| EDUCCÇÃO AMBIENTAL E/OU EDUCAÇÃO 
              PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Uma análise centrada 
              na realidade portuguesa1 Mário Freitas *  SINTESE: O texto destaca que a ea em Portugal 
              tem una rica história, que começou a ser explorada 
              em 1975: projectos escolares, dinamização das populações, 
              publicações e vontade política para questões 
              de ambiente, entre outros indicadores. Una avaliação 
              detalhada dos projectos de ea implementados em Portugal ao longo 
              de mais de trinta anos é completada com a análisis 
              de questionários. O texto destaca que uma análise 
              da situação actual e perspectivas futuras da Educação 
              Ambiental (ea), não pode deixar de considerar três 
              aspectos essenciais, estreitamente inter-relacionados: a) as mais 
              valias e as deficiências que, até este momento, a têm 
              caracterizado; b) as exigências colocadas pela profunda crise 
              que abala o nosso mundo; e, c) o debate acerca da emergência 
              da Educação para o Desenvolvimento Sustentável 
              (eds) e das eventuais inter-relações entre estas duas 
              perspectivas educativas.   SÍNTESIS: En el texto se destaca que la 
              ea en Portugal tiene una rica historia, que comenzó a ser 
              explorada en 1975: Proyectos escolares, dinamización de las 
              poblaciones, publicaciones, y voluntad política para cuestiones 
              del ambiente, entre otros indicadores. Una evaluación detallada 
              de los proyectos de la ea desarrollados en Portugal a lo largo de 
              más de treinta años, se completa con un análisis 
              de cuestionarios. El artículo señala, además, 
              la situación actual y las perspectivas futuras de la Educación 
              Ambiental (ea), en donde no pueden dejar de considerarse tres aspectos 
              esenciales, bastante interrelacionados: a) el beneficio y las deficiencias, 
              que, hasta este momento, le caracterizan; b) las exigencias consideradas 
              por la profunda crisis que debilita nuestro mundo; y, c) el debate 
              acerca de la emergencia de la Educación para el Desarrollo 
              Sostenible (eds) y de las eventuales interrelaciones entre estas 
              dos perspectivas educativas.  1. EA, um olhar centrado na realidade portuguesa  Analisaremos as mais valias e deficiência da ea, a partir 
              de um olhar centrado na realidade portuguesa. A ea tem, em Portugal, 
              uma já rica história (Teixeira, 2003), que começou 
              quando Portugal ainda estava debaixo de um regime ditatorial. Tendo 
              em conta que «a politica pública de ambiente também 
              se avalia pela existência, entre outros indicadores, de um 
              ministério» (Teixeira, 2003, p. 37), 
              é pois de assinalar a criação, logo após 
              25 de Abril, de um primeiro Ministério centrado nas questões 
              do Ambiente2, que, a partir de certo momento, passa 
              a contar com uma Secretaria de Estado do Ambiente, que tutela uma 
              Comissão Nacional de Ambiente. Contudo, segundo 
              João Evangelista3, a ea só se institucionaliza 
              em Portugal em 1975 (com a dinamização do Serviço 
              Nacional de Participação das Populações). 
              Em 1987 é aprovada a Lei de Bases do Ambiente, e criado o 
              inamb4 (com responsabilidades 
              na formação e informação dos cidadãos 
              em questões de ambiente), que lança a primeira publicação 
              periódica sobre ea. Só em 1989, contudo, sob tutela 
              da Secretaria de Estado do Ambiente e Recursos Naturais (Ministério 
              do Planeamento e da Administração do Território), 
              é que o inamb vê a sua Lei Orgânica aprovada. 
