Introdução
As pessoas são diferentes, como diferentes são as
suas culturas. As pessoas vivem de modos diferentes e as civilizações
também diferem. As pessoas falam em várias línguas.(...)
Mas, apesar dessas diferenças, todas as pessoas têm
em comum um atributo simples: são seres humanos, nada mais,
nada menos (Shirin Ebadi apud ONU, 2004, p. 23).
A inclusão de alunos com necessidades educativas especiais,
no Brasil, tem assumido uma posição importante nos
debates educacionais. Contudo, apesar dos avanços recentes
em termos de legislação e diretrizes pró-inclusão,
as experiências nessa direção ainda são
pouco disseminadas. Dentre os muitos fatores que obstaculizam a
concretização da inclusão escolar, diversos
autores têm destacado a ausência, nos cursos de formação
de professores, de conteúdos específicos sobre o processo
de ensino e aprendizagem das pessoas com necessidades especiais
(Bueno, 2001; Glat & Nogueira, 2003; Glat, Ferreira, Oliveira
& Senna, 2003; Glat & Pletsch, 2004; Pletsch & Fontes,
2006).
Este texto propõe uma breve reflexão sobre o ensino
itinerante como suporte para a inclusão de alunos com necessidades
educacionais especiais em rede regular de ensino. Temos por base
uma pesquisa etnográfica que acompanhou o trabalho de duas
professoras itinerantes que atuavam em três escolas da rede
pública de educação da cidade do Rio de Janeiro,
Brasil1 .
O professor itinerante, de acordo com as orientações
do Instituto Helena Antipoff (IHA) 2
, tem o objetivo de “prestar assessoria às escolas
regulares que possuem alunos com necessidades especiais incluídos
(...), [tendo] como atribuição a produção
de materiais pedagógicos necessários ao trabalho com
estes alunos” (SME/IHA/RJ, 1999). O professor itinerante também
presta atendimento educacional domiciliar para alunos com necessidades
especiais impedidos de freqüentar a escola por razões
físicas ou de saúde. Contudo, este texto levará
em consideração apenas o trabalho realizado pelo professor
itinerante nas escolas.
Podemos dizer que o ensino itinerante — composto, preferencialmente,
por um professor especialista em Educação Especial
— parece representar uma proposta educativa viável
como suporte para a educação inclusiva, principalmente
em grandes centros urbanos, como é o caso da cidade do Rio
de Janeiro, onde não há disponibilidade, em todas
as escolas públicas, de professores especialistas para o
atendimento de alunos com diferentes tipos de necessidades especiais.
O texto está organizado em quatro partes. A primeira trata
da pesquisa etnográfica e sua aplicabilidade em pesquisas
educacionais, bem como dos procedimentos adotados para a coleta
e análise dos dados. A segunda parte discute o ingresso de
professores ao ensino itinerante e a capacitação recebida
por esse professor. Ainda, sinalizamos a importância do trabalho
em equipe como ferramenta pedagógica favorável para
o processo de inclusão. A terceira parte discute a prática,
as vivências e as impressões das professoras itinerantes,
as dificuldades encontradas no dia-a-dia do seu trabalho e as relações
estabelecidas nas escolas que têm alunos com necessidades
especiais incluídos. A quarta parte discute o papel desempenhado
pelo professor itinerante nas escolas regulares frente à
inclusão escolar. Ao final, apresentamos as conclusões
gerais da pesquisa e apontamos algumas perspectivas a respeito dos
limites e das potencialidades do ensino itinerante.
1. A etnografia e sua aplicabilidade em pesquisas educacionais
A escolha pela etnografia neste estudo justifica-se pelo objetivo
de entender as relações estabelecidas entre os sujeitos
participantes e os significados de suas ações. Tal
método comporta o uso de técnicas diferenciadas, como
a observação participante, a realização
de entrevistas, análise de documentos e filmagem em áudio
(microanálise). É também conhecida
como pesquisa social, pesquisa interpretativa ou pesquisa analítica,
sendo que a sua maior preocupação é a prática
descritiva, densa e interpretativa das ações e relações
dos atores sociais pertencentes ao grupo investigado (Geertz, 1989,
apud Alves, 2003). Outra característica importante
da pesquisa etnográfica é o contato direto do pesquisador
com a situação investigada, o que permite descrever
as relações e processos configuradores da experiência
cotidiana dos agentes envolvidos no contexto.
