País de la experiencia: Portugal
Título de la experiencia: A Mediação
em Acção, na Escola Básica 2 Frei António
Brandão
A Lei de Bases salienta que «... o sistema educativo responde
às necessidades resultantes da realidade social, contribuindo
para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos indivíduos,
incentivando a formação de cidadãos livres
e responsáveis, autónomos e solidários e valorizando
a dimensão humana do trabalho », promovendo «...
o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista,
respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo
e à livre troca de opiniões ... ».
Assim, o que se espera da Escola, é que ela « contribua
(em colaboração com outros meios formativos
) para o desenvolvimento da personalidade, para o progresso
social e para a participação democrática na
vida colectiva ».
A nossa vivência quotidiana (na escola e fora dela) é,
no entanto, muito diferente. Directa, ou indirectamente, vamos tomando
conhecimento do número crescente de situações
de desrespeito, intolerância, agressão e vandalismo,
algumas de extrema violência, exercidas indiscriminadamente,
sobre homens, mulheres, crianças, velhos, minorias étnicas,
animais e bens públicos, ou privados. Estes actos, muitas
vezes, protagonizados por adolescentes e mesmo por crianças
em idade escolar, conduziram à necessidade de repensar o
papel da Escola, no contexto actual.
Apesar de não ser o único meio formativo, a Escola
continua, na nossa opinião, a desempenhar um papel relevante
no processo educativo, competindo-lhe assegurar o prolongamento
da estrutura familiar, na formação pessoal e social
dos alunos.
É, igualmente, reconhecida a necessidade de intervenção
precoce, na prevenção e resolução de
problemas, potencialmente geradores de conflitos, entre alunos,
que podem conduzir (e, frequentemente, conduzem) a situações
de agressão e de violência verbal e/ou física.
Um dos processo de intervenção precoce consiste em
ajudar as crianças e os jovens a gerirem os seus conflitos,
de forma eficaz, de modo a obter uma resposta criativa, extraindo
de cada situação, o que ela tem de positivo. Podemos
consegui-lo, através da Mediação, um processo
que prevê, exactamente, uma alteração profunda
nos nossos hábitos de abordagem dos conflitos.
A presente comunicação tem como objectivo descrever
as actividades programadas já realizadas, ou a realizar,
num futuro próximo, no âmbito do Clube de Mediação
Escolar, uma das actividades extracurriculares, constantes do Plano
de Actividades da Escola Básica 2 Frei António Brandão,
sede do Agrupamento Vertical de Escolas da Benedita, concelho de
Alcobaça.
O Clube de Mediação Escolar surgiu na sequência
da participação da Escola Básica 2 Frei António
Brandão, como escola piloto, no Projecto Internacional GESPOSIT,
entre Setembro de 2000 e Agosto de 2001, período em que vigorou
um protocolo com a Universidade Aberta, Coordenadora do Projecto,
a nível nacional e internacional.
O GESPOSIT é um Projecto de:
- Investigação;
- Formação;
- Inovação;
- Intervenção;
- Intercâmbio;
- Mediação, cujo objectivo mais amplo é
a gestão de conflitos e da violência, pela Mediação
Social, Familiar e Escolar.
Abordaremos, apenas, a Mediação Escolar, um processo
para resolver os conflitos, entre os alunos, que se desenvolve entre
pares, isto é, sem a intervenção dos adultos
(professores, funcionários, encarregados de educação),
com a ajuda de dois mediadores, sempre que possível, um rapaz
e uma rapariga.
Os mediadores e as mediadoras são alunos e alunas, imparciais
e neutrais que, após terem recebido formação
nesse sentido, são capazes de ajudar outros alunos e alunas,
seus pares, a resolverem os problemas, que os dividem, sem o recurso
a soluções de violência verbal, ou física.
A função dos mediadores e das mediadoras é
ajudar os alunos em conflito, que os procuram voluntariamente, a
restabelecerem o diálogo e a encontrarem uma solução,
que agrade a ambas as partes.
No final de um processo de mediação, bem conduzido,
não há vencedores, nem vencidos, porque ambas as partes
ganham com a solução encontrada em conjunto.
Os mediadores e as mediadoras não são, portanto :
- Juizes (não tomam decisões, não aplicam
castigos);
- Advogados (não defendem, não acusam, não
dão conselhos);
- Polícias (não procuram saber quem é o
culpado);
- Médicos (não passam receitas).
O seu papel é variável, conforme a natureza do conflito,
a capacidade e/ou disponibilidade das partes para resolverem o conflito
e a personalidade dos próprios mediadores e mediadoras.
