensibilização em aula. Em sua pesquisa na cidade de Valinhos, São Paulo (Brasil), são analisados 14 imagens de estabelecimentos comerciais no entorno de uma escola fundada por alemães. A autora sugere possibilidades de explorar interface com disciplinas como história (relação entre a escola do estudo e o entorno), geografia (planejamento urbano, moradia) e economia (análise das empresas e sua relação com países de língua alemã), além de discutir clichês a partir da culinária (Dini, 2024, p. 19). Seu trabalho recorre à abordagem Spot German, cujo objetivo é coletar manifestações representativas da língua alemã em um espaço e tempo delimitados. Machado e Radünz (2014) analisam lápides cemiteriais em um acervo de dados do Projeto Atlas Linguístico-Contatual das Minorias Alemãs na Bacia do Prata-Hunsrückisch (ALMA-H) e oferecem sugestões de atividades com tais inscrições para diferentes níveis de proficiência em língua alemã (de iniciante a níveis mais avançados).

Tanto na história da colonização de língua alemã quanto da urbanização, nomeações de lugares passaram também a exercer um papel relevante nas práticas sociais. Os nomes de lugares, também chamados topônimos, estão inseridos geograficamente e são parte das práticas das pessoas que circulam por aquele espaço (Ehrhardt & Marten, 2018). É comum a motivação em nomes de famílias que se estabeleceram nas chamadas picadas ou tornaram-se proprietárias das terras (Löff Machado et al., 2023; Tavares de Barros 2023; Tavares de Barros et al., 2022). Dessa forma, os nomes de pessoas, ou antropônimos, podem tornar-se recursos valiosos no ensino de línguas adicionais. Fernández Juncal (2023) investiga as possibilidades do uso de antropônimos famosos (p.ex. Pablo Ruiz Picasso) no ensino de espanhol e discute como diferentes conhecimentos (transversais) estão associados às escolhas dos nomes à cultura da época e fatores de gênero.

Os nomes, por fim, estão expostos em diferentes materialidades: em cartazes de festas comunitárias, placas, listas telefônicas e inclusive no espaço online das redes sociais. Sua utilização pode subsidiar o trabalho em diferentes níveis. Agentes do ensino podem fomentar a consciência (meta)linguística, atitudes de abertura às línguas, mas também noções linguísticas como formação de palavra (p. ex. compostos no alemão), pronúncia de nomes, origem, motivação ou, ainda, etimologia de palavras. Seus métodos na aula de língua estrangeira podem ser pontuais através de atividades de comparação ou transposição (tradução) de línguas e sentidos, de investigação (“detetive linguístico”) ou ainda amparar projetos de cunho linguístico ou interdisciplinar, que podem dispor de mais encontros na busca por reconhecer uma área da cidade, do bairro do aluno ou ainda da própria escola. A seguir passaremos a descrever a metodologia utilizada na presente pesquisa para, depois, retomar esses aspectos especificamente com relação às variedades de língua alemã.

4.Metodologia

A ampliação de pesquisas sobre línguas minoritárias e o acesso de seus falantes ao nível superior vêm criando bases para a sistematização de procedimentos e métodos que contemplem as particularidades dos grupos (Altenhofen, 2019; Morello e Silveira, 2022) e auxiliam no mapeamento mais sistemático da sua paisagem linguística. A microtoponímia pelotense despertou o interesse do grupo de pesquisa NOLI por seu caráter multimodal e dinâmico. A partir disso, o presente trabalho seguiu uma fundamentação teórica onomástica e sociolinguística, na medida em que predominam os nomes de lugares e suas relações com práticas sociais e linguísticas em áreas historicamente ocupadas por imigrantes e descendentes. O conjunto de dados coletados constituem dados primários que também podem ser correlacionados com outras dimensões extra-linguísticas e dados secundários como as fontes documentais e aspectos geográficos de distribuição desses nomes. Paralelamente, os dados escritos podem ser correlacionados com dados orais que serão coletados em entrevistas semi-estruturadas junto a uma parte dos estabelecimentos fotografados. Nesse sentido, procuramos compreender como e onde a paisagem linguística é influenciada por fatores históricos, geográficos e sociolinguísticos.O corpus foi coletado através de levantamentos empíricos (Seabra, 2022) pelas seguintes etapas:

1.Levantamento bibliográfico: realização de leituras e discussão no grupo de pesquisa sobre a presença de variedades da língua alemã no município de Pelotas;

2.Coletas em acervos públicos (p. ex. relatórios sobre firmas de imigrantes e listas telefônicas existentes na Biblioteca Pública Pelotense ou em acervos privados de descendentes de imigrantes) e conversas com representantes das línguas tanto da comunidade judaica, quanto da comunidade alemã de Pelotas;

3.Coleta de dados iconográficos: ao longo dos dois anos do projeto (2022-2024), foram coletados imagens de lugares na cidade de Pelotas. Procurou-se documentar letreiros ou placas com nomes de base alemã, incluindo também o prédio onde os nomes apareciam fixados;