Este último aspecto merece destaque, pois o fato da pesquisa
etnográfica ter na pessoa do investigador o principal instrumento
de coleta direta de dados — que traz consigo toda uma história
de vida permeada por crenças e valores — torna-a complexa.
No entanto, como adverte André (1995), o pesquisador deve
estar ciente de que suas vivências e pontos de vista afetam
a construção do objeto de pesquisa. Por isso mesmo,
deve alimentar certos procedimentos para que sua capacidade de análise
não saia prejudicada, como a permanente crítica de
seus próprios pressupostos, a flexibilidade e a sensibilidade.
É importante observar que a pesquisa etnográfica
não segue padrões rígidos ou pré-determinados,
modificando-se no decorrer do trabalho de campo, de acordo com a
percepção do pesquisador (Mattos, 2001). Novos questionamentos
e temáticas podem aparecer e ser incluídas, a partir
das observações desenvolvidas in loco. Esta
abertura, por sua vez, proporciona condições para
uma prática de pesquisa mais reflexiva, entendida aqui como
“o modificar do caminho e criação de um movimento
próprio aos dados e como eles refletem as nossas questões”
(Mattos, 2001, p. 56).
É a partir desses pressupostos que se pode compreender a
aplicabilidade do método etnográfico na pesquisa educacional.
Os atos de aprender e ensinar estão diretamente relacionados
com o local, o momento histórico e a cultura em que o sujeito
está inserido. Por isso, as pesquisas envolvendo educação
são complexas, não podendo ser submetidas ou reduzidas
a formas simplificadas de análise (Triviños, 1987;
André, 1995). Ou seja, não há enfoque metodológico
ou modelo teórico que dê conta, por si só, de
desvendar ou explicar a educação na sua totalidade.
Nesse sentido, Mattos (2001) adverte que em pesquisas educacionais
sobre o cotidiano escolar, deve-se levar em consideração
a subjetividade e as singularidades individuais sempre de maneira
relacional, isto é, a partir da sua interação
com uma coletividade, uma cultura, um dado contexto social.
Sob esta perspectiva, a etnografia é um instrumento de grande
aplicabilidade para a realização de estudos focados
em grupos socialmente excluídos ou estigmatizados, e vem
contribuindo de maneira significativa para a validação
cientifica de práticas e estratégias que resultam
na desmitificação de preconceitos em relação
a sujeitos marginalizados, como é o caso de pessoas com necessidades
educacionais especiais (Santos, 1998; Melo, 2003; Pletsch, 2005).
Além disso, ao proporcionar uma compreensão mais refinada
da realidade “local” em relação ao contexto
mais abrangente, permite apontar caminhos para possíveis
intervenções.
Seguindo as características da pesquisa etnográfica
já apresentados anteriormente, foram utilizados nesta investigação,
os seguintes procedimentos como instrumentos de coleta de dados:
1) observação participante (notas de campo); 2) microanálise
do contexto (gravação em vídeo); 3) análise
de documentos (legislação, relatórios dos participantes,
atas escolares e também fichas de alunos, quando necessário);
4) entrevistas com os sujeitos participantes (gravação
em áudio). O método de interpretação
dos dados aqui utilizado seguiu a proposição de Bardin
(1977) conhecida como “análise de conteúdo”.
2. Ensino itinerante: requisitos de entrada e linhas de formação
A entrada de um professor no ensino itinerante independe da sua
formação inicial, exigindo-se apenas que ele tenha
sido aprovado em concurso público e faça parte do
quadro do magistério do município. Após a pesquisa,
concluímos que, na prática, mais importante do que
a formação profissional, o futuro professor itinerante
é avaliado pelo seu interesse e sua “sensibilidade”
para lidar com pessoas com necessidades especiais. Em outras palavras,
trata-se de um processo de seleção marcadamente subjetivo.
Todos os professores itinerantes são capacitados em serviço.
Como estratégia de formação são utilizados
seminários, reuniões, oficinas e cursos, além
de acompanhamentos pela equipe de supervisores da Educação
Especial do IHA (Magalhães, 1999). Todavia, a pesquisa de
campo mostrou que não se pode afirmar que a capacitação
oferecida aos professores itinerantes seja suficiente para lhes
permitir lidar com as especificidades desse alunado.
