1. Introdução e apresentação
Nos novos horizontes da EAD - inserida no mundo pós-moderno
- destacam-se os ambientes virtuais. Esses locais no
ciberespaço se apresentam como caminhos viáveis e
importantes para a construção do saber em estudos
à distância. Além disso, a utilização
de recursos ou ferramentas em ambientes informatizados reconstroem
a lógica da vida do sujeito participante criando uma transformação
do seu processo pedagógico quando são baseados na
exploração da rede, na construção cooperativa
de conhecimento, nas interlocuções que ocasionam mediações
entre professor-aluno e quando o ambiente tem design que possibilite
inúmeras possibilidades de interação.
Dentro desta proposta, o Lelic (Laboratório
de Estudos de Linguagem, Interação e Cognição)
da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) desenvolveu
uma ferramenta denominada For-Chat para o incremento da EAD, que
se encontra na Plataforma AVENCCA Ambientes Virtuais
para Encontros de Sentido, Construções Conceituais
e Aprendizagem. Essa ferramenta inclui situações denominadas
chats (salas de bate-papo), fóruns de discussão e
murais de recado. É um ambiente virtual onde os alunos participam
sincronicamente e assincronicamente, possibilitando a interação
no tempo e no espaço, além de propiciar aos especialistas
e/ou professores inúmeras condições de sondagem
do seu uso por parte dos alunos, desde estatísticas de colaborações
e entradas dos discentes, até os portfólios e/ou memória
e páginas pessoais de cada participante, possibilitando a
interação no tempo e espaço e o registro quantitativo
e qualitativo da participação.
O programa também efetua o ordenamento das mensagens seguindo
uma estrutura de cadeia, de tal forma que dentro do banco de dados
cada uma recebe um identificador único e aponta para o identificador
da próxima mensagem. É possível efetuar o acompanhamento
individual da produção dos usuários em quadros
de horários dividida por semanas. Aos usuários é
permitido acessar apenas seu próprio registro, enquanto que
orientadores têm acesso a qualquer registro. As vantagens
no uso do For-Chat decorrem dos seguintes fatos: usuários,
independente de sua localização, podem interagir simultaneamente
entre si; mensagens antigas permanecem disponíveis para interação;
a estrutura posicional da exibição das mensagens evita
descontinuidade dos assuntos tratados; o sistema de registro possibilita
um controle de freqüência. (Axt; Medeiros
& Stuermer-Daitx, 2003).
2. A ferramenta
O Software For-Chat é uma ferramenta de comunicação
que pode ser utilizada por aprendizes e professores de vários
níveis de ensino, em qualquer área do conhecimento,
sempre que o objetivo for a interação dialógica
(argumentativa, narrativa, expressiva, contratual), de caráter
teórico conceitual-metodológico ou de caráter
estético-ficcional, em que todos os participantes se encontram
em posição de interlocução, por meio
da escrita autoral. Situa-se entre um fórum, um chat e um
quadro mural.
feito para conversar, o Forchat provê que os interlocutores
fiquem o tempo todo imersos no próprio texto em construção,
sem dele tomar distância, na medida em que os formulários
de edição de texto ficam sempre expostos e disponíveis
no mesmo espaço do texto já editado; o Forchat é,
no entanto, mais do que um chat, é também um fórum,
na medida em que se constitui mediante uma memória, a qual
se apresenta visível e evidente a todo e qualquer movimento
de resgate de registros, que podem ser procurados, mas também
postados quando de sua edição, tanto por ordem cronológica
quanto por ordem de posição (não-linear);
os registros podem ainda ser recuperados a partir do nome de cada
participante-autor, podem também apresentar tratamento
estatístico em termos de freqüência. Finalmente,
o ForChat traz de ferramentas como o quadro mural, e também
do chat, a idéia de desregulamentação de
tópicos hierárquicos, instaurando a simultaneidade
das temáticas e horizontalidade das relações
heterárquicas entre eles, desfazendo qualquer sentido de
prioridade, de estabelecimento, de maior ou menor relevância
no tratamento dos mesmos. (idem p.257).