4.Armazenamento dos dados: o total de 118 imagens coletadas foi armazenado em pastas conforme o nome, onde também podem ser adicionados outros dados acerca do local, como textos e imagens históricas ou, ainda, trabalhos acadêmicos sobre o material;

5.Análise dos dados: durante a construção do corpus de imagens também realizou-se a análise semântico-lexical e extralinguística dos dados. O semântico-lexical se deu com base nos trabalhos e taxonomia de Dick que classificam os fenômenos de nomeação de lugares segundo seu padrão motivador e levando em consideração a realidade brasileira (cf. Dick, 1990; Seabra, 2022). Os dados extra-linguísticos dizem respeito, sobretudo, à localização espacial desses estabelecimentos e suas relações no espaço, dimensão tão cara à sociolinguística e, de forma geral, aos estudos culturais (Ehrhard e Marten, 2018). A seguir são exemplificadas as duas etapas descritas:

5.1 Análise do topônimo (ver exemplos Einstein, Albrecht) em formato de tabela .XLSX, como ilustrado no excerto abaixo:

Quadro 1. Exemplo da análise de dados retirado do corpus de nomes de lugares.

topônimo

Localização

Motivação do nome

Origem imigratória

Significado etimológico

Fontes

Einstein (Centro Empresarial Albert Einstein)

R. 7 de Setembro, 160 - Centro

antropotopônimo

judeu

patronímico de Ein; apelido para Haim; lugar origem

1.Guggenheimer, Guggenheimer, 1996; Kohlheim, Kohlheim, 2005.

Albrecht (Dra. Maria Inez C. Albrecht)

Condomínio Edificio Bainy - R. Mal. Deodoro, 704 - Centro

antropotopônimo

alemão

patronímico de Albrecht [adal ‘nobre’ e beraht ‘brilhante’]

1.Hammes, 2017; DFW; Guggenheimer, Guggenheimer, 1996; Kohlheim, Kohlheim, 2005; Brechenmacher [1957-1960].

Fonte: elaboração própia.

Para a análise da origem das famílias de imigrantes utilizou-se dicionários onomásticos impressos (Bahlow, 1982; Brechenmacher [1957-1960]; Guggenheimer e Guggenheimer, 1996; Kohlheim & Kohlheim, 2005) e digitais (Digitales Familiennamenwörterbuch Deutschlands, 2024)7, bem como pesquisas genealógicas (Hammes, 2014; Hammes, 2017). Quando se tratava de nomes comuns, utilizou-se dicionários comuns (DWDS ‘Dicionário Digital da Língua Alemã’) ou dicionários etimológicos como Pfeifer (1993). É necessário salientar que as indicações de Hammes (2014; 2017) baseiam-se em fontes genealógicas como obras históricas e listas de imigrantes chegados a São Lourenço, berço da colonização na Serra dos Tapes e local de partida para muitas famílias que estabeleceram-se mais tarde em outras regiões da Serra dos Tapes, inclusive em Pelotas. Contudo, recomenda-se cruzar diferentes fontes na busca pelo exame mais acurado da procedência histórica do nome em questão.

5.2 Mapeamento: com base na análise realizada em 5.1 foi possível cartografar os segmentos de base germânica através de um mapa tipo “ponto” (ver figura 2).

5.Análise e resultados

Os dados coletados e armazenados no acervo constituem um recorte da paisagem linguística e da constelação de variedades minoritárias existentes na cidade de Pelotas. A seguir, apresenta-se a análise que foi estruturada em três seções: 5.1) análise geolinguística, 5.2) análise da motivação linguística e 5.3) análise etimológica.

5.1Aspectos geolinguísticos da paisagem linguística

A relação da distribuição dos nomes de lugares com a geografia e a história da imigração pode revelar aspectos muito significativos sobre os grupos de línguas pesquisadas. Conforme constatação na imigração, o montante de nomes de lugares com referência a nomes próprios é majoritário. Uma parcela corresponde a nomes comuns, ou seja, substantivos do léxico de variedades da língua alemã (ver mais abaixo). A tabela 01 apresenta uma síntese das regiões de origem dos nomes encontrados no espaço urbano de Pelotas (Blank, 2023, p. 35).

Tabela 1. Relação quantitativa dos nomes próprios e nomes comuns na área urbana de Pelotas (atualizado em 27.06.24)

Região de origem de famílias por sobrenome

Casos absolutos

Proporção

Número types

Proporção

hunsriqueano (renano)

12

10,2%

10

10,8%

judeu

3

2,5%

3

3,2%

pomerano

51

43,2%

37

39,8%

pomerano e hunsriqueano

4

3,4%

2

2,2%

região não classificada (alemão)

25

21,2%

24

25,8%

outras regiões

15

12,7%

10

10,8%

prenome (Frida)

2

1,7%

1

1,1%

Nomes comuns (Alles Blau, Bier…)

6

5,08%

6

6,45%

Total

118

100%

93

100%

Fonte: elaboração própia.