              A partir dos anos 90 Portugal passa a contar com um ministério 
              autónomo para questões do ambiente, o Ministério 
              do Ambiente e dos Recursos Naturais. Institucionalizase a organização 
              dos Encontros Nacionais de Educação Ambiental. Em 
              1993 o inamb é substituído pelo ipamb5, 
              que, a partir de 1996, assume um assinalável dinamismo. Projectos 
              escolares de ea passam a ser alvo de uma política coordenada 
              de apoio e financiamento (quadro I). É manifestada a vontade 
              de elaborar uma Estratégia Nacional de ea, que, contudo, 
              por falta de vontade politica e/ou alteração de responsáveis, 
              nunca chegou a ser elaborada6. QUADRO IProjectos escolares de EA implementados em Portugal (1997/2000) 
              e apoiados pelo IPAMB
 
               
                |  | 1997 | 1998/9 | 1999/00 |   
                | Numeros de proyectos | 219 | 242 | 240 |   
                | Escolas/professores/alunos/entidades | 748/... | 959/1214 | 678/1221 |   
                | Financiamiento total em euros | 465.000 | 310.000 | 350.000 |  A partir de 1997 assistese à publicação 
              dos Cadernos de Educação Ambiental, iniciase a realização 
              das Mostras de Projectos Escolares de ea, e entra em funcionamento 
              uma Rede de Professores Coordenadores de Projectos de ea e de uma 
              Rede Nacional de Ecotecas. Em 1998 é nomeado pela Secretaria 
              de Estado do Ambiente um grupo de trabalho para elaboração 
              da Estratégia Nacional de EA7, que, contudo, 
              mais uma vez, apesar do trabalho substantivo produzido, e por via 
              de flutuações políticas pouco claras, acabou 
              por não ver a luz do dia. Com a extinção do 
              ipamb (em 2000) diluiuse, total e inexplicavelmente, o apoio directo 
              do Estado Português à ea.  Uma avaliação detalhada dos projectos de ea implementados 
              em Portugal ao longo de mais de trinta anos de ea (ou mesmo somente 
              centrada nos últimos 10 a 15 anos), exigiria um longo e laborioso 
              trabalho de investigação, para o qual ainda não 
              nos foi possível encontrar recursos humanos e materiais. 
              Contudo, um estudo parcelar que orientámos (Machado, 2003), 
              complementado por dados empíricos emergentes de estudos em 
              curso, permitemnos identificar e interpretar algumas tendências 
              gerais.  O estudo atrás referido (Machado, 2003) 
              envolveu uma amostra de 62 projectos, aleatoriamente seleccionada 
              de uma população de 605 projectos escolares de ea, 
              realizados em Portugal entre 1996 e 1998, e financiados pelo ipamb. 
              A investigação baseouse na análise dos formulários 
              de candidatura e dos relatórios finais dos projectos (aos 
              quais foi aplicada uma exaustiva grelha de verificação8), 
              que foi triangulada com a análise dos resultados das respostas 
              a um questionário aplicado aos coordenadores dos projectos 
              (32 respondentes dos 63 convidados). No tratamento dos dados recorreuse 
              ao rácio dos produtos cruzados (odds ratio) associada 
              à taxa de incidência (relative risk), complementada 
              pela utilização do teste Phi para medição 
              da associação entre parâmetros9. 
              Das variadas conclusões que foi possível retirar deste 
              estudo, destacamos: a) as motivações dos projectos 
              «são intrínsecas aos coordenadores», embora 
              mais de 25% procure ponderar «motivações, interesses 
              e necessidades do conjunto dos intervenientes» (p. 231); b) 
              o enquadramento conceptual dos projectos «centrouse fundamentalmente 
              na mudança de comportamentos (assumindo, no entanto, em pouco 
              mais de metade dos projectos, um enquadramento dos problemas [...] 
              numa lógica de desenvolvimento sustentável)» 
              (p. v), não se verificando, contudo, «uma desejável 
              articulação destas duas dimensões» (p. 