Do ponto de vista da programação, o Software For-Chat
é uma ferramenta de comunicação que viabiliza
o intercâmbio de informações em formato de lista
de discussão, dispondo, entretanto, de todos os registros
on-line. A estrutura do software baseia-se no armazenamento de mensagens
em um banco de dados MySQL, ordenadas por meio de uma página
em PHP para posterior exibição em um browser. Os usuários
possuem um cadastro único (orientadores têm direitos
adicionais) e o acesso ao sistema é permitido apenas a estes.
Isto permite que o programa armazene no banco de dados a mensagem,
seu remetente e o momento exato do envio.
O programa também efetua o ordenamento das mensagens seguindo
uma estrutura de cadeia, de tal forma que dentro do banco de dados
cada uma recebe um identificador único e aponta para o identificador
da próxima mensagem. A visualização padrão
das mensagens obedece ao ordenamento preestabelecido. Adicionalmente
existe a opção de visualizá-las por ordem cronológica.
As informações armazenadas (mensagem, usuário,
data e horário) possibilitam a criação de um
registro, onde pode se fazer o acompanhamento individual em quadros
de horários divididas por semanas, amparando os orientadores
em sua metodologia de trabalho avaliativo e de intervenção,
contemplando ainda possibilidades de avaliação cooperativa
e auto-avaliação, na medida em que os alunos/usuários
têm acesso ao seu próprio desempenho, tanto em termos
quantitativos, quanto no que refere à extração
de todas as contribuições por ele efetuadas, ao longo
do tempo, com vistas à sua análise. Aos usuários
é permitido acessar apenas seu próprio registro, enquanto
que orientadores têm acesso a qualquer registro.
O For-Chat produz, por simulação, em meio à
aparentemente caótica produção de textos/mensagens/sentidos/significações,
as condições para a experimentação e
vivência de novos desafios. A aprendizagem e a construção
do conhecimento são constatadas por meio do texto coletivo
e na auto-avaliação (Memoriais de Conceitos) que cada
integrante desenvolve. Esses textos avaliativos permeiam o coletivo,
em construção pelo grupo, buscando conceitos em geração
e circulação.
Os Memoriais de Conceitos são textos individuais publicados
em formato HTM. Estes são alocados no interior da plataforma
e disponíveis a todos os integrantes do grupo. São
característicos da intervenção no contexto
coletivo, implicando pela própria intervenção
a reflexão avaliativa da trajetória teórico-conceitual:
é o espaço da autoria. Nesse momento, sobressai do
aparentemente anárquico desenvolvimento do texto coletivo
a coerência do conceito em construção, conceito
este multifacetado, sem limites claros e definitivos, polissêmicos
e polifônicos.
As telas iniciais da ferramenta:
Figura 1
Página de abertura e login
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Figura 2
Página "Índice" das seções
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Figura 3
Página de identificação dos participantes
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Figura 4
Interface de comunicações
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Figura 5
Detalhe da "Interface de comunicações"
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Figura 6
Registros de acessos dos participantes
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Figura 7
Página para FTP dos "Memoriais de Conceito"
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3. A Pedagogia
No mundo virtual, no âmbito pedagógico, há
de se ter clareza com relação à pedagogia de
base para o desenvolvimento e uso dos recursos informáticos,
a fim de se trabalhar efetivamente na construção da
cidadania, autonomia e democratização do conhecimento,
oportunizando condições favoráveis para o processo
positivo do ensino-aprendizagem.
Neste sentido, em ambientes informatizados deve haver a disponibilização
de recursos que viabilizem a interação e as trocas
cooperativas para a construção do conhecimento, independentemente
de área específica de atuação.
Peters (2001) realça que a proposta do estudo autônomo
é conhecida há muito na teoria e na prática;
em contraposição, os tradicionais procedimentos didáticos
expositivos referem-se a um estágio passado da sociedade
e são grosseiramente inadequados: Em relação
às universidades com presença isso vale especialmente
para as preleções, em universidades à distância,
em relação aos cursos de ensino a distância,
preparados em detalhes. O estudo autônomo, ao contrário,
parece corresponder às tendências do tempo e estar
aberto para o futuro.(idem, 2001, p. 97)
Os indivíduos que buscam cursos à distância
para atualizar, qualificar e/ou complementar sua formação
podem apresentar certas especificidades: maior experiência
de vida e profissional; estudos em tempo parciais, paralelos às
atividades laborais, sociais e familiares; busca de ascensão
social; qualificação e idade média superior
a dos estudantes de cursos regulares presenciais (Peters, 2001).
