APRESENTAÇÃO
Nesta edição da Revista Iberoamericana de Educação
oferecemos um conjunto de tratamentos epistemológicos,
antropológicos, históricos e pedagógicos de
caráter crítico-reflexivo, que abordam a relação
entre corpo, saber e poder; neles se evidencia uma preocupação
comum pela relação existente entre corpo, escola e
sociedade. Se contemplam alguns pontos de divergência: consideram
que a escola não é neutra; vêem nela uma instituição
que, através de estratégias de lugar e de enclausuramento
(escolarização), aposta pela subjetivação
(sustentação), pela socialização e pela
objetivação; dimensionam o corpo como um espaço
de tensões culturais e de operações disciplinares
das instituições e dos paradigmas sociais; entendem
o corpo como uma construção política, histórica,
social e cultural sobre a qual se articulam redes de saber-poder.
Os textos que publicamos mostram uma grande diversidade temática,
pretendem referenciar algumas das direções das representações
do corporal que vêm circulando pelo interior da instituição
formadora dos formadores do corpo em nossa região. O conteúdo,
em seu conjunto, deixa ver alguns dos interrogantes que hoje em
dia mobilizam a pesquisa universitária sobre o corporal.
Se expõe, enfim, uma seleção de artigos de
profissionais que gozam de reconhecimento no âmbito universitário
local e/o regional por seu compromisso e por sua rigidez acadêmica.
A contribuição de Barbero se concretiza na apreciação
que tem a respeito das categorias capital cultural e capital corporal,
que permitem questionar o caráter universal, anistórico
e anti-social com o que frequentemente se explicam o significado
e os valores do corpo e do movimento na escola.
Por sua parte, Pedraz aborda o problema da diferenciação
corporal. Em sua análise, retoma o debate do corpo como espaço
de tensões culturais e de operações disciplinares.
Devís, FuenteseSparkes, se aproximam, desde uma
pesquisa sobre as crenças, os valores e as práticas
ocultas na educação física, ao problema da
identidade de gênero e à sexualidade.
Enquanto a Calvo, propõe um debate sobre a educação
corporal caótica e a educação corporal ordenada.
Se detém nos resultados da formação corporal,
estabelecendo uma clara diferencia entre corpo educado e corpo escolarizado
(enclausurado).
Furlan planeja uma interessante disjuntiva sobre a relação
entre qualidade educativa, convivência e formação
corporal. Além disso, analiza o auge arrasador do mercado
e de suas expressões teóricas, e dimensiona as infrações
da qualidade e da eficiência educativas.
Runge e Muñoz, desde uma perspectiva histórico-investigativa,
revisam o rol do evolucionismo social e os problemas da raça
na conformação da educação colombiana
na primeira metade do século xx (o corpo nas estratégias
eugenésicas).
Moreno propõe um leitor metodológico para a aula,
que se centraliza nos componentes dos enunciados que se deixam ver
nas práticas de intervenção pedagógica
do corporal. Tal leitor pode ser útil para avançar
nas leituras das práticas de intervenção corporal
dentro do mercado escolar.
Vaca elabora um projeto para o tratamento do âmbito corporal
na educação infantil, não sem antes realizar
uma aproximaação às repercussões do
corpo e da motricidade na globalização do comportamento
dos indivíduos.
Por último, Gil e Contreras dão conta dos conteúdos,
dos debates, do manifesto final dos participantes, e das propostas
de futuro surgidas no seio do Seminário «Enfoques atuais
da Educação Física e os Esportes. Desafios
e perguntas», que se deu entre os dias 21 e 25 de novembro
de 2005, em Antigua, Guatemala.
Este número da rie foi coordenado por William Moreno Gómez,
professor de Educação Física da Universidade
de Antioquia (Colômbia), a quem agradecemos sua preocupada
e solícita colaboração, e ao que deixamos a
tarefa de apresentar-nos em uma temática definida por sua
importância e pelo descuidado tratamento que teve até
agora.
Roberto Martínez Santiago
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