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Este número monográfico da Revista Ibero-americana de Educação (rie) pretende sensibilizar e orientar a comunidade educativa em relação à saúde mental no ambiente escolar. Em suas páginas, abordam-se temas de saúde mental referidos ao alunado e ao professorado. Embora muitos dos artigos que se recolhem centrem-se na etapa infanto-juvenil, adverte-se, também, sobre o interesse pelas condições de trabalho do professorado, um grupo socioprofissional particularmente exposto a riscos psicopatológicos.
Sabido é que a saúde mental não depende unicamente de fatores ambientais do centro escolar, mas é inegável que quando o clima social institucional se distingue pela falta de acolhimento, pelo conflito, pela fragilidade comunicativa, pela rigidez, pela competitividade, pelo excessivo controle, entre outras características negativas, as pessoas têm mais probabilidades de apresentar alguma alteração.
A instituição educativa, desde a etapa infantil até o nível universitário, não é alheia à profunda mutação sociocultural e em seu seio às vezes se descobrem alguns tipos de perturbação psíquica, que podemos classificar como: o uso inadequado ou abusivo da tecnologia; a tendência segregacionista; as más relações pessoais e o conflito na comunidade educativa; a adoção de um discurso docente descompensado, geralmente atento à vertente cognitiva, mas insensível aos aspectos afetivos, estéticos, sociais e morais da educação; a exagerada preocupação pela produtividade de alunos e professores, assim como a estrutura e a gestão predominantemente rígidas, controladoras e verticais.
Este monográfico, atento em seu conjunto às condições ambientais institucionais, está integrado por artigos que, a partir da reflexão ou da pesquisa, favorecem a prevenção das alterações psíquicas e fomentam o bem-estar psicossocial nos centros escolares.
Em primeiro lugar, o trabalho que assina o doutor Alonso Fernández oferece um panorama da saúde mental do professorado, revisa alguns dos problemas psíquicos mais frequentes entre os docentes e proporciona pistas para salvaguardar a saúde mental neste grupo socioprofissional.
Do Brasil, os professores Teixeira e Mohamad lançam um olhar crítico sobre muitas avaliações psicológicas «assépticas» que se realizam nos ambientes escolares. Após realizar uma pesquisa descritiva e bibliográfica propõem a realização de avaliações e intervenções responsáveis, de cuidado integral, nas quais se torna fundamental o trabalho interdisciplinar e contextualizado, sensível ao ambiente sociofamiliar dos menores.
O artigo dos professores Gaeta e Martínez-Otero é o resultado de uma pesquisa na qual se analisam variáveis de tipo pessoal, escolar e familiar relacionadas com os níveis de ansiedade infantil. A partir de uma amostra ampla de escolares mexicanos revisam-se relevantes questões teóricas sobre as causas e as consequências da ansiedade na infância.
Os professores Ruiz Fernández, Gómez-Vela, Fernández e Badia, com seu trabalho, fruto de uma pesquisa, suscitam a avaliação da qualidade de vida de alunos de Educação Primária e a identificação de fatores do contexto pessoal, familiar e escolar que limitam ou potenciam seu bem-estar e o desenvolvimento integral.
Em seu artigo, as professoras Márquez e Gaeta propõem que se fortaleçam as competências emocionais desde o seio familiar, o que contribuirá para que crianças e jovens contem com mais recursos pessoais para enfrentar as múltiplas situações, nem sempre fáceis, que se apresentam ao longo da vida.
Por outra parte, as professoras Di Giusto, Martín Arnaiz e Guerra expõem, nas páginas que assinam, os resultados de avaliar as dez competências pessoais e sociais (autoconceito, autoestima, motivação, expectativa, atribuição, enfrentamento de problemas, tomada de decisões, empatia, assertividade e comunicação) que integram o construto da «personalidade eficaz» na população adolescente espanhola e chilena.
Os professores Rodríguez Garza, Sanmiguel, Muñoz e Rodríguez Rodríguez reúnem em seu artigo os resultados de uma pesquisa a partir da qual estudam o estresse em alunos universitários ao início e ao final do curso. Eles concluem que é necessário contar com programas preventivos contra problemas psíquicos nos estudantes.
A partir de quase meio milhar de estudantes de Magistério, as professoras Penna e Mateos exploram os níveis de homofobia dos futuros docentes. Como elas mesmas defendem, trata-se de prevenir atitudes homófobas no professorado. Um assunto de direitos, saúde mental e educação que exige a presença de todos.
Os resultados da pesquisa a partir de uma amostra de professores, segundo recolhem em seu trabalho os professores Pizarro, Raya, Castellanos e Ordoñez, revelam que a «personalidade eficaz» atua como fator protetor perante o aparecimento e desenvolvimento da síndrome de burnout.
As professoras Camargo, Macías e Quintero, em seu artigo, penetram nas possibilidades educativas da resiliência. Através de uma original metodologia didática propõem um trabalho pedagógico em centros de educação inicial, especialmente vulneráveis do ponto de vista social.
Os professores De Lellis, Calecta e Gómez expõem em seu trabalho as línguas gerais de um projeto integral, com apoio nas novas tecnologias da informação e da comunicação (ntic) e no âmbito da extensão universitária, que se orienta a promover meios educativos e comportamentos favoráveis para a saúde.
Os professores Díaz-Vicario e Gairín em seu artigo se propõem um duplo objetivo. Por um lado, caracterizar os meios educativos seguros e saudáveis e, por outro, evidenciar, através de um estudo qualitativo, algumas das práticas que diversos centros educativos públicos catalães desenvolveram para promover a segurança e a saúde.
Finalmente, no trabalho que assinam as professoras Rodríguez-Jiménez, Velasco-Quintana e Terrón-López enfatiza-se a ideia de que a construção de meios educativos saudáveis exige implicar o professorado, o pessoal de administração e serviços, assim como os alunos. Mostram-se também alguns resultados de uma pesquisa realizada no contexto universitário.
Finalmente, apresentamos um monográfico que, com sensibilidade pedagógica e olhar amplo, permite que nos adentremos no complexo mundo da saúde mental nas instituições educativas. Animamos todos os leitores a percorrerem as páginas desta Revista e a enriquecerem o diálogo sobre os desafios que a construção de meios escolares saudáveis suscita.
Valentín Martínez-Otero Pérez e Laura Gaeta González