Introdução
A experiência que será descrita neste informe refere-se
ao relato de uma aula dada a alunos de pré-escola - educação
infantil sobre o tema astronomia. Esta experiência faz parte
de um projeto envolvendo os professores de física da Universidade
de Passo Fundo, RS/Brasil, no qual se desenvolvem atividades práticas/experimentais
de física com alunos da educação infantil.
O objetivo do projeto é fomentar na criança a curiosidade
por descobrir o mundo que a cerca, cultivando o gosto pela ciência.
A criança é naturalmente curiosa, investigativa e
observadora, características que vão desaparecendo
a medida que os estudos vão avançando, chegando ao
ponto de aceitar os conhecimentos sem questiona-los. Essa situação
vem se perpetuando ao longo dos anos e tem sido um dos fatores que
tem contribuído para afastar os estudantes do ensino de física,
criando um dogma em torno desta ciência.
Outro ponto motivador para o desenvolvimento desta pesquisa é
a contribuição que o contato com a física,
nas séries iniciais, possibilita para a formação
da consciência critica da criança diante das descobertas
dos processos tecnológicos presentes no cotidiano. Em se
tratando de astronomia, questões como a origem do universo,
os alienígenas e as viagens espaciais, são assuntos
debatidos por toda a sociedade, não apenas pelos cientistas,
de maneira que a criança houve e questiona sobre esses assuntos.
Discuti-los no ambiente escolar parece ser uma oportunidade de proporcionar
que essas crianças sejam capazes de respeitar e compreender
tais situações.
A experiência
Durante o ano, a professora da escola campo da pesquisa, desenvolveu
com seus alunos de pré-escola (faixa etária de 5 a
6 anos), temas relacionados a ciências naturais e contou com
a participação dos professores de física da
UPF, que em visitas a escola, desenvolveram com os alunos experimentos
relacionados a fenômenos físicos presentes nas diferentes
situações cotidianos dos alunos. O projeto encerrou
o ano com uma visita as dependências do Laboratório
de Física da Universidade, oportunizando as crianças
partilhar explicações sobre temas de suas curiosidades
e viajar no mundo de descobertas e conhecimentos sobre o nosso universo.
A escolha do tema astronomia como tema de encerramento do ano,
partiu dos alunos que estavam envolvidos com a construção
de um vulcão. A partir deste tema gerador, a professora desenvolveu
estudos sobre os locais de maior incidência dos vulcões,
o que possibilitou a análise do planeta Terra e, desta forma,
o estudo do universo.
Ao chegar ao Laboratório de Física da UPF, os alunos
estavam ansiosos e cheios de questionamentos sobre o tema da aula.
Inicialmente foi abordado o tema Terra - Lua - Sol, fases da Lua
e Eclipses, de forma a fazer com que os alunos se sentissem parte
integrante do sistema, através de simulações
experimentais. No prosseguimento, os professores da UPF, apresentaram
réplicas em escala proporcional da nave Apolo 11 e do ônibus
espacial.
A metodologia utilizada no desenvolvimento das atividades envolvia,
além da participação ativa dos alunos nas experiências,
a possibilidade de realizar questionamentos sobre o tema em qualquer
momento. Esse fato, no inicio, parecia ser um entrave na realização
dos experimentos programados pelos professores, porém com
o avançar da aula, percebeu-se que este era o ponto principal
da atividade, dar a oportunidade de questionar no momento que os
alunos julgassem necessário.
Os questionamentos feitos pelos alunos da educação
infantil, foram cuidadosamente registrados e respondidos pela equipe
executora da atividade. Alguns merecem ser apresentados neste relato,
pois mostram o envolvimento das crianças com o assunto e
o conhecimento que ela tem sobre os fenômenos naturais, mesmo
que sejam conceitos adquiridos de forma espontânea, sem os
critérios e rigores que o conhecimento científico
exige.
Como que a Lua não cai na Terra? Por que é a Terra
que gira em torno do Sol e não o Sol em torno da Terra? De
que é formada a Lua? Por que as naves conseguem chegar a
Lua e os aviões não? Como o homem leva ar para a Lua?
