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Educando em tempos difíceis: algumas proposições na perspectiva da Educação em Direitos Humanos.
Prof. MS. João Beauclair
Coordenador do Centro de Ensino Superior da Fundação Aprender, Varginha, Minas Gerais

Educar em tempos difíceis requer militância, engajamento, amorosidade. Pressupõe manter viva a chama da utopia, necessária para a construção de um outro mundo possível. Exige formação permanente, respeito às diferenças, coragem para enfrentar a banalização e naturalização da violência e da guerra. Educar em tempos difíceis necessita, fundamentalmente, de reconhecermos, todos e todas, a importância da Educação em Direitos Humanos.Importância porque nos seus pressupostos, encontramos valores positivos e minha proposta é de que trabalhemos constantemente tais valores, reforçando-os.

Ao pensar uma proposta pedagógica de Educação em Direitos Humanos, é preciso compreender que a ‘’ vida cotidiana, constituída como espaço de criação, recriação e construção diária das relações pessoais e do saber é considerada uma referência permanente da ação educativa’’. Sime aponta-nos três aspectos fundamentais para se pensar (e agir) dentro de uma proposta que assim queira se configurar. Um dos aspectos é o de que esta pedagogia “deve ser uma pedagogia de indignação e que diga não a resignação. Não queremos formar seres insensíveis, e sim capazes de indignar-se, de escandalizar-se diante de todas as formas de violência, de humilhação. A atividade educativa deve ser um espaço onde expressamos e compartilhamos a indignação através dos sentimentos de rebeldia contra o que está acontecendo”.

Educar em tempos difíceis, então, requer termos uma postura ética, uma perspectiva de atuação participativa, nos posicionando de modo crítico diante as mazelas do mundo, impostas pelo sistema capitalista constituído. Educar em tempos difíceis requer fazermos dos espaços pedagógicos, onde possuímos inserção, um lócus de busca, de procura, onde defendamos que a prática educativa é uma especificidade humana e esta prática exige-se uma ética universal do ser humano, pois como nos diz Freire (1997) “Não podemos nos assumir como sujeitos de procura, da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos”. E esta postura pode, apesar dos muitos limites que temos presentes no cotidiano escolar, nos dar subsídios à nossa atuação com indignação e não-resignação.

Tenho vivenciado, enquanto educador em Direitos Humanos, ricas experiências pedagógicas bastante significativas, - tanto na educação básica quanto no ensino superior, em cursos de graduação e pós-graduação -, que me mostram como podemos fazer deste espaçotempo escola, sala-de-aula, um momento de indignação e não-resignação. Neste vivenciar, tenho proposto um trabalho que busca a dialogicidade, visando a construção de um outro fazer onde a educação seja autêntica e uma “educação autêntica, repitamos, não se faz de ‘A’ para ‘B’ ou de ‘A’ sobre ‘B’, mas sim de ‘A’ com ‘B’ mediatizados pelo mundo”.

Desta forma me comprometo em fazer valer um segundo aspecto destacado por Sime: com meus/minhas muitos/as alunos/as, procuro criar, cotidianamente, uma pedagogia da admiração. De acordo com este autor, esta pedagogia deve ser um perene “convite a criar espaços para partilhar a alegria de viver. Alegremo-nos porque vamos descobrindo que existem pequenos germes de um cotidiano novo, porque nos admiramos ao ver como mudamos e ao ver como os demais mudaram ou querem mudar. A admiração estimula a gozar tudo o que, desde nossa realidade imediata, contribua para a vitória da vida”.

Candau (1999), reforça esta idéia ao nos dizer que em “nossos dia-a-dia, muita vezes não notamos as inúmeras formas, pessoais e coletivas, de busca da sobrevivência, preservação e promoção da vida. Por pequenas que sejam, revelam a capacidade de resistência, enorme criatividade e vontade de viver e buscar vias para promover condições dignas de vida”. Este então é um dos muitos desafios para educar em tempos difíceis: o resgate do prazer de educar, encontrando sentido na prática pedagógica cotidiana, inserida numa constante busca de novos significados, inclusive éticos.