Cabe observar que as diretrizes nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica apontam que o professor
itinerante deve ser um “especialista”. Contudo, o referido
documento não esclarece se a capacitação deve
se dar antes da entrada na itinerância ou em serviço
(Brasil, MEC/SEESP, 2001).
O debate sobre a formação específica tem gerado
polêmica. Alguns rejeitam a sua necessidade, argumentando
que todos os professores deveriam saber trabalhar com as especificidades
de cada aluno, uma vez que a inclusão escolar figura como
uma diretriz da política educacional nacional (Mantoan, 2005).
Entretanto, a idéia de que a referida inclusão possa
prescindir da Educação Especial é equivocada,
ao menos por duas razões. Em primeiro lugar, para que todos
os professores fossem habilitados a trabalhar também com
alunos com necessidades especiais, seria preciso reestruturar todo
o sistema atual de formação de professores, o que,
a curto e médio prazos, é impossível. Em segundo
lugar, o que a experiência inclusionista nacional e internacional
vem mostrando é que o desenvolvimento da Educação
Especial — seja como campo de conhecimento, seja como área
de atuação aplicada — é necessário
para a implementação da inclusão escolar (Glat
& Pletsch, 2004; Glat, Fontes, Pletsch, 2006). Por tais razões,
para levar adiante a proposta de inclusão educacional, a
capacitação em serviço de professores itinerantes
parece ser uma importante ferramenta. Advertimos, no entanto, que
a mesma precisa ser contínua (e não episódica),
inclusive para quem já é especialista.
Outro aspecto que chamou atenção nos depoimentos
das professoras itinerantes é a importância atribuída
ao trabalho em equipe, não apenas para a inclusão
de alunos com necessidades especiais, mas também para a prática
pedagógica como um todo. Ampliando essa percepção,
podemos afirmar que esse trabalho constitui uma oportunidade para
os professores do ensino regular — enquanto agentes principais
da inclusão — construírem novas possibilidades
e estratégias de atuação, reflexão e
experimentação, principalmente por não terem
recebido em sua formação inicial conhecimentos sobre
as especificidades de crianças com necessidades educacionais
especiais.
3. Relações, práticas e dificuldades
vivenciadas pelas professoras itinerantes
A pesquisa evidenciou que o trabalho das professoras itinerantes
é diversificado, exigindo ações e atitudes
diferenciadas em cada escola e, mesmo, em cada turma. Dentre as
inúmeras dificuldades foram destacadas: a) a insuficiência
de professores deslocados para a itinerância, muito aquém
da demanda; b) o grande número de escolas em que cada professor
atua e o curto período em que cada um permanece nas escolas;
c) a variedade de necessidades especiais com as qual cada itinerante
trabalha; d) o acesso físico ainda inadequado que muitas
escolas oferecem aos alunos incluídos, o que força
as professoras itinerantes a terem de, junto com as questões
propriamente pedagógicas, dar conta também de questões
relacionadas à acessibilidade física.
Outro limite vivenciado pelas professoras itinerantes é
a resistência —em maior ou menor grau, explícita
ou implicitamente — por parte dos professores regulares e
de outros agentes escolares à inclusão de alunos com
necessidades especiais nas classes regulares. Tal resistência
revela, sobretudo, a dificuldade dos professores regulares para
modificarem a sua prática pedagógica, a fim de contemplar
a diversidade do alunado.
Mesmo assim, observamos que as relações estabelecidas
entre as professoras itinerantes e o conjunto de agentes escolares
— coordenadores pedagógicos, diretores, funcionários
da escola e, principalmente, professores regentes das classes onde
a itinerante atua — favorecem a inclusão de alunos
com necessidades especiais e melhoram o trabalho com os demais alunos.
Em outras palavras, o suporte oferecido pelo ensino itinerante tem
trazido uma maior “segurança” aos professores
regulares, no que tange à sua atuação com alunos
incluídos, apesar de, em geral, eles não terem conhecimentos
específicos a respeito das peculiaridades apresentadas por
essas crianças.
Merece destaque o trabalho das professoras itinerantes com as famílias
dos alunos especiais. Na percepção das mães
entrevistadas, tal trabalho figura como condição indispensável
para a inclusão escolar.