Por que o foguete liberta os tanques vazios? Se existe alienígena
por que eles não querem ser amigos nossos? Como o professor
sabe tudo isso, se ele não consegue ir ao espaço?
Esses foram alguns dos questionamentos feitos pelas crianças
ao observarem as explicações, as simulações
e ao visualizarem as réplicas apresentadas pelos professores
da Universidade. As respostas que muitas vezes eram dadas pelos
próprios estudantes demonstram o envolvimento deles com o
assunto. Desta forma, a atividade que parecia ser apenas mais uma,
acabou por ter um destaque especial no projeto, pois possibilitou
ao grupo de pesquisadores perceber que a astronomia é uma
ciência que pode e deve ser abordada já nas séries
iniciais. Os alunos nesta faixa etária apresentam curiosidade
e questionamentos importantes referentes ao tema e que devem ser
trabalhados pelos seus professores, pois a astronomia apresenta
caráter multidisciplinar, possibilitando que vários
temas relacionados a diferentes áreas do conhecimento sejam
desenvolvidos a partir dela.
Conclusão
A atividade desenvolvida naquela tarde com os alunos da educação
infantil - pré-escola relacionado a astronomia, possibilitou
uma reflexão do grupo de professores da UPF sobre a importância
do seu estudo neste nível de escolaridade. Buscou-se a partir
desta situação, discutir com professores desse grau
de ensino a experiência realizada e percebeu-se que não
se trata de um grupo de alunos a parte, mas que as curiosidades
e os questionamentos sobre o Universo fazem parte do cotidiano do
ambiente escolar, mesmo nos níveis iniciais de escolaridade.
Essa reflexão permitiu que os pesquisadores aprofundassem
seus estudos sobre a importância da prática de educação
em ciências, desde esse nível de escolaridade. Entretanto,
a questão principal que emergiu desta investigação,
não é relativa a importância do estudo da astronomia,
pois isso parecer ser inegável, mas a falta de preparo dos
professores da educação infantil e do ensino fundamental
para tratar do assunto. Eles relatam que não se sentem suficientemente
preparados para desenvolver este tipo de atividade e de discussão
no ambiente escolar. A partir desta problemática o grupo
de pesquisadores pretende desenvolver um projeto específico
para capacitar e aperfeiçoar docentes das séries iniciais
no tema astronomia. Promover com isso, a difusão da astronomia
e a elaboração de equipamentos para demonstrações
e simulações em atividades práticas.
Por fim, cabe dizer que a concepção de ensino de
ciências, em particular de física, que se tem hoje
é diferente da desenvolvida nas escolas anos atrás.
Hoje, vários são os autores que defendem a iniciação
de crianças nos estudos de conceitos científicos.
A sociedade contemporânea vivencia um período de avanços
e de extrema dependência da ciência e tecnologia. Não
cabe mais ao professor apenas repassar informações,
ele deve proporcionar em sala de aula um ambiente favorável
a busca pelo conhecimento, a vontade de aprender. O papel do professor
é de encorajar seus alunos a fazer conexões entre
os conhecimentos desenvolvidos no ambiente escolar e os diversos
eventos externos ao mundo da simulação, descobrindo
a ligação entre a situação vivida e
os conceitos trabalhados na escola.
Referenciais bibliográficos
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Tradução, Magda S. S. Fonseca. 4 ed. Campinas, SP:
Papirus, 1995.
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ideário de uma alternativa brasileira para o ensino de ciências.
3a ed., editora Papirus, Campinas, 1992.
MOREIRA, Marco Antonio. Uma abordagem cognitiva ao ensino da física:
a teoria de aprendizagem de David Ausubel como sistema de referência
para a organização do ensino de ciências. Porto
Alegre: Ed. da Universidade UFRGS, 1983.
MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. O Livro de Ouro
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REGO, Teresa C. Uma perspectiva histórico-cultural da educação.
4ª ed. Petrópolis. Editora Vozes Ltda. 1995.
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