              231); c) «o envolvimento dos alunos na concepção 
              e desenvolvimento dos projectos assume diversas fragilidades» 
              (p. v); d) os objectivos estão formulados «fundamentalmente 
              em função dos processos [...], que no entanto não 
              se relacionam como o objecto para que são concebidos [...] 
              com as formulações de produtos [...], de conteúdos, 
              associados à mobilização de conhecimentos para 
              a solução do problema» (p. 233); e) a intenção 
              de utilizar uma metodologia de trabalho de projecto «é 
              muitas vezes claramente explicitada, mas a sua execução 
              é deficiente» (p. v); f) verificase, em muitos casos, 
              quer o recurso a «actividades de carácter prático 
              e manual (sem associação clara à conceptualização 
              dos problemas...), quer o «refúgio em actividades de 
              visita a locais de interesse...» (p. 233); g) na globalização 
              dominam os métodos passivos (56%) – elaboração 
              de desdobráveis e brochuras (45%), a preparação 
              de uma exposição (25%) –, se bem que 44% recorra 
              a actividades de carácter mais activo (nomeadamente sessões 
              de animação e intervenção); h) na divulgação 
              53% recorre a associações de formas de alguma forma 
              activas (sessões de animação e intervenção 
              nomeadamente), enquanto 47% recorre a associações 
              diversas de formas passivas, como um qualquer tipo de publicação 
              (82%)10, emissões de rádio (29%), 
              exposições e cartazes (65%); i) no que se refere à 
              avaliação, só 16% dos projectos «expressam 
              [...] métodos e técnicas a utilizar» (p. 234).  Num estudo em curso, baseado na análise 
              dos resumos referentes a 691,11 projectos, 
              apresentados nas três Mostras de Projectos Escolares de Educação 
              Ambiental (realizadas em 1998, 1999 e 2000), não nos foi 
              possível ainda identificar um só projecto que: a) 
              incluísse actividades de projecção do futuro 
              (análise reflectida de futuros desejados); b) estivesse organizado 
              numa clara lógica de complexidade, explorando consistentemente 
              inter-relações entre aspectos ambientais relativos 
              ao meio ambiente natural e aspectos sócio-económicos 
              com eles relacionados; c) abordasse problemáticas como a 
              guerra e o militarismo, as questões de género, a pobreza, 
              ou mesmo as inter-relações ambiente-saúde, 
              numa lógica de complexidade. A referência à 
              reflexão sobre valores, à promoção do 
              pensamento crítico, sistemático e complexo e ao estabelecimento 
              de parcerias para o futuro, é inexistente ou muito rara e 
              incipiente.  Deste breve quadro empírico ressaltam com clareza algumas 
              das principais mais valias e deficiências da ea em Portugal 
              (e, estamos em crer, em muitos outros locais do mundo). Apesar dos 
              importantes contributos que deu, a ea tem manifestado muitas vezes 
              uma certa indefinição epistemológico-ética 
              e conceptual (ou, pelo menos, uma incapacidade para assumir as teorizações 
              mais críticas), associada a deficiências metodológicas. 
