Número 71 Mayo-Agosto / Maio-Agosto 2016

Apresentação

A Educação Infantil é uma etapa cada vez mais relevante para a educação e para a investigação, uma vez que tem como desafio a melhoria da qualidade de vida da primeira infância e, dada a importância dessa etapa na vida humana, a melhoria da qualidade de vida de todas as pessoas.

Nesta monografia da RIE abordámos aspetos teóricos e práticos em diversos cenários da prática educativa e na Educação Infantil que contribuem para o desenvolvimento social, afetivo, cognitivo e organizativo. Nos trabalhos que constam na mesma, de uma alta qualidade investigativa, mas muito fundamentados nas salas de aula e nas realidades quotidianas da escola infantil, encontramos um ponto de união sob o enfoque sociocultural dos processos de ensino e aprendizagem, que estabelece que a atividade cognitiva do indivíduo não pode ser estudada sem ter em conta os contextos relacionais, sociais e culturais nos quais é levada a cabo.

Não há uma forma única de olhar a escola da infância. Na nossa perspetiva, concebemo-la como centro de vida, de brincadeira, de comunicação e de conhecimento, ou seja, como um espaço concebido e organizado para tornar possível uma existência aprazível, com múltiplas e variadas experiências de relação e de realização pessoal. Os trabalhos selecionados dão conta de uma grande quantidade de aspetos diferenciadores que respondem a esta visão da Educação Infantil.

Por conseguinte, a monografia começa com um trabalho de Geórgia Oliveira no qual se apresenta uma nova forma de abordar o currículo a partir da inclusão das realidades de uma escola que estabelece normas e reinventa a sua própria maneira de trabalhar. A contribuição de Ángeles Ruiz de Velasco e Javier Abad propõe uma visão panorâmica do que deve ser uma escola infantil e contempla uma proposta didática que integra a brincadeira, a arte e a educação motora nos espaços vitais para utilizar as instalações como local de encontro e de relação.

Para insistir no valor social e comunitário da Educação Infantil, precisamos de políticas adequadas que possibilitem uma educação de qualidade, que contribuam para o desenvolvimento social, afetivo e cognitivo dos menores de 0-6 anos. Nesse sentido, apresentamos o trabalho de Tiago Grama de Oliveira, no qual nos oferece um amplo estudo sobre as condições das escolas infantis dos mais pequenos (0-3 anos) no Brasil e analisa, a partir de uma perspetiva múltipla, todos os fatores que incidem no seu estabelecimento e desenvolvimento, acompanhada por uma fecunda reflexão que fundamenta uma proposta implícita do que deve ser a Educação Infantil.

A contribuição de Carla A. Lima da Silva descreve acertadamente a estreita relação entre o currículo e a tarefa docente. O olhar profundo sobre um centro educativo aproxima-nos de uma panorâmica que pode ser modelo e que, no trabalho sobre a linguagem e o seu papel na construção do conhecimento de Fernández e Gallardo, é completada por uma exemplificação daquilo que implica uma investigação sobre as práticas educativas da sala de aula.

Encontramos esta mesma visão na contribuição de Sánchez Rodríguez e González Aragón, que oferece a análise de uma prática muito comum nas salas de aula infantis, a assembleia de turma que, apesar disso, não é habitualmente objeto de estudo com a profundidade que as autoras propõem. As professoras Llamazares e Alonso-Cortés apresentam-nos, após delimitar um quadro conceptual, uma sequência didática de leitura partilhada e dialógica sobre o conto, levada a cabo numa sala de aula com crianças de 4 e 5 anos.

No trabalho de Roser Grau, Laura García-Raga e Ramón López-Martín é-nos oferecida, como objeto de estudo, a convivência na sala de aula, uma temática muito atual e que necessita de recursos, tais como o programa que nos é apresentado graças à investigação que dá lugar ao mesmo. Heidi Fritz oferece um interessante trabalho no qual se destaca a metodologia utilizada, que inclui a visão dos sujeitos participantes no mesmo, as crianças, geralmente esquecidas como autoras da investigação, sem que possamos escutar as suas vozes.

E para terminar, as vozes dos professores que participam nos seus próprios processos de formação através das suas histórias de vida, com a contribuição de Serret-Segura, Martí-Puig e Corbatón-Martínez.

Estes trabalhos abordaram, com rigor científico, desde os aspetos mais gerais da Educação Infantil até às propostas curriculares, a análise de práticas, as consequências didáticas que se derivam e a formação do professorado. Todos eles têm um denominador comum: o olhar atento sobre o que ocorre nas salas de aula e nos centros, e as visões das pessoas que neles trabalham, para contribuir para a melhoria da Escola Infantil. Um bom exemplo do que deve ser a reflexão, a análise e a investigação em Educação Infantil: uma abordagem teórico-prática na qual não se separem os fundamentos teóricos da atenção à realidade concreta da escola; um olhar profundo que tenta dar conta da complexidade do objeto de estudo, ou seja, da Educação Infantil.

 

* Isabel M. Gallardo Fernández, Universidad de Valencia; Isabel Ríos García, Universidad Jaume I; Pilar Fernández Martínez, Grupo Didactext, Universidad Complutense de Madrid; Gelta Terezinha Ramos Xavier; Universidade Federal Fluminense de Brasil.

 

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