4. O ensino itinerante como um suporte necessário à
inclusão educacional
O ensino itinerante é uma modalidade recente de ensino e
ainda está pouquíssimo estudada no Brasil. Por isso
mesmo, toda discussão a seu respeito tem, necessariamente,
um caráter preliminar e exploratório. Isto posto,
que limites a atuação desses profissionais tem enfrentado
e quais possibilidades e potencialidades podem ser vislumbradas?
Que perspectivas e aspirações esses professores têm
em relação ao futuro de seu trabalho e à sua
contribuição para o processo de educação
inclusiva?
A pesquisa de campo mostrou que o papel do professor itinerante
não é só trabalhar com o aluno especial incluído
na turma regular, pois, na prática, sua ação
requer a elaboração de planos de aula, conteúdos
e programas de ensino adaptados. Ou seja, trata-se de um trabalho
que precisa se debruçar sobre as dimensões mais comuns
e gerais da vida escolar, o que requer certa “sensibilidade”
para lidar com os professores regulares e os demais alunos.
Por outro lado, o professor itinerante freqüentemente discute
com a comunidade extra-escolar, esclarecendo e orientando os familiares
de alunos especiais e “não especiais”, sobretudo
quando participam de reuniões de pais. Tais ocasiões
constituem uma oportunidade ímpar para se desmontar preconceitos
e estigmas historicamente reproduzidos em relação
às pessoas com necessidades especiais.
Os depoimentos coligidos pela pesquisa fazem constante referência
ao papel que o professor itinerante pode desempenhar na construção
de uma nova postura de todos os agentes escolares e extra-escolares
em favor da inclusão educacional de pessoas com deficiência.
Em outras palavras, a pesquisa mostrou que os professores itinerantes
podem sim atuar como agentes de transformação
escolar, na medida em que o seu trabalho fomenta, em graus
variados, uma mobilização coletiva pró-inclusão.
Este aspecto aponta para um dos princípios fundamentais da
educação inclusiva, qual seja, favorecer mudanças
nas práticas escolares, que vão desde o projeto político
pedagógico, o currículo, a metodologia de ensino,
a avaliação, até a mudança de atitudes
e ações que favoreçam práticas heterogêneas.
Isto está delineado, inclusive, em âmbito normativo
(Brasil/MEC/SEESP, 2001).
A pesquisa observou que, apesar das dificuldades, o trabalho dos
professores itinerantes contemplava as necessidades sentidas por
professores e demais profissionais escolares por duas razões:
primeira, porque atuava como suporte de orientação
e assessoria aos professores regulares e, quando necessário,
trabalhava diretamente com o aluno; segunda, porque promovia uma
certa capacitação dos professores regulares, entendida
aqui como sensibilização e orientação
para a atuação com alunos em classe regular de ensino.
Podemos afirmar, então, que o professor itinerante desenvolve
múltiplas funções na escola, orientando e auxiliando
professores regulares, intervindo junto aos alunos e esclarecendo
a todos, na escola (professores de maneira geral, diretores, coordenadores
e demais profissionais que atuam na instituição),
sobre o processo de inclusão.
Igualmente importante é o trabalho extra-escolar desempenhado
pelos professores itinerantes. Ao mostrar às famílias
as capacidades e necessidades do filho incluído, esses profissionais
estão ajudando a fortalecer a confiança dos pais em
relação ao desempenho e às possibilidades de
desenvolvimento do filho especial.
A multiplicidade de funções desenvolvidas pelos professores
itinerantes que observamos se coaduna com os resultados da pesquisa
de Pelosi (2000), que utilizou um questionário detalhado
(survey) para caracterizar as ações pedagógicas
de professores itinerantes junto a alunos com deficiência
física da rede pública municipal do Rio de Janeiro.
Participaram da pesquisa 21 professores itinerantes, lotados em
nove das dez Coordenadorias Regionais de Educação
(CREs) do município. Os resultados foram examinados por meio
da análise de conteúdo e indicaram que os itinerantes
desenvolvem várias atividades no cotidiano da escola inclusiva.
