Introdução
Entendemos que a educação ambiental deva contribuir
para a formação de cidadãos conscientes, aptos
a decidir e atuar em sua realidade de um modo comprometido com a
vida. A prática da Educação Ambiental tem como
um dos seus pressupostos o respeito aos processos culturais característicos
de cada país, região ou comunidade.
No caso brasileiro, constata-se a existência de diferentes
contextos culturais, cada um com suas especificidades. Isto significa
reconhecer que há diferentes modos de relacionamento ser
humano-ser humano e ser humano-natureza na sociedade local. Esses
diferentes modos de relacionamento determinam a existência
de conhecimentos, valores e atitudes que devem ser considerados
na formulação, execução e avaliação
da prática da Educação Ambiental (Rodrigues,
2001).
A complexidade da questão exige, para sua compreensão,
uma abordagem metodológica que, sem abrir mão do saber
especializado, supere as fronteiras convencionais dos diferentes
compartimentos disciplinares em que estão divididas as diversas
áreas do conhecimento.
A abordagem interdisciplinar das questões ambientais implica
em se utilizar a contribuição das várias disciplinas
(conteúdo e método) para se construir uma base comum
de compreensão e explicação do problema tratado
e, desse modo, superar a compartimentação do ato de
conhecer, provocada pela especialização do trabalho
científico. Implica, também, em construir esta base
comum considerando-se os conhecimentos das populações
envolvidas, tendo em vista a especificidade do contexto cultural
em que são produzidos.
São muitos os desafios a enfrentar quando se procura direcionar
as ações para a melhoria das condições
de vida do mundo. Um deles é relativo a mudanças de
atitudes na interação com o patrimônio básico
para a vida humana: o meio ambiente. As mudanças não
ocorrem por acaso, mas fazem parte de um processo que se iniciou
dentro de um espaço e tempo, abastecidos pelas múltiplas
variáveis do meio em que estamos inseridos.
Para que ocorram as mudanças de nossas crenças são
condições essenciais (Dereschimer, 1997): tempo, para
criar crenças implícitas para níveis conscientes,
avaliá-las criticamente na luz de nova evidencia ou experiências;
diálogo, é essencial para promover mudanças
na crenças, promovendo interações entre os
participantes; prática, é no desenvolvimento pessoal
de ensino que novas crenças são criadas; suporte,
relacionamento com outros são tão importantes em mudanças
de crenças como no início de sua formação.
As crenças apresentam um forte componente emocional, a mudança
dessas crenças envolve risco pessoal. Crenças profundas
baseiam-se em longas experiências em educação
tradicional estabelecendo formas e interações em sala
de aula. Estas crenças não devem ser ignoradas, elas
devem acompanhar e fortalecer as mudanças em nossas práticas
educacionais.
Os alunos podem tirar nota dez nas provas, mas, ainda assim, jogar
lixo na rua, demorar demasiadamente em banho jogando a água
pelo ralo, atear fogo no mato indiscriminadamente ou realizar outro
tipo de ação danosa, seja por não perceberem
a extensão dessas ações ou por não se
sentirem responsáveis pelo mundo em que vivem.
A nossa tarefa não é causar uma boa impressão
naqueles a quem ensinamos, mas de provocar impactos. Não
é apenas convencê-los, mas motivá-los para uma
transformação de vida (HENDRICHS, 1991). Como escreve
Freire (1992) dar ao ser humano o gosto da liberdade e o respeito
à liberdade dos outros, oportunizando que cada um construa
a sua história.
Por isso, antes mesmo de aprender a ler e a escrever palavras e
frases, cada humano já consegue ler, bem ou mal o mundo que
o rodeia. No entanto, estes conhecimentos adquiridos através
da prática não bastam. É preciso estar preparado
para ir além deles.
A problematização e o entendimento das conseqüências
advindas de alterações no ambiente permitem compreendê-las
como algo produzido pela mão humana em determinado contexto
histórico. A tarefa da escola é proporcionar um ambiente
escolar saudável e coerente com aquilo que ela pretende que
seus alunos aprendam, para que possa, de fato, contribuir para a
formação da identidade como cidadãos conscientes
de suas responsabilidades com o meio ambiente e capazes de atitudes
de proteção e melhoria dele.
Faz-se necessário, concatenar estes conhecimentos, para
que nas relações e inter-relações entre
professor-aluno-meio ambiente sejam construídos novos conhecimentos,
dentro de uma proposta relacional, e enfoque pedagógico interdisciplinário.
A interdisciplinaridade (Japiassú, 1976; Severino, 1989)
no contexto desta investigação tem como um de seus
significados, a exploração científica especializada
de determinado domínio homogêneo de estudo, isto é,
o conjunto sistemático e organizado de conhecimentos que
apresentem características próprias no ensino, métodos,
análises e avaliação. Esta exploração
consiste em fazer surgirem novos conhecimentos que sejam incorporados
aos antigos.