A análise quantitativa da origem das famílias no ambiente urbano revela uma relação já documentada entre os grupos de pomeranos e hunsriqueanos da região de imigração da Serra dos Tapes como um todo: enquanto a maioria com cerca ⅔ é de origem pomerana, ⅓ das famílias é de origem hunsriqueana (ver Bosenbecker, 2011, sobre a história de assentamento dos dois grupos). Um número restrito de nomes é reconhecido como de famílias judaicas. Além do fato demográfico de não serem tão numerosos quanto os imigrantes alemães-pomeranos, o grupo judaico ocupou postos de trabalho com menor exposição pública. Nomes como Müller e Becker estão classificados como pomerano e hunsriqueano, uma vez que aparecem em ambas as famílias (Hammes, 2017) e apresentam ainda hoje uma difusão bastante ampla na Alemanha (ver Digitales Familiennamenwörterbuch Deutschlands). Cabe salientar os nomes que, segundo a literatura consultada (Hammes, 2017), são oriundos >de outras regiões da Alemanha (Baden, Schlesien [hoje, Polônia], Hesse-Darmstadt, Hamburg, Brandenburg, Berlin) e da Europa (Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Suíça, Áustria). Há ainda casos não classificados por não haver identificação clara da região de origem dos imigrantes. A fig. 02 permite visualizar os topônimos segundo a localização de cada lugar em Pelotas já coletados pela equipe do presente projeto.

Figura 2. Mapeamento dos nomes de estabelecimentos com origem alemã na cidade de Pelotas.

Fonte: elaboração própria.

Os sobrenomes equivalentes aos nomes de imigrantes pomeranos estão distribuídos em bairros historicamente marcados pela inserção de imigrantes e seus descendentes, vindos do interior do município para “a cidade” (como costumam se referir em alemão ou pomerano Stadt ‘cidade’), como são Fragata e Três Vendas. Ao longo da avenida Fernando Osório estabeleceram-se, além da Igreja Luterana de Pelotas (1934) e a Associação Recreativa (1951), hotéis de descendentes de imigrantes que serviam com frequência para a hospedagem de falantes que vinham do interior e ofereciam, até mesmo, cuidados médicos, quando necessário (Quintana, 2019). A segunda área geolinguística apresentada pelo mapa diz respeito ao centro de Pelotas. Nessa área, encontramos a maior quantidade de nomes fotografados e também uma heterogeneidade mais elevada. Contudo, os seis nomes encontrados com motivação em nomes comuns estão concentrados justamente no centro: Alles Blau, Bier, Brülle, Fritz Haus, Haus Kuchen, Katz. Por conta da referência direta ao produto comercializado - com exceção de Alles Blau e Katz - é possível dizer que esses nomes desempenham uma função simbólica, mas também econômica. No centro de Pelotas, é possível identificar territorialidades menores como o entorno do Sindicato de Agricultores, na avenida Marechal Deodoro, onde estão localizados restaurantes, lojas, restaurantes e óticas (p.ex. Brülle < al. Brille ‘óculos’) administrados por descendentes de imigrantes. Nesses espaços, observa-se, sobretudo, a circulação de falantes de pomerano e sabe-se que há preferência em alguns deles por funcionários que possam atender os clientes na língua materna. Historicamente, a avenida Osório, também central, é marcada pela presença de imigrantes judeus (Gill, 2017).

Além das relações históricas entre nome e espaço, é possível analisar semanticamente os nomes de lugares na paisagem linguística, o que torna-se um recurso valioso para o ensino de línguas sensível à história e ao multilinguismo local. Na próxima seção, será discutida a motivação nas nomeações de lugares.

5.2Motivação dos nomes de lugar

Os dados explicitam dois ramos profissionais de maior predominância no corpus analisado: aqueles ligados ao ramo da alimentação (restaurantes e lancherias, mercados e hortifruti), que juntos perfazem 30 estabelecimentos; e aqueles de profissionais liberais de áreas como advocacia, contabilidade e clínica, cuja formação pressupõe nível instrucional mais elevado (técnico ou superior) e demonstra um perfil ainda mais recente de migração. Em linhas gerais, nossa análise identificou uma preferência bastante clara por nomeações antroponímicas: praticamente 95% dos dados são sobrenomes ou prenomes.

A relação entre antroponímicos e nomes comuns pode estar associada à função de identificação dos nomes de família, uma vez que além de identificar o local, também carregam uma conotação de identidade social. Em uma entrevista-piloto com a proprietária de uma loja de tecidos, a mesma contou que nem ela, nem o marido queriam abdicar de seus respectivos sobrenomes na nomeação da loja. A saída encontrada foi o sorteio, nesse caso, em favor do nome do marido. O uso escrito dos sobrenomes é um das poucas manifestações existentes de línguas como o pomerano e o iídiche que foram reprimidas no contexto escrito ao longo dos últimos séculos, embora ambos tenham tido períodos de produção literária escrita expressiva. No Brasil, cabe citar a diminuição paulatina do ensino formal da língua alemã. A opacidade dos (sobre)nomes em geral pode cristalizar uma escrita relativamente próxima à norma padrão que passa a ser menos familiar aos falantes8. O quadro 2 apresenta os tipos de motivações encontrados (Dick, 1990).