              Assim, a ea acabou por assumir, em muitos casos, dimensões 
              de reducionistas, comportamentalistas, ritualizadas e, em consequência, 
              características endoutrinantes (Brügger, 2004), típicas 
              do pensamento dominante que pretende criticar. Por outro lado, a 
              necessidade de trabalhar aspectos relevantes relacionados com a 
              conservação da natureza, a gestão dos recursos 
              e resíduos, os problemas do ordenamento, ou, mesmo, as questões 
              de conservação do património histórico-cultural, 
              acabam dificultando outro tipo de intervenções centradas 
              na interligação de domínios, na inter-dependência 
              das partes, no todo complexo de que fazemos parte. Sendo potencialmente 
              tudo (mas não tendo conseguido resgatar a vocação 
              global de perspectiva educativa critica), a ea acabou se assumir 
              como uma dimensão educativa que trata principalmente de aspectos 
              parcelares da relação do homem com o meio, e se centra 
              na sensibilização e na aquisição de 
              comportamentos «ambientalmente» mais responsáveis.  2. Emergência e evolução da eds  A idéia de eds começou a ser explorada quando o 
              Desenvolvimento Sustentável (ds) foi assumido como meta global 
              na Assembléia Geral das Nações Unidas de 1987 
              (Hopkins, e McKeown, 2002). O conceito de eds foi maturando entre 
              1987 e 1992, e tomou forma mais precisa no capítulo 36 da 
              Agenda 21, aprovada na Cimeira da Terra (Rio de Janeiro, 1992), 
              sob a designação «educação para 
              o ambiente e o desenvolvimento». Tratase do «nascimento» 
              formal da eds, na «barriga de aluguel» da ea (Freitas, 
              2005a), que pode ser considerado como o momento crucial do confronto 
              que hoje vivemos entre as designações Desenvolvimento 
              Sustentável e Educação para o Desenvolvimento 
              Sustentável (consagradas na Cimeira do Rio através 
              da Agenda 21), e as designações Educação 
              Ambiental e Sociedades Sustentáveis 
              (consagradas no Fórum Internacional de ONG12, 
              através do «Tratado sobre educação ambiental 
              para uma sociedade sustentável e para a responsabilização 
              global»). Tratase, segundo Caride, e Meira (2004), da «projecção 
              prática no terreno educativo» das tendências 
              ambientalista e ecologista (p. 74), sendo de assinalar 
              que – e essa é uma das contradições linguísticas 
              que noutro momento já referimos (Freitas, 2005a) – 
              é a tendência ecologista quem parece defender o termo 
              educação ambiental, sendo a tendência 
              ambientalista conotada com a defesa do termo educação 
              para o desenvolvimento sustentável.  Evoluindo, depois de 1992, em sede de diversas reuniões 
              e meetings internacionais, a eds foi mantendo com a ea 
              relações operacionais de natureza basicamente complementar 
              (se bem que, muitas vezes, envoltas de polémica, quanto a 
              áreas de abrangência mútua, bondade de cada 
              uma das designações, intencionalidade das propostas 
              de cada uma das perspectivas, etc). Na Conferência de Tessalónica 
              (1997), e, depois, na Cimeira de Joanesburgo (2002), é realçada 
              a importância da eds na construção do ds. As 
              Nações Unidas proclamam a Década das nu para 
              a eds (2005-2014), a unesco é designada agência responsável 
              pela sua implementação, e são produzidos documentos 
              estratégicos (no contexto mundial, europeu, geo-regional 
              e nacional). Na generalidade dos documentos citados, a ea é 
              contextualizada ora como componente fundamental, ora como fonte 
              de inspiração referencial da eds.  3. Relações EDS/EA  A maioria dos especialistas inquiridos no âmbito do ESDebate 
              (Hesselink, e outros, 2000) parece «encarar a eds como um 
              novo estado evolutivo ou uma nova geração de ea» 
              (Hesselink, e outros, 2000, p. 21). Há, contudo, outras opiniões. 
              Caride, e Meira (2004), por exemplo, argumentam que «a Educação 
              Ambiental para o Desenvolvimento Humano Sustentado, ou como se queira 
              denominar, arrastada pela sedução destes conceitos, 
              poderá derivar numa perigosa indefinição...» 