Entre nós, em sua Pedagogia da autonomia, Freire destaca que um dos saberes necessários à prática educativa requer estética e ética. O terceiro ponto que Sime destaca vincula-se ao afirmar uma pedagogia que tenha fortes convicções e que no seu acontecer esteja presente à dimensão ética do ato educativo, tendo a vida valor fundamental. Ao propor uma nova sociedade, o autor em questão nos diz: “A convicção do valor fundamental da vida é a coluna vertebral do nosso projeto de sociedade, de homem e de mulher novos. Nossa opção pela vida é o que unifica nossa personalidade individual e nossa identidade coletiva. Mas também existem outros valores que propomos como convicções, que dão consistência ética à mística da vida: solidariedade, justiça, esperança, liberdade, capacidade crítica”.

Tais valores devem ser inseridos/debatidos/construídos no cotidiano escolar, mas é preciso destacar aqui que simplesmente introduzir alguns conhecimentos no currículo reduz os processos de Educação em Direitos Humanos. Apesar de ser um primeiro passo, esta ação não basta porque se precisa ir além disso: é necessário conceber esta educação com articulação com as distintas dimensões do ver, do saber, do celebrar-se, do comprometer-se com os valores humanos universais, ligados aos quatros pilares da educação propostos pela UNESCO: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros, aprender a ser.

A dimensão do ver deve ser trabalhada permanentemente, englobando a perspectiva da sensibilização e da conscientização do real, procurando, de modo progressivo, ampliar o olhar sobre o cotidiano e, assim, desvelar a própria estrutura social, compreendendo-a. Nesta dimensão faz-se necessário, ainda, procurar a articulação progressiva do local com o global, percebendo o contexto brasileiro, latino-americano e mundial dentro de uma perspectiva multicultural.

O saber, outra dimensão a ser levada em consideração nos processo de Educação em Direitos Humanos, está articulado com o ver. Na minha compreensão sobre esta questão, considero ser preciso reforçar que o saber sobre os Direitos Humanos é essencialmente construído a partir da prática cotidiana, onde ambos – prática pedagógica e direitos humanos- devem estar relacionados reciprocamente, possibilitando aprofundamentos e progressões de reflexões e conhecimentos, buscando nos campos da Filosofia, da Política, da Sociologia, da História e das Ciências Jurídicas, novos pontos de interlocução que podem contribuir às temática presentes na Educação em Direitos Humanos.

Para muitos autores vinculados aos estudos dos processos de Educação em Direitos Humanos, está deve ser uma prática que deve produzir, no seu decorrer, emoção, alegria, prazer, à medida que se vai redescobrindo o valor da vida humana, compreendendo suas perspectivas e potencialidades criativas de crescimento. Daí surgir à dimensão da celebração, onde o “acolher a vida, protegê-la de tantas ameaças, denunciar suas violações, afirmar e multiplicar as experiências de promoção de plenitude de vida provoca felicidade e se torna uma paixão. A dimensão afetiva é um componente imprescindível na educação em Direitos Humanos”.

Na minha prática pedagógica, essa dimensão ganha lugar de destaque nas aulas, apresentações de seminários, criação de oficinas pedagógicas, onde se busca, através da música, danças, rodas de leituras, teatro e de jograis, debates e seminários criativos, além de exposições de trabalhos de artes plásticas, valorizar a vida e fazer a interpenetração das dimensões citadas, visto que procuro fazer destas ações momentos de valorização do fazer pedagógico.

De acordo com Pérez Aguirre, o recurso menos utilizado nos sistemas educacionais é a liberdade e meu desafio constante, enquanto educador é procurar desenvolver atividades que possibilitem o exercício da liberdade de expressão, conforme o artigo 19, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que nos diz que “todos têm direitos à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de expressar suas opiniões sem ser incomodado e de receber e divulgar informações e idéias por quaisquer meios de expressão, sem restrições de fronteiras”.