Quadro 2. Corpus de nomes de lugares com componentes de base germânica no espaço urbano de Pelotas

Nome ou parte do nome com origem germânica (tipo do local)

Motivações em nomes comuns

dirrematopônimo

Alles Blau (hospedagem)

ergotopônimo

Bier (hospedagem)

Brülle (ótica)

zootopônimo

Katz (cervejaria)

ecotopônimo

Fritz Haus (restaurantes e lancherias)

Haus Kuchen (padaria)

Motivações em nomes próprios (prenomes ou sobrenomes)

topônimo transplantado

Blumenau (tecidos)

Antropotopônimo

Albert Einstein (Prédio comercial)

Griep (restaurantes e lancherias)

Nörnberg (restaurantes e lancherias)

Albrecht (advocacia e contabilidade)

Grimmler (borracharia)

Piltcher (clínicas e consultórios)

Becker (Imobiliária)

Gründmann (hortifrúti)

Pons (peças automotivas)

Bender (Mercado)

Halpern (advocacia e contabilidade)

Pons (vestuário)

Benemann (hortifrúti)

Hammes (fisioterapia)

Pons (vestuário)

Benemann (hortifrúti)

Hammes (advocacia e contabilidade)

Radtke Fuhrmann (mercado)

Bergmann (mercado)

Hardtke (advocacia e contabilidade)

Rass (escola)

Bergmann (embutidos)

Harter (mecânica)

Reinhardt (clínicas e consultórios)

Bierhals (hospedagem)

Holz (tecnologia)

Ritter (museu)

Bierhals (mercado)

Huller (máquinas)

Rittmann (advocacia e contabilidade)

Blank (escola)

Jansen (ferragem)

Rockenbach (mercado)

Bohrer (restaurantes e lancherias)

Jansen (prédio residencial)

Rollof (carpintaria)

Bonow (mercado)

Khautz (farmácia)

Ruth (advocacia e contabilidade)

Bosenbecker (restaurantes e lancherias)

Kirst (ferragem)

Rutz (ferragem)

Bosenbecker (lotérica)

Kohls (mecânica)

Schuch (veterinária)

Brahm (Peças automotivas)

Krebs (desentupidora)

Schulz (tintas)

Brahm (academia)

Krolow (vestuário)

Schulz (tornearia)

Bromberg (mecânica)

Krolow (mercado)

Schulz (ferragem)

Coswig (restaurantes e lancherias)

Krolow (peças automotivas)

Schumann (material de construção)

Dettmann (automóveis)

Krüger (restaurantes e lancherias)

Schwartz (restaurantes e lancherias)

Ehlert (construtora)

Krüger (restaurantes e lancherias)

Stigger (restaurantes e lancherias)

Ehlert (fisioterapia)

Krüger (advocacia e contabilidade)

Stolz (clínicas e consultórios)

Engel (mercado)

Leitzke (tecidos)

Storch (mercado)

Fetter (clínicas e consultórios)

Lerm (restaurantes e lancherias)

Streck (fisioterapia)

Fetter (escola)

Lindemann (mercado)

Tim (borracharia)

Finger (móveis)

Loeff (clínicas e consultórios)

Timm (ferragem)

Fischer (advocacia e contabilidade)

Lüdtke (advocacia e contabilidade)

Treptow (ferragem)

Franck (clínicas e consultórios)

Ludtke (floricultura)

Tuchtenhagen (advocacia e contabilidade)

Frank (móveis e construção)

Ludtke (esquadrias)

Tuchtenhagen (mercado)

Franz (decoração)

Ludwig (restaurantes e lancherias)

Wachholz (vestuário)

Frida (restaurantes e lancherias)

Mainz (decoração)

Wanke (rações)

Frida (restaurantes e lancherias)

Maltzahn (metalúrgica)

Weber (advocacia e contabilidade)

Gerber (restaurantes e lancherias)

Müller (restaurantes e lancherias)

Wendt (ferragem)

Göebel (advocacia e contabilidade)

Müller (farmácia)

Wendt (advocacia e contabilidade)

Goethe (prédio residencial)

Müller (borracharia)

Wenzke (consertos)

Gram (laboratório)

Ness (clínicas e consultórios)

Wiener (clínicas e consultórios)

Griep (ferragem)

Neugebauer (clínicas e consultórios)

Wieth (advocacia e contabilidade)

Fonte: Elaboração própia.

5.2.1Os nomes comuns

Seis locais carregam nomes comuns, classificados da seguinte forma: dirrematopônimo (enunciados ou fraseologismos como Alles Blau que – em formato de pergunta – significa um cumprimento “tudo azul?”, ‘tudo bem?’, cf. Boll, 2018); ergotopônimo (denominação com referência a materiais produzidos pela cultura humana); zootopônimo (denominação segundo animais); ecotopônimos (denominação relacionada à habitação). Em alguns casos, complementos reforçam o componente simbólico, p.ex. em “gastronomia alemã” junto a Fritz Haus (figura 3). A relação da imagem ou do ambiente material pode reforçar aspectos de significado, como é o caso dos quatro estabelecimentos selecionados na figura 3.