              (p. 197), e realçam o perigo de que «debaixo de um 
              discurso aparentemente comprometido com a mudança social 
              [...] se pode estar salvaguardando a mesma orientação 
              de desenvolvimento, da cultura e da política económica 
              que tem gerado os problemas sócio-ecológicos existentes» 
              (p. 198). Defendendo que «os enquadramentos que propiciam 
              o saber e o saber fazer educativo-ambiental não poderão 
              restringirse apenas a suscitar atitudes nas pessoas para um desenvolvimento 
              sustentável» (p. 278), parecem encaminharse mais no 
              sentido de considerar a eds como uma parte da ea (Freitas, no prelo 
              b). McKeown, e Hopkins (2002), por seu turno, defendem que a eds 
              e a ea «têm similaridades», mas são abordagens 
              «distintas, ainda que complementares», e que é 
              importante que «a ea e a eds mantenham agendas, prioridades 
              e desenvolvimentos programáticos diferentes» (p. 127).  4. Do confronto das interpretações à 
              possibilidade da sua superação  Tanto a ea como o debate das questões de ambiente e desenvolvimento, 
              encontramse marcados, desde início, pelo confronto entre 
              diferentes entendimentos dos conceitos de «ambiente», 
              «ambiental» e «desenvolvimento». Como já 
              se assinalou, Caride, e Meira (2004), reportandose aos trabalhos 
              preparatórios da Conferência de Estocolmo (1972), distinguem 
              entre: a) uma perspectiva conservacionista e reducionista (defendida 
              principalmente pelos «países desenvolvidos»), 
              que, de acordo com outros autores, designam por tendência 
              «ambientalista»; b) uma perspectiva alternativa, mais 
              integradora (defendida em grande parte dos «países 
              em vias de desenvolvimento»), que designam por tendência 
              «ecologista». É, no âmbito deste confronto 
              que os citados autores inscrevem a discussão acerca dos conceitos 
              de «desenvolvimento sustentável» e de «desenvolvimento 
              humano sustentável», e defendem que se devem interpretar 
              as «concepções e práticas que se promovem 
              para contrapor a educação ambiental à educação 
              ecológica», ou, mais recentemente, o «deslocar 
              o conceito de educação ambiental pelo de educação 
              para o desenvolvimento sustentável (eds)» (p. 90). 
              Pela nossa parte, num outro momento (Freitas, 1996) defendemos ser 
              possível identificar, no domínio das inter-relações 
              ambiente/desenvolvimento, três perspectivas principais: a) 
              uma tendência «naturalista idealista» (típica 
              de certos grupos e sectores ecologistas); b) uma «tendência 
              tecnológico-instrumental» (característica de 
              certos sectores tecnocráticos e de largos sectores do poder 
              económico e politico); c) uma tendência «realista 
              critica» (defendida pelos mais destacados especialistas de 
              ea). Em qualquer caso, não nos podemos esquecer que nos encontramos 
              envolvidos num complexo «bailado» de elaborações 
              teóricas (e respectivas repercussões práticas) 
              em torno dos termos ambiente/ambiental, ecologia/ecológico, 
              desenvolvimento económico/desenvolvimento humano, 
              desenvolvimento sustentável e educação 
              para o desenvolvimento sustentável.  Na figura 1 encontrase, esquematicamente representado, como é 
              que a nossa análise em três tendências se interliga 
              com a análise em duas tendências. A mesma figura ilustra, 
              ainda, a idéia de que, entre duas posições 
              mais extremas, se pode considerar a existência de um certo 
              continuum de posicionamentos, e como é que uma postura 
              crítica reflexiva pode abrir caminho à superação 
              de dicotomias (aparentemente irreconciliáveis).  Mais do que tomar simplesmente partido por uma designação 
              em detrimento de outra, importa travar uma luta pelo significado 
              desses termos e dos conceitos a que eles designam. O problema das 
              significações (e dos diferentes mundos que elas geram) 
              é mais um problema de essência humana que um problema 
              deste ou daquele tipo de abordagem educativa.  Vivemos em linguagem, de tal forma que «o observador vê 
              que as descrições podem ser feitas tratando outras 
              descrições como se fossem objectos ou elementos do 
              domínio das interacções» (Maturana, e 
              Varela, p. 181). A linguagem, ou melhor, «o operar recursivo 