Na minha concepção do ato educativo é fundamental fazer valer este direito humano, mesmo que tenhamos presentes, de modo tão arraigado nas instituições escolares, praticas que não favoreçam esta possibilidade. Educar em tempos difíceis me estimula a provocar, todas e todas, para que façamos, a desconstrução do sistema educativo vigente, que acaba por ser “gerador de angústia, promotor do medo e da submissão com um grande desprezo pelo ser humano e sua dignidade. Desprezo do educador pelo educando, e vice-versa, desprezo pelo crescimento dos indivíduos envolvidos no processo educativo, desprezo pela verdade e pela criatividade, desprezo pelo próprio conhecimento. Dessa maneira, o desafio é aprender a pensar com liberdade, reconhecendo o outro como interlocutor e as outras verdades como legítimas. Nada nos autoriza, a não ser o despotismo, a desprezar a quem pensa diferente de nós. A diferença é um elemento que fortalece e enriquece uma sociedade e um povo. Por isso não é possível uma educação emancipatória sem a liberdade”.

No que diz respeito a esta educação emancipatória, o educar em tempos difíceis nos estimula ao estudar permanentemente. Mas é preciso destacar que, quando estudamos as diferentes teorias educacionais sem fazer uma articulação coerente, seja em qualquer nível de formação de professores, o que ocorre é que elas não são discutidas, refletidas e incorporadas, resultando na impossibilidade da ação docente ser exercida com a consciência do posicionamento que perpassa essa ação. Ou seja, a ação está fundamentada, sabe o educador responder uma questão essencial: o porquê de "ensinar" de uma maneira e não de outra?

É sabido que em um curso de formação de educadores, ou até mesmo de educação continuada ou permanente, deve-se propiciar a possibilidade de um confronto, onde as diferentes abordagens do processo ensino-aprendizagem sejam conhecidas e repensadas, buscando visualizar os pontos de interseção que tal confronto pode criar. Para educar em tempos difíceis, é necessário criar oportunidades para que o educador possa analisar o seu fazer pedagógico, objetivando a busca da consciência de sua ação e, assim, poder não somente ter capacidade de criar mecanismos de contextualização e interpretação, mas também buscar a superação dos limites e entraves que existem em sua própria prática. Parto desta convicção para exercer minha função de educador.

É importante que todos/as nós, educadores/as, possamos ter uma síntese adequada das diferentes abordagens do processo de ensino-aprendizagem, com os diferentes enfoques e características gerais que acompanham estas abordagens (modelo de homem, sociedade e cultura, educação, escola, metodologia, avaliação). Assim, talvez seja possível ter um outro ponto de partida, capaz de criar mecanismos mais amplos de percepção e reflexão sobre a realidade. Essa exigência é, a meu ver, indispensável para o educar em tempos difíceis como o nosso tempo, que nos exige a construção de novos paradigmas para um outro viver possível, onde possam estar, juntos, Cidadania e Direitos Humanos plenamente dignificados.

Bibliografia:

BEAUCLAIR, João. Educação por projetos: desafio ao educador no novo milênio. Publicado no site www.chpesquisa.com.br., em Maio/2001.

___________,____. Educação para a Paz: um estilo de ‘aprenderensinar’ e ‘ensinaraprender’ na perspectiva da Educação em Direitos Humanos como possível suporte psicopedagógico. Comunicação apresentada na mesa redonda “Estilos de Ensinar e Aprender”, da II Jornada Regional de Psicopedagogia, promovida pela ABPp- Associação Brasileira de Psicopedagogia e organizada pelo Núcleo Sul Mineiro de Psicopedagogia, na cidade de Poços de Caldas, em 23/06/2001. Publicado no site www.aprender-ai.com.br .

___________,____.Direitos Humanos na Prática Pedagógica: perspectivas, limites e possibilidades . Dissertação de Mestrado em Educação, defendida em fevereiro de 2002 no Programa de Pós-graduação da UNIVERSO- Universidade Salgado de Oliveira, campus São Gonçalo, RJ

.____________, ____. A prática de ‘ensinagem’ no desenvolvimento de projetos educativos: potencialidades e condições básicas. Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIVERSA. III Jornada Cientifica da UNIVERSO / II Encontro Anual de Iniciação Científica. Universidade Salgado de Oliveira. Campus São Gonçalo, RJ, 2001. Publicado no site www.aprender-ai.com.br.

(1) Con la autorización del autor. Pulbicado previamente en Psicopedagogía On Line: http://www.psicopedagogia.com.br

 

  Número 36/4
10- 07 - 05

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