APRESENTAÇÃO
Como dizíamos na convocatória do presente
número, nossa intenção era elaborar um monográfico
em que se discutissem, a partir de diferentes perspectivas, alguns
dos temas que o artigo de Francisco Benavides e Francesc Pedró
propõe: «Políticas educativas sobre novas tecnologias
nos países ibero-americanos».
Naquele momento consideramos que passar do plano das
ações e das experiências concretas realizadas
para incorporar as TICs às aulas ao das políticas
públicas que guiam esses projetos, poderia estabelecer um
nível de reflexão e de análise sobre elementos
tais como a coerência e a intencionalidade, tanto políticas
como pedagógicas e tecnológicas, destas políticas.
Em todo caso, éramos conscientes de que, como
os próprios Benavides e Pedró destacam, o fenômeno
da introdução das TICs nos sistemas educativos consiste
numa inovação tão recente que torna difícil
uma reflexão como a proposta.
A seleção dos artigos que hoje apresentamos
assim como a grande maioria das colaborações
recebidas , mostra que nossos leitores preferem induzir da
análise de questões mais específicas, remontandose
às suas origens, os elementos que sustentaram as políticas
que as impulsionaram.
Como não poderia ser de outra maneira, em primeiro
lugar encontramos o relatório que prepararam Benavides e
Pedró, como resultado dos trabalhos que vêm desenvolvendo
no CERI/OCDE sobre este tema.
Os cinco artigos que completam a seção
monográfica têm enfoques muito diferentes entre si,
mas são convergentes quanto ao tema que nos interessa, o
que abre este número a uma interpretação complexa
e pluridimensional da questão proposta.
Em «Políticas tecnológicas num
cenário de gestão de conhecimento em educação»,
Giovanni Gutiérrez e Juan Carlos Orozco propõem a
reflexão, a partir do âmbito das políticas tecnológicas
promulgadas na Colômbia, sobre os riscos da «retórica
tecnocrática» que sustenta «[...] o mito segundo
o qual a industrialização acima de tudo permite alcançar
bem-estar, reduzir as desigualdades sociais e gerar felicidade às
pessoas da sociedade».
Paz e Mónica Peña centram sua análise
na incorporação das TICs no espaço e nos atores
escolares, mostrando que esse processo foi até agora
incompleto. As mudanças produzidas limitam-se, segundo
as autoras, ao âmbito das políticas curriculares, pois
não assumem questões tais como a formação
dos docentes (e dos alunos) ou a necessária flexibilidade
da instituição escolar para assimilar e aproveitar
as novas propostas tecnologias.
A proposta de Márcia Lopes leva-nos a considerar
as conseqüências que os processos de inserção
das TICs têm sobre a formação de outras
novas formas de subjetividade, especialmente em seu reflexo
sobre a cotidianidade escolar, pelas modificações
que a relação docente-aluno sofre, ante a presença
das novas tecnologias.
O papel das tecnologias e da educação
a distância , como panacéia para a solução
de problemas tais como a ampliação da cobertura, a
falta de eqüidade ou o atraso escolar, é questionado
por Jaime Garcia do ponto de vista da análise do discurso
e das políticas aplicadas pelas últimas administrações
mexicanas.
Encerra-se a seção com uma proposta
de Alfonso Gutiérrez que destaca a necessidade de mudanças
indispensáveis para a integração curricular
das TICs na educação para a sociedade do conhecimento,
mudanças que deveriam se produzir, segundo palavras do próprio
autor, «Nos três aspectos fundamentais: a educação
básica, a formação do professorado e a pesquisa
educativa».
A seção «Outros Temas»,
cada vez mais significada, recolhe quatro trabalhos sobre outros
tantos conteúdos do âmbito educativo. No primeiro deles
Sara Fernández, Susana Fernández e Alberto Vaquero
analisam os sistemas de educação superior na América
Latina e no Caribe em sua projeção internacional do
ponto de vista dos fluxos de intercâmbios e das possibilidades
que o processo de globalização apresenta, tanto para
estes sistemas como para as instituições espanholas.
Em um rico, preciso e ameno artigo, Victor V. Zapata
e Arley F. Ossa descrevem como as diferentes ideologias que predominaram
nos governos republicanos da Colômbia do século XIX
influíram nas concepções e nas práticas
que definiram a instituição escolar daquela época.
Que percepção têm os diferentes
agentes que atuam no processo ensino-aprendizagem quanto à
motivação dos alunos sobre as tarefas escolares? Esta
questão e a busca de outros fatores que podem incidir na
atitude dos escolares perante esses afazeres, centram o interesse
do trabalho de Gil Madrona, Roblizo Clomenero e Gómez Barreto.
O último artigo do número é assinado
por Liliana Soares e fala sobre a necessidade «De estudar
os discursos dos professores, como fenômeno, [...] com vistas
a [...] uma compreensão dos sentidos, das contradições
e das possibilidades e de como estas se revelam simbolicamente na
prática profissional de professoras e professores».
A seção «Recensões»,
inaugurada no número anterior, resenha dois livros que integram
a Coleção de Educação em valores co-editada
pela OEI e pela Editora Octaedro e se intitulam Multiculturalismo
e educação para a eqüidade e A aprendizagem de
valores e atitudes. Teoria e prática, respectivamente, sendo
este último um caderno que serve como guia para o trabalho
de tais temas em sala de aula.
Finalmente, e fechando esta edição da
RIE, as habituais listas de livros e de revistas recebidos em nossa
redação desde o aparecimento do número anterior.
Até a próxima.
Roberto Martínez Santiago
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