              em linguagem», é a «condição sine 
              qua non para experiência que associamos ao mental» 
              (Maturana, e Varela, 1990, p. 199). Aquilo que experimentamos «como 
              consciência e como a nossa mente, é, pois, uma nova 
              dimensão de coerência operacional» (p. 200), 
              e há uma indivisibilidade «entre o que fazemos e a 
              nossa experiência do mundo com suas regularidades», 
              pelo que «fazer é conhecer», e «conhecer 
              é fazer» (Maturana, e Varela, 1990, p. 20). Assim, 
              qualquer acto de conhecimento está intimamente ligado a um 
              ou mais actos do nosso operar recursivo em linguagem, pelo qual 
              tratamos as descrições de objectos como se de objectos 
              se tratasse. O fenómeno de conhecer «não pode 
              ser encarado como se houvesse “factos” ou objectos lá 
              fora que cada um capta e mete na cabeça» (Maturana, 
              e Varela, 1990, p. 21), já que a clausura operacional 
              do sistema nervoso determina a não possibilidade de criação 
              de uma qualquer representação interna objectiva da 
              realidade exterior, mas, antes, a capacidade de «fazer emergir 
              um mundo» e de «criar o seu próprio mundo de 
              significações» (Varela, 1989, p. 217). Como 
              observadores, envolvemonos sistemática e recorrentemente 
              em actos de conhecimento, e «todo o acto de conhecimento faz 
              surgir um mundo» (Maturana, e Varela, 1990, pp. 31-32). Vemos, 
              tacteamos e cheiramos não só com os órgãos 
              dos sentidos, mas com o todo o corpo. A mente está incorporada 
              e as emoções e sentimentos são tão cognitivas 
              como os raciocínios (Maturana, e Varela, 1990; Edelman, 1995; 
              Damásio, 1995). Não há outra maneira de proceder 
              nas sociedades humanas senão aceitar a subjectividade e potenciar 
              o valor educativo da ambiguidade e da partilha de significados. FIGURA 1Conflito de tendências e possibilidades de superação
 
  O conhecimento humano é «sempre vivido numa dada 
              tradição cultural» (p. 206). As descrições 
              dominantes produzidas no âmbito da ciência/saber (cultura 
              dominante) do Norte-Ocidente, criaram e continuam «criando 
              um mundo» de futuro fechado; maioritariamente regulado pelo 
              mercado; que tem como fim o crescimento económico contínuo, 
              que supostamente melhora a vida de todos, não evitando que 
              haja (como sempre houve, dirseá) pobres e ricos, bons e maus, 
              bem e mal sucedidos; onde a ciência e a tecnologia são 
              sacralizadas e veneradas como geradoras de um sempre maior domínio 
              da natureza, etc., etc. Reconhecendo uma parte da crise em que estamos 
              mergulhados e o falhanço de certas formas de acção 
              passada, alguns pensam que esta forma dominante de «criar 
              um mundo» deve ser simplesmente remodelada, de uma forma que 
              julgam poder apelidar de «sustentável», e que 
              preferem definir como sendo a que assegura as necessidades de hoje, 
              garantindo, simultaneamente, as necessidades futuras (sem contudo 
              definir que necessidades são essas).  Mas, por via de descrições alternativas à 
              dominante, é possível «criar outros mundos» 
              de futuro aberto; não guiados (pelo menos exclusivamente) 
              pelas leis de mercado; onde não há necessariamente 
              pobres e ricos; e onde uma ciência/saber reflexivo e uma tecnologia 
              não arrogante (pós-modernos) são capazes de 
              se repensar internamente e de conviver harmoniosamente com outras 
              formas de saber, de fazer e de sentir. Produzir uma tripla ruptura 
              e reunificação epistemológica, é, pois, 
              uma condição básica para novos actos de conhecimento 
              do mundo e consequentes «construções de novos 
              mundos» (figura 2).  FIGURA 2Tripla ruptura e tripla unificação epistemológico-ética 
              (adaptado de M. Freitas, 2005)
 
  O debate entre «desenvolvimento sustentável» 
              e «sociedades sustentáveis», e/ou «educação 
              para o desenvolvimento sustentável» e «educação 
              ambiental», não é, necessariamente, o debate 
              entre a hegemónica «norte-ocidental» (colonial 
              e pós-colonial) forma de ver o mundo e uma visão do 
              mundo crítica, transformadora e emancipatória. Debaixo 
              de cada um dos termos encontramse tendências apoiadas não 
              só numa ou outra das perspectivas extremas a que se aludiu, 
              mas também numa infinidade de cambiantes e recombinantes. 
