Apresentação
A educação de adultos constituiu, durante muito tempo,
uma das principias preocupações das instituições
da América Latina. Se é certo que o peso dessa preocupação
recaiu sempre sobre o componente alfabetizador, não deixou
de fazer parte da mesma, a preparação para a plena
incorporação dos adultos desfavorecidos do sistema
no mercado de trabalho e na vida social.
A característica fundamental das políticas educativas
orientadas aos adultos foi a reprodução dos critérios
de escolarização infantil aplicados a uma população
portadora de saberes, de experiências e de códigos
culturais que definem umas necessidades de difícil satisfação
a partir de um sistema como o que ainda hoje se propõe.
As mudanças no significado e na interpretação
dos conceitos de "alfabetização" e da "educação
de adultos", motivados pelos novos requerimentos que o mundo
produtivo e a realidade social suscitam, parecem ter encontrado
os sistemas educativos desprovidos de respostas pertinentes e eficazes.
Como resultado disso, as instituições educativas centraram
sua estratégia em macrocampanhas de alfabetização
que, na maioria das vezes, tornam a propor, como mecanismo de continuidade,
a incorporação dos adultos alfabetizados ao modelo
de educação formal escolarizada.
Embora desde o início da "educação popular"
existam e se pratiquem múltiplas alternativas de educação
formal não escolarizada, o problema do reconhecimento e certificação
dos conhecimentos adquiridos segue sendo um dos obstáculos
sem solução.
Esta aparente falta de reflexos políticos para dar resposta
às necessidades do coletivo de adultos com carências
educativas tem outro aspecto igualmente preocupante: a formação
de docentes especializados. Deve-se ter presente a especificidade
pedagógica da educação de adultos. O adulto
não é qualquer sujeito de aprendizagem, trata-se de
um sujeito que tem idéias e pensamento em relação
ao simbólico, a seu uso como comunicação, e
seguramente terá ensaiado alguma forma de interpretação.
Por outro lado, trata-se de uma pessoa com uma baixa auto-estima
enquanto à sua relação com o conhecimento.
Tudo isso requer uma pedagogia própria que fortaleça
a auto-estima e a autonomia crescente dos sujeitos, o trabalho coletivo
e solidário, a tomada de decisões e o pensamento crítico.
Estas questões, sua forma de resolvê-las ou de ressaltar
sua falta, vêem-se representadas no conjunto de artigos que
compõem a seção monográfica deste número
44 da Revista Ibero-americana de Educação, aos quais
se somam, cumprindo com o propósito já anunciado em
nosso número anterior, quatro importantes artigos sobre outros
temas de máximo interesse.
O primeiro deles apresenta uma pesquisa sobre as relações
entre os estilos de vida e a atividade acadêmica, mais concretamente
com a aprendizagem no nível universitário. Constitui
uma colaboração inovadora para o estudo dos elementos
internos e externos para o indivíduo que influi nos processos
cognitivos. No segundo, Francisco Ramos, especialista no ensino
de línguas estrangeiras, utiliza como exemplo um programa
de equação bilíngüe para remarcar as necessidades
de formação docente que devem ser levadas em consideração
no hora de pôr em funcionamento iniciativas deste tipo. Do
Brasil nos apresentam uma reflexão, fundada na prática,
sobre as possibilidades e conveniência de integrar o enfoque
CTS no ensino fundamental. As seção encerra-se com
um tema clássico da educação em geral e da
educação física em particular, que as atuais
significações do processo pedagógico requerem
revisar à luz dos atuais paradigmas educativos: o comportamento
disciplinar dos alunos.
A nova seção de "Recensões" dá
conta de duas novidades editoriais de indubitável interesse.
Miriam García Blanco resenha a obra coordenada por L. García
Aretio: De la educación a distancia a la educación
virtual. Por sua parte, Alfredo Ferrari nos introduz na leitura
de ¿Qué hacer ante las desigualdades en la educación
secundaria? Aportes de la experiencia latinoamericana, de Claudia
Jacinto e Flavio Terigi.
Encerra-se o número com o inventário das publicações
recebidas na redação durante os últimos meses.
Até a próxima.
Roberto Martínez Santiago
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