Por exemplo: a) orientam e auxiliam a professora de turma; b) promovem
a adaptação do material escolar e confeccionam materiais
adaptados; c) fazem atendimento individual ao aluno; d) confeccionam
e utilizam recursos de comunicação alternativa, como
pranchas, máquina elétrica, computadores, etc (no
caso de o aluno ser deficiente físico); e) orientam as famílias;
f) encaminham o aluno para avaliações e atendimentos
diversos; g) trabalham com toda a escola a questão da inclusão
do aluno com deficiência; h) fomentam a necessidade de se
realizar adaptações no prédio escolar e no
mobiliário; i) organizam grupos de estudo; j) participam
de atividades de lazer (passeios da escola); l) orientam o aluno
em casa no uso do computador (Pelosi, 2000, p. 74).
Do exposto, podemos afirmar que a atuação do professor
itinerante tem sido importante para introduzir, fomentar e construir
práticas inovadoras nas escolas, as quais têm contribuído
para desvelar mitos e preconceitos — arraigados dentro e fora
do ambiente escolar — em relação às pessoas
com necessidades especiais.
5. Considerações finais
Em poucas palavras, procuramos sustentar a hipótese de que
a ação do professor itinerante contribui para a inclusão
educacional de pessoas com necessidades especiais, à medida
que “tenciona”, no interior do espaço escolar,
determinadas concepções e práticas estabelecidas.
Verificamos que o trabalho itinerante desempenha diversas funções
nas escolas, não se restringindo apenas às tarefas
que lhe cabem formalmente, como o atendimento a alunos especiais
em classe regular e o suporte aos seus professores. Na prática,
as professoras itinerantes que participaram desta pesquisa atuam
como agentes de mediação, sensibilização
e mobilização pró-inclusão
junto a todos os membros — diretores, coordenadores pedagógicos,
professores regulares e demais funcionários — responsáveis
pela condução cotidiana da vida escolar. Seu trabalho,
portanto, não se limita à questão pedagógica
stricto sensu, ao envolver, também, a esfera da
cultura e dos valores constitutivos das relações intra-escolares
e da escola com a comunidade entorno. Transformar a proposta de
educação inclusiva numa tarefa de todos os membros
que dão vida às relações escolares acaba
sendo um dos principais papéis que o ensino itinerante pode
realizar.
Isto revela que a inclusão escolar depende, sobremaneira,
do esforço dos profissionais da área de Educação
Especial. À luz da experiência do ensino itinerante,
fica clara a relação de complementariedade entre o
saber específico do ramo de Educação Especial
e a implementação da inclusão escolar.
Em relação aos avanços, ainda existem limites
a serem superados para que as potencialidades do trabalho itinerante
ganhem maior expressão. Além dos obstáculos
citados, é visível a pouca prioridade dada pelas agências
governamentais ao ensino itinerante. Desafortunadamente, esta situação
não foge à regra de como tem sido tratado o ensino
público no Brasil, sobretudo o de nível básico.
Por outro lado, ressaltamos que não adianta “incluir”
os alunos especiais em classes regulares sem que haja um trabalho
para informar ou mudar concepções preconceituosas
a respeito do que seja educação inclusiva, já
que a maioria dos professores regulares entrevistados não
se sente preparada para receber alunos com necessidades especiais.
Isto reforça, a nosso ver, a necessidade imperiosa de investimentos
no ensino itinerante, não apenas como instrumento de suporte
e capacitação aos professores regulares, mas também
como agente de “internalização” da política
de inclusão de pessoas com necessidades especiais nas escolas.
Para finalizar, ressaltamos que a proposta de inclusão escolar
não pode ser tratada como se estivesse desvinculada da luta
pela melhoria e transformação da educação
pública como um todo. Isto porque as diferentes formas de
deterioração da qualidade do ensino público
no Brasil — em curso a pelo menos duas décadas —
conformam o grande contexto em que a proposta inclusiva vem ocorrendo
na prática. Assim, “incluir” pessoas com necessidades
especiais num sistema submetido a forte precarização
pode significar mais uma forma de negar-lhes esse direito fundamental.
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Notas
Maior rede municipal de educação da América
Latina, totalizando 1054 escolas em dezembro de 2005, com mais
de setecentos mil alunos matriculados. A administração
desse universo escolar é descentralizado em dez Coordenadorias
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por todo município.
Órgão da Secretaria Municipal de Educação
do Rio de Janeiro responsável pelas ações
desenvolvidas na área de Educação Especial.
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