              Um mundo complexo, vivendo uma crise complexa, não pode ser 
              reduzido à defesa da bondade de uma designação 
              que se reclama (mas não é totalmente) representativa 
              de uma visão de mundo, contra outra designação 
              que se julga ser (mas não é totalmente) representativa 
              de outra visão de mundo.  É verdade que há, por parte de sectores neoliberais, 
              uma clara tentativa de instrumentalização dos termos 
              «sustentável» e «desenvolvimento sustentável». 
              Por outro lado, políticos, empresários, jornalistas, 
              gestores e cidadãos comuns, integraram os citados termos 
              na linguagem diária, e utilizamnos, ora de forma instrumental 
              e avulso, ora no contexto de crenças mais profundas, para 
              legitimar de um discurso, uma proposta, uma alternativa. Contudo, 
              há igualmente que reconhecer que existem outros entendimentos 
              para os referidos termos, e que o abandono da luta pela significação 
              destas poderosas designações «fetiche» 
              do nosso tempo servirá, em última instância, 
              para que elas permaneçam associadas à lógica 
              de pensamento dominante que gerou a crise, ou se banalizem perdendo 
              força e significado.  Convirá, ainda, não esquecer que algo de muito semelhante 
              aconteceu (e está acontecendo) com os termos «ambiente» 
              e «ambiental» (e, até, com os termos «ciência» 
              e «científico»). O rótulos «ambiente» 
              e «ambiental» foram e são, de facto, utilizados 
              de forma igualmente instrumental e avulso. Vejase, por exemplo a 
              sua sistemática utilização: para referir a 
              aspectos que têm que ver somente à envolvente natural 
              (incluindo, quando muito, uma dimensão cultural humana); 
              em contextos de mero marketing comercial; na designação 
              de ministérios nacionais e de comissões politicas 
              internacionais. Mas, por que razão criar então uma 
              nova designação?  
               Em primeiro 
                lugar, por uma questão de eficácia conceptual e 
                metodológica. De facto, em virtude de tudo o que até 
                aqui foi afirmado, a ea acabou por assumir, em muitos casos, dimensões 
                de implementação prática reducionistas, comportamentalistas, 
                ritualizadas, e, por vezes, tão endoutrinantes como as 
                inerentes ao pensamento dominante que pretende criticar. Por outro 
                lado, a necessidade de trabalhar relevantes aspectos relacionados 
                com a conservação da natureza, a gestão dos 
                recursos e resíduos, os problemas do ordenamento, ou, mesmo, 
                as questões relacionadas com a conservação 
                do património cultural, acabam dificultando outro tipo 
                de intervenções mais centradas na interligação 
                de domínios, na inter-dependência das partes, no 
                todo complexo de que fazemos parte e onde vivemos. Sendo potencialmente 
                tudo, mas não tendo conseguido totalmente resgatar a vocação 
                global de perspectiva educativa critica, a ea acabou se assumir 
                mais como uma dimensão educativa que trata da relação 
                do homem com o meio, e se centra mais na aquisição 
                de comportamentos ambientalmente mais responsáveis. A ea 
                necessita, pois, de um forte movimento de des(re)construção 
                criativa. Dispor de um novo espaço educativo que se preocupe 
                de forma exclusiva com a inter-dependência das partes, numa 
                lógica de complexidade, pode, por si, gerar importantes 
                dinâmicas, e, ao mesmo tempo, ajudar (e já está 
                ajudando) ao repensar da ea.
  Em segundo lugar, 
                uma razão de natureza estratégico-política. 