Assim, podem ter:
- Um papel passivo, limitando-se a facilitar a comunicação
entre as partes;
- Um papel mais activo, ajudando, se necessário, na negociação
e na resolução do conflito, isto é, na busca
de soluções alternativas.
Com a formação, os mediadores e das mediadoras têm
oportunidade de adquirir conhecimento das técnicas, alguma
experiência de mediação e alguma experiência
de negociação. Aprendem a avaliar as situações
de conflito, identificando o objecto do conflito, caracterizando
os actores e avaliando os contextos.
Com a prática de Mediação Escolar, os mediadores
e as mediadoras desenvolvem várias qualidades pessoais, nomeadamente:
- Capacidade de ouvir.
- Capacidade de comunicar.
- Responsabilidade.
- Distanciamento.
- Paciência.
- Criatividade.
A deontologia da Mediação implica:
- Neutralidade;
- Confidencialidade;
- Imparcialidade;
- Responsabilidade, assegurando a igualdade de tratamento, a
justiça e o equilíbrio nas negociações,
suspendendo a mediação, quando necessário.
A participação da Escola Básica 2 Frei António
Brandão no Projecto GESPOSIT, durante o ano lectivo de 2000/2001,
implicou a realização de várias actividades
de sensibilização da comunidade educativa, formação
de professores e de dezasseis alunos voluntários, de ambos
os sexos, com o apoio científico e pedagógico da Universidade
Aberta. Os referidos alunos exerceram funções como
mediadores e mediadoras, entre Outubro de 2000 e Junho de 2001.
Ao longo do ano lectivo, os mediadores e as mediadoras receberam
apoio por parte da coordenadora do Projecto, na Escola Básica
2 Frei António Brandão. Simultaneamente, quinze docentes
do Agrupamento de Escolas da Benedita participaram num Círculo
de Estudos, no âmbito de Formação Contínua
de Professores, intitulado A Mediação na
Gestão de Conflitos, com a duração
de 50 horas, onde foram experimentadas técnicas de mediação,
em situações concretas de conflito (role play).
Este trabalho destinou-se, essencialmente, à formação
de futuros formadores de alunos mediadores.
Ao longo de todo o processo de implementação da Mediação
Escolar, ocorreram dois momentos de avaliação, com
base nas respostas dos alunos a dois questionários.
Através dos questionários, foi possível constatar
que, em geral, os alunos e as alunas da Escola Básica 2 Frei
António Brandão se encontram bem informados no que
respeita à Mediação e que têm a noção
exacta do que significa ser mediador ou mediadora. Muitos dos inquiridos
manifestaram o desejo de virem ser mediadores; outros, embora gostassem,
manifestavam receio de não serem capazes de desempenhar uma
função, que todos consideram de grande responsabilidade.
Dado o interesse revelado pelos alunos e alunas, por alguns elementos
do corpo docente e por alguns encarregados de educação,
embora o protocolo com a Universidade Aberta tivesse terminado em
Agosto de 2001, foi apresentada e aceite pelo conselho pedagógico
uma proposta de continuação das actividades, no âmbito
de Clube de Mediação Escolar.
Nesse sentido, foram projectadas e estão a ser desenvolvidas
várias actividades, abrangendo cinco grandes áreas,
nomeadamente:
1 - Sensibilização da Comunidade Educativa.
2 - Formação / Informação.
3 - Selecção, formação e apoio de alunos(as)
Mediadores (as).
4 - Divulgação do Projecto, dentro e fora da Escola.
5 - Avaliação do Projecto.
As actividades de sensibilização, informação
e divulgação, iniciadas a partir da segunda quinzena
de Setembro de 2201, dirigem-se, essencialmente, aos alunos do 5º
ano e respectivos encarregados de educação. Nesse
sentido, estão a decorrer diversas iniciativas, nomeadamente;
- Afixação de cartazes sobre a Mediação
Escolar, em locais visíveis, frequentados pelos alunos.
( a partir de 19 de Setembro)
- Visitas de seis alunas mediadoras às salas de aula dos
seus colegas do 5º ano, com o objectivo de explicarem o que
é a Mediação Escolar e esclarecerem eventuais
dúvidas. (entre 24 e 29 de Setembro)
- Sensibilização dos alunos pelos directores de
turma, ou professores do conselho de turma, que receberam formação
em Mediação Escolar.
- Carta aberta aos pais e encarregados de educação,
entregue aos destinatários pelos directores de turma.
- Abertura das candidaturas para mediadores e mediadoras.