Os estabelecimentos comerciais exploram aspectos visuais, como mostram Katz e Pelotas Bier Hostel, os quais lembram, respectivamente, um gato e os símbolos do trigo e do lúpulo. Um exemplar menos explícito, mas ainda assim bastante icônico, é Fritz Haus, cujo traje alemão estereotipado é comumente associado ao nome Fritz em festas típicas, piadas etc. Por fim, uma relação ainda menos explícita é a nomeação da Ótica Brülle (em alemão Brille) que indica uma relação com a língua pomerana. Esses exemplos também revelam desvios em relação à norma padrão (Brülle ao invés de Brille, Katz ao invés de Katze), que podem ser debatidos em sala de aula (“por que os nomes são escritos assim?”). Possivelmente, trata-se de desvios influenciados pela oralidade (apócope do _e e hipercorreção do arredondamento vocal em “ü” e inexistente em diversos dialetos de origem alemã). Assim, pode-se aprofundar a noção de variação linguística sob uma perspectiva crítica e investigativa.

Figura 3. Nomes comuns com presença de referentes visuais da motivação.

Fonte: Arquivo de autores.

5.2.2Os nomes próprios (antropônimos)

A maioria dos nomes de estabelecimentos são advindos de nomes próprios, sobretudo nomes de família. Uma de suas características centrais é a univocidade, ou seja, estão diretamente ligados a uma única referência e são semanticamente opacos, ainda que carreguem, como descrito mais acima, uma função de identificação. A função de identificação dos nomes em comunidades de imigração pode estar associada em menor e maior grau a valores étnicos e sociais, quando os membros da comunidade reconhecem pertencimento a uma base alemã (hunsriqueana), pomerana ou judaica, e associam seus serviços e bens de maneira mais ou menos direta a símbolos (p.ex. gastronomia, modernidade, tradição etc.) ou ao reconhecimento daquela família no âmbito da comunidade (p. ex. “restaurantes alemães”, “festas pomeranos”, “médicos judeus”). Entrevistas orais futuras poderão lançar mais luz acerca das funções dos nomes de estabelecimentos.

5.3Motivação etimológica dos nomes próprios

Os nomes e, em especial, os sobrenomes de origem germânica surgiram em um contexto de aumento populacional e urbanização desde a Idade Média. Os primeiros nomes de família eram de grupos da nobreza e, aos poucos, outros grupos como os cavaleiros e artesãos também receberam nomes. Na época de imigração para o Brasil a partir do séc. XIX, os nomes já estavam consolidados, apesar de ainda bastante concentrados geograficamente, o que contribuiu para que, hoje, após quase 200 anos, eles conservem a forma escrita. A seguir, apresentamos a análise da constituição dos nomes de família presentes no corpus do projeto, por constituírem o grupo de dados mais expressivo e por sua carga sociocultural. Ao longo da análise partiu-se de cinco grupos de motivações etimológicas (König, 2004): profissões, nomes de lugar, características do lugar de origem ou moradia, nomes próprios, características físicas ou relações sociais (entre parênteses descrevemos a motivação).9

Profissões: Bender (tanoeiro), Gerber (curtidor), Krüger (taberneiro), Müller (moleiro), Fuhrmann (transportador de mercadorias), Schulz (funcionário [al. Schultheiß] que recolhia contribuições e entregava ao senhor feudal ou proprietário de uma fazenda [p. ex. em Westfalen]), Schumann (comerciante ou fabricante de sapatos), Weber (tecelão).

Nomes de lugar: Coswig (lugar chamado Coswig em Anhalt, Koßwig em Brandenburg), Krolow (nome de lugar na Pomerânia, atualmente na Polônia), Leitzke (nome de lugar eslavo [Leitzkau]), Mainz (lugar de origem no Palatinado-Renano), Maltzahn (variante de Molzahn, nome de lugar na Pomerânia), Nörnberg (lugar de origem [Nürnberg ou Nörenberg na Pomerânia, hoje Polônia]), Rockenbach (Nome de lugar), Treptow (Nome de lugar da Pomerânia), Tuchtenhagen (Nome de lugar da Pomerânia).

