Número 55 Enero-Abril / Janeiro-Abril 2011

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Apresentação

É muito simples apresentar este número da Revista Iberoamericana, por dois motivos. Em primeiro lugar, porque o tema monográfico que se aborda é o mesmo do número anterior, continuando desse modo com a linha de reflexão, análise e propostas que naquele se iniciava. Em segundo lugar, porque os editores de ambos os números, professores F. Javier Murillo, da Universidade Autônoma de Madri, e Marcelo Roman, da Universidade Alberto Hurtado, do Chile, elaboraram uma detalhada e interessante introdução em que apresentam cada um dos setes artigos que compõem o monográfico.

No número anterior já se defendia a importância do tema da mudança e da melhoria escolar, dada a irrefreável extensão da demanda de uma educação de qualidade para todos. A qualidade e a equidade são assim vistas como duas caras de uma mesma moeda, chegando-se a considerá-las inseparáveis. Essa proposta teve a virtude de pôr em conexão a melhoria da eficácia da escola com a consideração da educação como um direito, o que nos leva a pôr ênfase na dimensão da justiça.

Essa combinação de dois enfoques que em determinados momentos históricos puderam ser vistos como realidades dissociadas abre um interessante caminho de reflexão e análise sobre a educação. Ao mesmo tempo, suscita novas estratégias para se conseguir a mudança e a melhoria na educação. Por isso não deve parecer estranho que vários dos artigos incluídos na parte monográfica insistam em aspectos tais como a dimensão ética e moral da ação educadora, a inclusão entendida como consequência da justiça ou a concepção da educação como direito, ao mesmo tempo em que outros reflexionam sobre os modelos de melhoria da eficácia escolar ou o papel da avaliação e da liderança escolar nos processos de mudança.

Nesta ocasião, a seção «Outros temas» complementa a parte anterior com quatro trabalhos dedicados a questões diversas.

O primeiro trabalho, do reconhecido professor colombiano Guillermo Hoyos, analisa o sentido dos códigos de ética ou de conduta que se costumam elaborar e difundir nas instituições educativas. Para isso ele começa analisando as semelhanças e as diferenças entre as normas e os valores, assim como a tensão que se suscita entre umas e outras. A existência, na sociedade como na escola, de um pluralismo de valores máximos morais não deve impedir a adoção de normas assentadas em uma ética de mínimos que permitam o acordo em termos de códigos de conduta que possam ser compartilhados em uma instituição educativa. Para isso resulta necessário superar a concepção de uma educação primordialmente ligada à lógica do mercado e abri-la ao mundo das humanidades. Para o autor é possível se chegar a acordos por meio da comunicação, do diálogo e do discurso, respondendo, afirmativamente, à conveniência de se estabelecer códigos de conduta compartilhados.

O segundo trabalho, das professoras brasileiras Fabiane Adela Tonetto Costas e Liliana Soares Ferreira, estabelece uma relação entre os processos de mediação cultural, tal como vêm determinados pela Psicologia Sócio-histórica de Vygotsky, e a construção de significado e de sentido na leitura. Seguindo a orientação de Gadamer, as autoras concebem a mediação como um processo de interação entre sujeitos, tendo a linguagem como ambiente. E nesse contexto distinguem entre os conceitos vygotskyanos de significado e sentido, considerando o primeiro como um fenômeno de pensamento e o segundo como um elemento simbólico mediador da relação entre a pessoa e o mundo. Deste ponto de vista, a tarefa da leitura vai mais além da decifração de códigos, para adentrar-se no terreno da conversão de inter-relações sociais em funções mentais.

O terceiro trabalho, dos professores Marta Ruiz Corbella, Lorenzo García Aretio e Beatriz Alvarez González (UNED, Espanha) e Maria José Rubio Gómez (Universidade Técnica Particular de Loja, Equador), aborda uma questão de plena atualidade no âmbito internacional: a mobilidade dos estudantes na educação superior. Embora a região iberoamericana não tenha avançado tanto neste sentido como em outros, pôs em funcionamento algumas iniciativas conjuntas, entre as quais se destaca o Programa Pablo Neruda. Os autores se centram em uma iniciativa específica, relativa à mobilidade virtual no âmbito da educação a distância. Em seu artigo analisam a experiência do Projeto NetActive que analisou a informação procedente de 156 mestrados a distância, tanto europeus como ibero-americanos, concluindo com a necessidade de avançar mais nesta direção, oferecendo mestrados comparáveis e compreensíveis, compatíveis com outras ofertas acadêmicas

O quarto trabalho, das professoras argentinas Maria Elsa Porta e Mirta Susana Ison, aborda também o tema da leitura, embora de uma perspectiva diferente do artigo antes mencionado. Neste caso, as autoras centram-se no processo de aprendizagem inicial de leitura, com o propósito de sustentá-lo num campo teórico sólido, e para o qual se propõem desenvolver um modelo que permita explicá-lo e orientar a elaboração de estratégias facilitadoras desta aprendizagem. Para levá-lo a cabo, integram componentes procedentes das escolas cognoscitiva e integracionista, em vez de aderirem a um só deste enfoques, concluindo com uma perspectiva que incorpora fatores facilitadores de primeira aprendizagem linguística.

Encerram o número as três seções habituais de «Novidades editoriais», que inclui recensões de várias obras recentes em «Livros e revistas recebidas» e «Publicações da OEI».

Confiamos em que este novo número da Revista Ibero-americana de Educação suscite um interesse similar ao que suscitaram os anteriores e que satisfaça as expectativas com a qual os leitores se aproximam à sua leitura.

Alejandro Tiana Ferrer

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