- Passagem de um Questionário aos alunos do 5º ano,
com a finalidade de avaliar as suas percepções sobre
o conflito e a violência. (Dezembro)
- Publicação de artigos sobre Mediação
Escolar, na Imprensa regional e, eventualmente, no jornal escolar.
(ao longo do ano lectivo)
As actividades de formação de novos mediadores e
mediadoras estão a decorrer, em duas modalidades, nomeadamente:
- Formação inicial, em Outubro e Dezembro de 2001;
- Formação contínua, ao longo do ano lectivo,
em reuniões periódicas com a coordenadora do Clube.
A formação inicial, destinada a dois grupos de alunos
e alunas do 6º ano, decorreu entre 9 e 12 de Outubro de 2001.
Candidataram-se quarenta e sete alunos, vinte e três do sexo
masculino e vinte e quatro do sexo feminino e concluíram
a sua formação, com sucesso, trinta alunos, treze
rapazes e dezassete raparigas.
A formação teve a duração de dezasseis
horas, distribuídas por quatro sessões de quatro horas,
com uma componente teórica de seis horas e uma componente
prática de oito horas. As restantes duas horas foram ocupadas
com a discussão das condições necessárias
ao bom funcionamento da Mediação, eleição
dos coordenadores e sub-coordenadores dos grupos e distribuição
de tarefas. A actividade terminou com uma pequena cerimónia
de entrega de distintivos e certificados aos mediadores e mediadoras,
cerimónia em que participaram as directoras de turma, a vice-presidente
do conselho executivo e a presidente do conselho de escola.
A formação dos dez alunos seleccionados, do 5º
ano, decorrerá de forma idêntica.
Os mediadores e as mediadoras, após um período de
reflexão, reuniram com a coordenadora do Clube, em 18,19
e 25 de Outubro, para constituir as equipas de mediadores/mediadoras
e elaborar os horários semanais de atendimento aos colegas,
na Sala de Mediação.
O elevado número de mediadores e mediadoras permite uma
cobertura de quinze horas que, previsivelmente, será alargada
para vinte, após a formação dos alunos do 5º
ano. Cada uma das equipas de mediadores e mediadoras permanece uma
hora por semana, na Sala de Mediação, disponível
para receber os colegas, que desejem recorrer à sua ajuda
para resolver conflitos.
As actividades do Clube serão avaliadas, durante os meses
de Maio e de Junho, por meio de dois questionários: um dirigido
a todos os alunos da escola e o outro, apenas aos mediadores e às
mediadoras. Em ambos os casos, os dados obtidos receberão
tratamento estatístico, sendo posteriormente divulgados à
comunidade educativa, através de um relatório.
Em resumo: a prática da Mediação Escolar,
como processo de resolução de conflitos e de prevenção
da violência, é demasiado recente e pouco divulgada
em Portugal, pelo que não é possível tirar
conclusões definitivas acerca do seu contributo para o processo
educativo das crianças, dos adolescentes e dos jovens, que
frequentam as nossas escolas. No entanto, pelo menos na Escola Básica
2 Frei António Brandão, conta com um número
crescente de adeptos, entre professores, alunos, funcionários
e encarregados de educação. É particularmente
significativa a boa aceitação do processo pelos alunos,
a quem, afinal se destina, uma vez que é desenvolvido apenas
com alunos, entre alunos e para alunos. É, além disso,
um processo bastante económico, que não necessita
de muitos recursos, para funcionar.
Quanto aos recursos humanos são necessários:
- No mínimo, 20 mediadores e mediadoras.
- Um, ou dois, professores, com formação em Mediação
Escolar, responsáveis pela formação inicial
e contínua dos alunos e pelo acompanhamento do processo.
- Um funcionário que garanta a abertura da Sala de Mediação,
nas horas afixadas no Horário da Mediação.
No que se refere aos recursos materiais são necessários:
- Sala de Mediação (compartimento de pequenas dimensões,
se possível, utilizado só para esse fim);
- Mesa redonda;
- Cadeiras (quatro, pelo menos);
- Armário;
- Quadro preto;
- Giz;
- Dossier, papel, fotocópias.
- Horas necessárias ao desenvolvimento do Projecto:
2 / 3 horas semanais, para os/as professores / professoras responsáveis.
Pensamos, portanto, que esta experiência, tão do agrado
dos alunos e alunas da Escola Básica 2 Frei António
Brandão, deveria ser alargada, a outras escolas do País...
Só assim, poderemos concluir da adequação do
processo aos objectivos que se propõe atingir.
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