                Os conceitos de «sustentabilidade» e de «sustentável» 
                são conceitos emergentes, de largo poder heurístico, 
                com capacidade de afirmação transdisciplinar e mesmo 
                «transcientífica», e com vocação 
                de «processo» mais do que «estado». Integrar 
                esses conceitos numa lógica de parte discreta de uma abordagem 
                educativa encimada pelos conceitos de «ambiente» e 
                de «ambiental» (que, pese embora a sua vocação 
                inter-disciplinar e holística, não conseguiram imporse 
                como tal) pode ser não só impossível como 
                também contraproducente.
  E que designação adoptar, então? Estamos 
              conscientes de que o termo desenvolvimento (pela conotação 
              com a ideia de crescimento económico contínuo) desencadeia 
              algumas resistências em vários sectores. Outro termo 
              que alguns consideram menos polémico é o de Educação 
              para a Sustentabilidade. Em qualquer caso, não supomos ser 
              necessário e/ou desejável que uma designação 
              substitua outra, mas antes que convivam, como parentes muito próximas 
              que, numa fase determinada da nossa história educativa, tiveram 
              necessidade de, pelo menos em parte, se autonomizar, nem que seja 
              «vivendo na casa ao lado». E nem sequer sabemos se, 
              no futuro, não teremos que «derrubar as paredes» 
              que dividem as duas «casas» ou, mesmo (quem sabe), derrubar 
              outras «paredes» que dividem a «grande casa» 
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              Development. International Implementation Scheme, <http://portal.unesco.org/education>. Notas: * Subdirector del Instituto de 
              Educación y Psicología de la Universidad do Minho, 
              Braga, Portugal. 1 Com apoio da Fundação 
              para a Ciência e a Tecnologia (fct), Portugal. 2 Ministério do Equipamento 
              Social e do Ambiente (I, II, III, IV e V Governos Provisórios). 3 Entrevista concedida a 
              Cristina Baptista, Cadernos de Educação Ambiental, 
              n.º 29, Junho de 2000. 4 Instituto Nacional do 
              Ambiente, que só em 1989, sob tutela da Secretaria de Estado 
              do Ambiente e Recursos Naturais (Ministério do Planeamento 
              e da Administração do Território), vê 
              aprovada a sua Lei Orgânica. 5 Instituto de Promoção 
              Ambiental. 6  Tinha, entretanto, já 
              começado a emergir (a partir de 1992, ou mesmo um pouco antes, 
              1987) a perspectiva da Educação para o Desenvolvimento 
              Sustentável (eds). Em 1997, foi o Conselho Nacional de Ambiente 
              e Desenvolvimento Sustentável. Portugal é subscritor 
              de acordos relativos à implementação da Década 
              das Nações Unidas para a eds (deds) e, contudo a propósito 
              desta matéria não aprovou, ainda, um documento estratégico. 
              E isto apesar de Portugal ter sido um dos primeiros países 
              europeus a realizar uma Conferencia Internacional sobre essa problemática, 
              em Maio de 2004, por iniciativa do Departamento e Universidade a 
              que pertenço. 7 A que tive a honra de 
              pertencer. 8 Centrada em cerca de 180 
              itens, agrupados hierarquicamente segundo vários grupos de 
              indicadores, seleccionados de acordo com oito parâmetros qualitativos 
              globais de avaliação: desenvolvimento geral do projecto, 
              consecução dos objectivos, adequação 
              das metodologias, desenvolvimento das actividades, avaliação, 
              globalização, divulgação e custos. 9 Refinada com aplicação 
              do teste de McNemar para pares de parâmetros, e Q de Cochran 
              para grupos de parâmetros. Para as respostas aos questionários 
              (escala tipo Likert) utilizaram-se o coeficiente de Spearman e o 
              teste de Wilcoxon. 10 Em jornais locais ou 
              nacionais (48%), desdobrável ou brochura (47%), jornais escolares 
              (36%). 11 Respectivamente, 219 
              projectos em 1998, 242 projectos em 1999, e 240 projectos em 2000. 12 Celebrado simultaneamente, 
              e em separado, no Rio de Janeiro.   |