Características do lugar de origem ou moradia: Harter (morador em encosta com vegetação (al. Hardt), também nome de lugar de origem), Holz (mata, bosque e também lugar de origem com o mesmo nome), Stre(e)ck (trecho, pedaço de terra [al. Strich]), Wachhol(t)z (nome de lugar al. Waldiolt ‘bosque, mata úmida’), Wiet(h) (pasto [al. Weide])

Nomes próprios: Albrecht (patronímico de Albrecht [adal ‘nobre’ e beraht ‘brilhante’]), Dettmann (hipocorístico do baixo-alemão a partir de nomes com Diet [pt. povo]), Ehlert (patronímico de Ehlert [agil ‘temor’ ou ekka ‘espada’ ou, ainda adal ‘nobreza’ e herti ‘duro, forte’]), Franz (patronímico da forma curta de Franziskus), Frida (prenome feminino originado do nome Frith [pt. paz]), Göebel (diminutivo de Gob [got + bald ‘destemido’], apelido para Gabriel ou ainda forma curta para Godobert ou Göb(e)), Halpern (derivação de Abraham), Hardtke (diminutivo de Hartwig [al. hard ‘forte, duro’]), Jansen (patronímico de Jans, forma curta para Johannes), Kirst (patronímico de Christ- [Christian, Christianus, Christophorus, Christiana, Christin] ou Kirstan), Loeff (patronímico de Loff ou forma curta de Ludolf), Lüdtke (forma curta para Ludolf ou diminutivo de Lüdt em antigo-saxão ‘povo’), Radtke (nome de origem eslava com sufixo diminutivo -ke [Radoslav e/ou Radomer] ou nomes com rāt [Radloff]), Ludwig (patronímico de Ludwig), Ness (prenome ou apelido para Nachman, rabino conhecido), Pons (patronímico do prenome Pontiaan [latim Poncius]), Rass (prenome em alemão antigo), Reinhardt (derivado de Reinert [al. regin ‘conselho, decisão’, harti ‘duro, forte’]), Roloff (derivado de Rodeloff, Rodolf, Rudolf [Wolf ‘lobo’, Ruhm ‘glória, louvor’]), Ruth (patronímico de uma forma curta para Ruthardt, Rutger), Tim(m) (patronímico a partir do prenome Timm, forma curta de T(h)iedmar, Dietmar [Diot ‘povo’, mari ‘respeitável, famoso’]), Wan(c)ke (forma eslava curta popular para Wenzel), Wenzke (forma carinhosa para o nome eslavo Wenzislaw [al. Wenzel])

Características físicas ou relações sociais: Bierhals (pessoa que gosta de beber muita cerveja [Bier ‘cerveja’, Hals ‘pescoço’]), Blank (pessoa de pele ou cabelos claros), Fetter (familiar do sexo masculino ou a própria figura do primo [al. Vetter], Gram (irado, ressentido), Neugebauer (gebur ‘vizinho’, neu ‘novo’), Wendt (derivado de Went [Slave], pessoa vinda do leste para o oeste, estrangeiro, colonizador ou ainda falante de língua ou com relações eslavas).

Contudo, uma parte significativa dos nomes encontrados possui motivações diversas, encontradas na literatura e indicadas abaixo entre parênteses:

Einstein (patronímico para Ein; apelido para Haim; lugar origem), Becker (profissão padeiro; patronímico ou matronímio de Beck), Benemann (hipocorístico formado pelo sufixo -mann; lugar de origem Benne ‘charco’; apelido para ‘nativo, aquele que mora entre os muros da cidade’), Bergmann (lugar de origem nas montanhas; profissão minerador; patronímico), Bohrer (patronímico de Bohr; derivação de Bohr, forma curta do eslavo Borislav; regiões Bohra, Bohrau, Borau), Brahm (moradia próximo a arbusto espinhoso; forma curta de Abraham), Bromberg (origem em Bromberg; patronímico a partir de Brom); Engel (patronímico ou matronímio de engil, angel [tribo dos anglos]; lugar de moradia), Finger (profissão de ourives; pessoa com anéis ou dedos chamativos; forma derivada do nome Fink), Fischer (profissão pescador; patronímico de Fisch), Fran(c)k (a partir do prenome Frank [antigo-alto-alemão Franko]; lugar de origem; característica de pessoa livre [al. franc]), Goethe (forma curta ou patronímico para nomes com got [p. ex. Gottfried]; no sul da Alemanha: apelido para padrinho [göte]), Griep (variante de Greif, pássaro lendário comum em brasão; homem de qualidades prestigiadas [grimo ‘capacete’, bald ‘corajoso’]), Gründmann (lugar de moradia no vale, lugar de origem, patronímico a partir de Grund), Hammes (residência cercada canto cercado ou cerca para peixes [hame]; patronímio para a forma Hamm), Huller (apelido relacionado a capote, lenço da cabeça; assimilação a partir do sobrenome Hülber), Kautz (apelido segundo aparência física Kauz ‘coruja’; lugar de origem), Kohls (agricultor que produz ou transporta carvão; patronímico de Kohl), Krebs (profissão apanhador de caranguejos; aparência física; nome segundo moradia [zum Krebs]), Lindemann (derivação do sobrenome Linde ‘tília’; moradia próxima a uma tília; povoado, entre outros, na Pomerânia), Piltcher (pode ser variante de Piltch: forma curta de Pilczyk, profissão ou moinho de serrar; Pilcza [aldeia na Galícia, atualmente entre Polônia e Ucrânia], Ritter (profissão cavaleiro ou apelido para alguém que serve ao cavaleiro ou mesmo filho não legítimo desse), Rittmann (na área do baixo-alemão profissão ou status de cavaleiro; na área do alto-alemão moradia ao lado de pântano Ried; moradia em terreno desmatado e povoado; patronímico de Rittmann), Ruth (variação de Ruodo, forma curta de Rudolf ou nomes com hruod ‘louvor, glória’; menos provável por falta de vestígios: metronímio do hebraico Ruth; lugar de origem), Rutz (provável motivação a partir de nome de lugar; forma carinhosa de Roudolf), Schuch (profissão sapateiro; apelido para quem usava sapatos chamativos; apelido tímido, desencorajado), Schwartz (pessoa de cabelos negros; local de origem), Stigger (Stieger: lugar de moradia junto a “escada, caminho de subida inclinado” no Sul e centro da Alemanha; relação profissional com stigen “feixes de 20 unidades” no baixo-alemão; apelido a partir de stigen “levantar-se, subir”; local de origem Stieg), Stolz (apelido para imponente, tolo, arrogante, grandioso; lugar de origem), Storch (apelido para uma pessoa com pernas longas, magras ou modo de caminhar parecido da cegonha, local de moradia “Zum Storch”); Wiener (lugar de origem Viena, patronímico Winher [wini ‘Freund’, heri ‘Heer’]; profissão em sórbio antigo para comerciante de vinhos).

