Número 57 Septiembre-Diciembre / Setembro-Dezembro 2011

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Apresentação

Em 2005, a XV Cúpula de Chefes de Estado e de Governo, celebrada em Salamanca, adotou a decisão de avançar na criação do Espaço Ibero-americano do Conhecimento (eic), afirmando expressamente em sua declaração final: «propomo-nos avançar na criação de um Espaço Ibero-americano do Conhecimento, orientado à necessária transformação da educação superior, e articulado em torno à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação, condição necessária para incrementar a produtividade, brindando melhor qualidade e acessibilidade aos bens e aos serviços para nossos povos assim como para a competitividade internacional da nossa região».

Para levar a cabo esta tarefa, puseram-se em funcionamento vários mecanismos, entre os quais cabe destacar a celebração anual de um Fórum Ibero-americano de Responsáveis da Educação Superior, Ciência e Inovação e a constituição da Unidade Coordenadora do eic, na qual participam a Secretaria Geral Ibero-americana (segib), o Conselho Universitário Ibero-americano (cuib) e a Organização de Estados Iberoamericanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (oei). A conjunção destes meios permitiu reforçar a coordenação das políticas de educação superior, pesquisa, desenvolvimento e inovação a partir de uma visão inclusiva de seus diversos agentes e com o propósito de articular um espaço comum que potenciasse o desenvolvimento que nas últimas décadas vêm experimentando nestes campos os países ibero-americanos.

No âmbito da educação superior foram três os eixos estratégicos tendentes a impulsionar a criação do eic: a mobilidade acadêmica, a avaliação e a acreditação da qualidade da educação superior, e o reconhecimento de períodos de estudo e de titulações. Junto a iniciativas vinculadas a esses campos, pôs-se ênfase, também, no fortalecimento das políticas públicas de ciência e inovação e no fomento da cooperação entre o mundo acadêmico, os organismos de pesquisa, os centros tecnológicos e as empresas públicas e privadas, a fim de criar sinergias e redes encaminhadas à transferência dos resultados da pesquisa.

Transcorridos vários anos desde a colocação em funcionamento do eic, chegou o momento de refletir sobre os avanços produzidos, analisar o cenário existente e esmiuçar os desafios que restam ainda por enfrentar. Esse é o objetivo da seção monográfica deste número da Revista Iberoamericana de Educação, que esteve a cargo de Ana Madarro, Ernesto Robles e Félix García Lausín, responsáveis dos programas de cooperação no âmbito da educação superior que a oei promove. Eles coordenaram a seção e selecionaram os trabalhos que a integram: alguns deles, produto de encomendas explícitas, e outros, escolhidos após uma avaliação rigorosa das propostas que responderam à chamada da Revista. Em sua introdução ao monográfico, explica-se com maior detalhe as características dos seis trabalhos que o compõem.

A seção «Outros temas» complementa a anterior com três trabalhos dedicados a questões diversas.

O artigo dos professores Valentín Martínez Otero e Gerardo Ojeda Castañeda propõe-se analisar, a partir de uma perspectiva pedagógica, as 55 plataformas audiovisuais webtvs. Os autores selecionaram as que tratam de incidir formativamente nos receptores, tanto no que se refere a seus conhecimentos como a suas condutas, atitudes e valores. Para realizar a analise, começaram estabelecendo uma definição do que deve se entender por plataforma audiovisual pedagógica, recorrendo para isso ao modelo pentadimensional que lhes serve para examinar o discurso educativo. As dimensões de análises identificadas foram a instrutiva, a afetiva, a motivadora, a social e a ética. Em cada uma delas se identificaram um conjunto de parâmetros e indicadores. Os resultados do estudo permitiram concluir que, em geral, as plataformas existentes apresentam consideráveis carências pedagógicas, o que permite orientar o trabalho futuro nesta área.

O trabalho da professora Rosa Vázquez Recio, da Universidade de Cádiz (Espanha), está dedicado ao estudo da aplicação das propostas do ensino para a compreensão em uma escola rural espanhola. O estudo deste caso pretende destacar o valor que este tipo de educação oferece para que o alunado realize aprendizagens funcionais, relevantes e significativas, que vão mais além da simples apropriação de conhecimentos organizados em compartimentos estancos. Ademais, a aplicação do ensino para a compreensão põe de manifesto que os estudantes podem desenvolver sua autonomia e reforçar um pensamento crítico e reflexivo. A autora chega a conclusões que têm que ver com o papel central do alunado nos processos educativos, a diversidade de estratégias didáticas que se podem aplicar, a possibilidade de aquisição de uma aprendizagem significativa, o desenvolvimento de modos de trabalho cooperativo, o papel relevante que desempenha a pesquisa e o novo modelo de função docente que esta proposta implica.

O trabalho do professor Hector A. Monarca, da Universidade Autônoma de Madri (Espanha), reflete e analisa a realidade do sistema educativo em um momento como o atual, em que se enfrenta com demandas e necessidades muitas vezes contraditórias. Se por uma parte a utopia e o otimismo estão na essência da instituição escolar, também o estão a contradição e sua origem diferenciadora e elitista. O sistema educativo não consegue transformar-se para deixar de lado a fragmentação das aprendizagens, o que é chave em etapas desconexas, limitando sua função social. Embora a análise esteja centrada na realidade do sistema educativo espanhol, com o propósito de gerar seu espaço interpretativo adequado, não é estranho ao que sucede em outros países, dadas as similitudes existentes.

Por último, o trabalho apresentado pelo professor Agustín de la Herrán e Gleyvis Coro Montanet analisa o sistema de avaliação que ultimamente se implantou no âmbito educativo universitário, indicando que este não deve se resolver só de forma objectiva ou nomotéticamente, já que a avaliação requer analisar estruturas altamente complexas, que não podem ser estimadas com esquemas simples, aproximados ou pretendidamente objectivos. Bem mais quando as universidades têm o compromisso de converter a avaliação num processo transparente e sobretudo útil para a melhora da qualidade de seu ensino e da formação e investigação universitárias.

O número inclui a continuação das três seções habituais de «Recensões», que revisa algumas novidades editoriais, «Livros e revistas recebidos na Redação» e «Publicações da oei».

Confiamos que, uma vez mais, este número da Revista Iberoamericana de Educação suscite o interesse dos leitores e satisfaça suas expectativas.

Alejandro Tiana

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