A interdisciplinaridade pode avançar onde: exista maturidade
disciplinária e especialistas que a mostrem; objetos e problemas
complexos (saúde, meio ambiente...) que requerem a construção
de imagens cognitivas também complexas, abordagens multilaterais
e integradas; problemas práticos que se resolvem através
de informações declaradas; marcos institucionais apropriados
para os fins desejados; mentalidade e disposição adequada
por parte dos participantes; a existência de líderes
capazes de catalisar estes processo; ética de trabalho (Nuñes,
2000).
Esta pesquisa se propôs a vivenciar os temas de matemática
e física como: média aritmética, operações
com números naturais, gráficos, gravidade e pressão,
relacionando-as ao tema água, tendo em vista mudanças
de atitudes e preservação do ambiente; analisar a
quantidade de água consumida com a caixa de descarga; aplicar
corretamente o uso da média aritmética e operações
matemáticas; reflexionar sobre o problema de desperdício
da água; sensibilizar os alunos, sobre a importância
vital de possuir bons hábitos para a preservação
do meio ambiente.
Desenvolvimento
A pesquisa foi desenvolvida na disciplina de Matemática
com 230 alunos de 5as e 6as séries das escolas municipais
Anna Towe Nagel e Waldemar Schmitz de Jaraguá do Sul - SC.
Também foram envolvidos os professores de: ciências
(explicando a importância, implicações da água
para os seres vivos), além de explicar os processos e leis
da física envolvidas como gravidade, vazão...; geografia
(explicando o cuidado com os mananciais de água como: rios,
lagos...); artes (confecção de representações
gráficas interpretando o respeito e cuidado com o aproveitamento
da água); Língua Portuguesa envolveu momentos de produção
de textos de diferentes formas: poesia, música...).
Cada aluno realizou as seguintes observações em sua
casa com sua família:
- Verificando o consumo diário de água realizado
pela família, com a descarga de água.
- O número de pessoas da familia.
- Quantas vezes por dia são dadas a descarga.
- Qual o tipo de descarga usada interna (válvula) ou externa
(caixa).
- Qual seria o volume de água necessário e suficiente
para a descarga.
Após uma semana de observações, os alunos
descreveram suas observações, onde :
- 72% das casas pesquisadas apresentam descarga do tipo externa,
com capacidade de 8 litros.
- 85% das famílias apresentam 5 membros.
- Uso da descarga ficou entre 10 a 15 vezes por dia.
Consumo de água pela utilização da descarga
de água foi em média pelas de 80 a 120 litros de água
por dia.
Para tentar economizar água com no uso da descarga, foram
feitas experiências como: entortar o arame que está
na bóia para diminuir o volume de água que entra na
caixa; regular a válvula em caixas internas controlando o
tempo diminuindo o tempo de vazão. Com estas ações
foram obtidos resultados significativos reduzindo em até
25% do consumo.
Conclusão
As pesquisas realizadas pelos alunos demonstraram que há
possibilidade de se trabalhar as questões ambientais em sala
e fora dela, tratando dos problemas vividos pelos alunos buscando
aplicar as habilidades matemáticas, físicas e éticas.
Demonstraram as pesquisas a possibilidade de uma economia de 25%
de água, utilizando o controle da bóia da descarga
controlando em até 6 litros de água ao invés
de 8 litros. Para as descargas internas fazer o controle da válvula
de saída regulando-a, diminuindo o tempo de saída
da água. Constatou-se a necessidade que devemos ter com a
utilização da água no uso diário para
evitar o consumo desnecessário.
Bibliografia
DERESCHIMER, Greta Morine, y CORRIGAN, Stephanie (1997): Psychology
and Educational Practice. Ed. Herbert J. WALBERG e Geneva D. HAERTEL.
Mc Cutchan Publishing Corporation, Berkeley. CA.
FREIRE, Paulo (1993): A importância do ato de ler: em três
artigos que se completam. São Paulo, Cortez.
(1992): Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia
do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
HENDRICKS, Howard (1991): Ensinando para transformar vidas. Minas
Gerais, Betânia.
JAPIASSÚ, Milton (1976): Interdisciplinaridade e patologia
do saber. Rio de Janeiro, Imago.
JOVER, Jorge Nuñes (2000): Rigor, objetividad y responsabilidad
social: la ciencia en el encuentro entre ética y epistemología.
Ciudad de La Habana, Cuba, Editorial Científico-Técnica.
RODRIGUES, Stélio João (2001): "A vida como
bem maior: um desafio para a educação ambiental".
Universidad de La Habana, Cuba (dissertação de mestrado).
SEVERINO, Antônio Joaquim (1989): "Subsídios
para uma reflexão sobre os novos caminhos da interdisciplinaridade",
in SÁ, Jeanete M. D. : Serviço social e interdisciplinaridade.
São Paulo, Cortez.
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