O estudo da etimologia dos nomes permite aprofundar relações entre o ensino das variedades em questão e outros aspectos socioculturais. O corpus de nomes de nomes próprios de épocas antigas que integram o léxico de outras línguas (p.ex. hard ‘duro, forte’ em Hartwig é cognato em outras línguas germânicas). Os nomes originados de outros lugares, por sua vez, indicam relações geográficas com a região de origem dos imigrantes (p. ex. Pomerânia) ou influência até mesmo de línguas eslavas, como em Krolow e Treptow que possuem um sufixo -ow existente no polonês com o significado de lugar (Nübling & Kunze, 2023, p. 624).

6.Discussão e conclusões: da pesquisa para o ensino

No presente trabalho, reunimos os primeiros resultados de uma pesquisa no âmbito da graduação sobre a paisagem linguística na cidade de Pelotas com enfoque nos nomes de estabelecimentos de origem alemã. Como trabalhos anteriores e o próprio desenvolvimento dessa pesquisa demonstraram, a maior incidência é justamente dos nomes motivados por sobrenomes nas variedades da língua alemã pesquisadas. O levantamento revelou até o momento a existência de pelo menos 118 nomes de estabelecimentos com origem em variedades da língua alemã que, por sua vez, indicam 1) concentração dos nomes em espaços historicamente ocupados por grupos de imigração vindos do meio rural para a cidade durante a expansão urbana da cidade de Pelotas, mas também em áreas do centro com presença de negócios de imigrantes já no século XIX (aspectos geolinguísticos); 2) motivação em nomes de família de imigrantes e conotações associadas aos produtos oferecidos como valores simbólicos ou elementos estereotipados (aspectos semânticos); 3) predominância de nomes de família que revelam etimologias associadas a nomes de lugares (sobretudo no caso de origem pomerana), profissões, lugares de residência, características físicas ou sociais (etimológicos). Aspectos da escolha do nome ou mesmo seus significados históricos serão aprofundados em entrevistas futuras do projeto junto a uma amostra de estabelecimentos. Cabe citar algumas das limitações do presente estudo: 1) os dados da paisagem linguística aqui exemplificados representam um recorte limitado da paisagem linguística. Estimamos que exista uma quantidade maior; 2) restrição para fins de vitalidade da língua a um grupo social específico de estabelecimentos comerciais, e 3) restrição da análise ao nível escrito.

A partir dessa pesquisa, ainda em andamento, o grupo de estudantes do projeto busca transferir os resultados para o ambiente do ensino. O leque atividades projetadas ou em elaboração abrange níveis e competências linguísticas exemplificadas no quadro 3.

O quadro 3 leva em consideração a paisagem linguística do contexto das línguas minoritárias do alemão em Pelotas. As competências sugeridas, portanto, exploram diferentes níveis da língua que podem ser trabalhados a partir de nomes de lugares. As atividades possíveis vão de tarefas de curta (“detetive linguístico”) ou média duração (Spot German) até projetos de ensino no contexto escolar ou acadêmico. A título de exemplo, estão em curso a elaboração pelo grupo de pesquisa de uma exposição na UFPel sobre as variedades de língua alemã em Pelotas, intitulada “Imigração e língua alemã na Serra dos Tapes”, e a preparação de uma caminhada com outros estudantes de alemão denominada “Caminhos da língua alemã em Pelotas”, que inclui em seu roteiro paradas para esclarecer nomes de estabelecimentos e rememorar episódios relevantes da história da imigração e das variedades linguísticas na cidade.

Quadro 3. Exemplos de competências linguísticas evidenciadas pela pesquisa com nomes de lugares na paisagem linguística

Nível linguístico

Competências linguísticas

Léxico e nomes próprios

Recuperação da etimologia dos nomes (Fetter > Vetter ‘forma arcaica para al. Cousin ‘primo’)

Formação de palavras (“Haus Kuchen”)

Relação entre ortografia e variação linguística (al. Weide = po. ou baixo-alemão Wieth ‘pasto’)

Intercompreensão entre línguas germânicas (Becker = en. baker ‘padeiro’, po. Brülle = al. Brille ‘óculos’)

Semântica

Motivação dos nomes de lugares (entre outros, nomes próprios, animais, alimentos)

Conotações e símbolos em nomes de lugares (tradicional, moderno etc.)

Discurso

Análise do multilinguismo

Identificação de elementos multimodais (imagem, cor, tipografia)

Letramento crítico sobre língua, história e cultura

Nota: al.(alemão), en. (inglês), po. (pomerano).

Fonte: elaboração própia.

Cabe ao professor, finalmente, identificar com base nos interesses e necessidades de seu grupo de ensino, qual será o papel da paisagem linguística enquanto ferramenta no ensino de língua-alvo. A própria atuação com a pesquisa e suas etapas metodológicas podem ser aplicados em diferentes níveis de ensino e aprofundados em pesquisas de pós-graduação. Em suma, a paisagem linguística evidencia-se como tema e ferramenta de pesquisa que pode ser explorada na formação inicial e continuada de professores de línguas adicionais e, para além disso, na intensificação e consolidação de práticas de ensino críticas e plurilíngues.

7. Agradecimentos

Agradecemos, de modo especial, a Jaime Roberto Bendjouya e Rachel Halpern, membros da comunidade judaica, pela disponibilidade em colaborar com a pesquisa com informações e materiais de leitura e à Carlos Wiener Nogueira, pela disponibilização das guias telefônicas históricas de 1956 e 1929, as quais puderam ser utilizadas na verificação de sobrenomes e contêm dados visuais sobre os estabelecimentos comerciais.

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    1 Entendemos como “norma linguística” uma língua ou variedade, ou ainda conjunto de comportamentos linguísticos, falados ou escritos, de uso esperado em determinado contexto social. Normas linguísticas podem ser explícitas ou implícitas. Elas podem coincidir com a norma padrão (explícita) ou com normas locais ou cultas (implícitas) (Gloy, 2004).

    2 Atlas Linguístico-Contatual das Minorias de Imigração Alemã na Serra dos Tapes: Pomerano e Hunsrückisch (ALMA-PH) coordenado pelos pesquisadores Luciane Leipnitz, Lucas Löff Machado e Bernardo Kolling Limberger. No campo extensionista, o projeto Pomerano: Língua Viva, coordenado por Bernardo Kolling Limberger, vêm realizando ações de conscientização linguística como visita a escolas, postagens sobre a língua e concursos de poemas e textos em pomerano.

    3 A língua pomerana e alemã - apesar de estruturalmente bastante distintas - possuem aspectos convergentes em nível linguístico, como mostra o léxico (Beilke, 2013).

    4 Algumas festas estampam em seu título e nas divulgações o uso da língua: Festa Kerb, Kolonisten Fest, Deutsches Fest, Südoktoberfest, Kartoffelfest. Há também festividades como a Festcap, em Canguçu ou a festa do Caqui e da Maçã, em Arroio do Padre, onde há, entre outros, leitura por alunos e utilização de elementos culturais como as roupas e a própria culinária.

    5Um dos relatos de um dos responsáveis pela repressão étnica, Aurélio Py, cita que na escola Carlos Alfredo Wiest de Morro Reuter, as crianças não pronunciaram nada além de Brasil, brasileiro e Getúlio Vargas a quaisquer perguntas que as fizessem (Fachel, 2002).

    6 Cervearia Ritter, Cortume a vapor Sieburger, Cortume Hadler, Fábrica de Carros Schröder.

    7 Em seu Website, o Digitales Familiennamenwörterbuch permite a busca por sobrenomes e apresenta um mapa de difusão do sobrenome na Alemanha com base em um banco de listas telefônicas e disponibiliza informações etimológicas a partir de obras onomásticas (acesso em 26/06/2024).

    8Um exemplo é o sobrenome Bergmann (Berg ‘morro’ e mann ‘homem’), pronunciado como em alemão-padrão enquanto morro em pomerano é pronunciado barg (bax) (Tressmann, 2006, p. 38).

    9 Os seguintes sobrenomes não foram encontrados na literatura consultada: Bonow, Bosenbecker, Lerm, Wanke.

Cómo citar en APA:

Löff Machado, L., Nascimento Lima, E., & Sobral, B. de L. (2024). Mapeamento da paisagem linguística em Pelotas (Brasil) e sua contribuição para o ensino de variedades do alemão como língua adicional. Revista Iberoamericana de Educación, 96(1), 49-69. https://doi.org/10.35362/rie9616439