Conforme Axt e Maraschin (1999), ambientes de aprendizagem são
locais não necessariamente geográficos que oportunizam
a realização de experimentações cognitivas
e pesquisas, implicando ludicidade, manipulação de
objetos do ambiente, perturbações, bem como interação
com outros sujeitos. Tais ambientes, mediados pela telemática,
enriquecem o estabelecimento de canais de comunicação,
apropriação ativa das informações, baseada
em explorações e construção cooperativa
de conhecimento por meio das interações de grupos
virtuais.
Dentre as mudanças oportunizadas pela rede, por meio da
intervenção ativa dos participantes no manuseio de
inúmeras fontes de referência, identifica-se um crescimento
na autonomia do indivíduo para a construção
do próprio conhecimento. E essa construção
não-linear, não-seqüencial viável
por sistema de hipertexto e hipermídia requer dos
instrutores/professores cuidado especial com planejamento, desenvolvimento
e avaliação de programas de EAD.
4. Conclusão
No âmbito da educação, as experiências
de uso de recursos informatizados têm sido estudadas e apontam
para a emergência de uma escrita auto-narrativa e autopoiética,
centrada na experiência pessoal e grupal da comunidade virtual,
na constituição de vínculos afetivos entre
os participantes e na potencialidade desagregadora e reflexiva oportunizada
pelos recursos informáticos e por sua forma de uso a partir
de proposta pedagógica baseada no desenvolvimento de autonomia
para tomadas de posição e de decisão e na construção
do conhecimento.
O For-Chat vem ao encontro dessas realidades e ele é originário
de propostas oriundas das teorias da complexidade e da compreensão
de que tem crescido rapidamente, nesses últimos anos (em
particular no Brasil), o entendimento sobre a importância
de disponibilizar em ambientes informatizados, em especial no âmbito
da EAD, recursos que favoreçam a interação
e as trocas cooperativas.
A ferramenta é produto da mudança de mentalidade
que vem sendo gerada nas épocas pós-modernas.
Michel de Certau (1996 e 2000), na sua antropologia filosófica
faz compreender os trajetos, os caminhos e significados que os sujeitos
representam em seu imaginário: a estética e a sociabilidade.
Ele aponta para o vivido... O construído; nos levando a abraçar
a idéia de que nossos múltiplos e enredados processos
de inserção na sociedade nos formam como uma rede
de subjetividades. Com relação ao For-Chat, a tática
engendrada é uma arte de fazer diferente do legitimado
e apregoado nas lógicas pedagógicas do ensino presencial
e a distância centrado no professor. Subtraindo
e substituindo o fazer da sala de aula imposto pela
pedagogia centrada no professor, o aluno dá vida a um certo
corpo de conduta e práticas que o outorgam o papel de criador...
Emerge de um diálogo vivenciado e experimentado,
criando sua própria tática em sintonia com a da ferramenta
e recriando situações práticas ou operações
no seu interior. É a mesma lógica do consumidor de
Certeau que segundo Garcia e Lovink (2004) seria:
Ele transferiu a ênfase das representações
em si direto para os "usos" das representações.
Em outras palavras, de que modo nós, como consumidores, usamos
os textos e artefatos que nos rodeiam. E a resposta, ele sugeriu,
era "taticamente". Isso quer dizer de formas muito mais
criativas e rebeldes do que já tinha sido imaginado. Ele
descreveu o processo de consumo como um conjunto de táticas
pelas quais o fraco faz uso do forte. Ele caracterizou o usuário
(um termo que ele preferiu a consumidor) rebelde como tático
e o presumido produtor ( no qual ele inclui autores, educadores,
curadores e revolucionários) como estratégico. Estabelecer
esta dicotomia permitiu a ele produzir um vocabulário de
táticas rico e complexo o bastante para equivaler a uma estética
reconhecível e distinta. Uma estética existencial.
Uma estética da apropriação, do engano, da
leitura, da fala, do passeio, da compra, do desejo. Truques engenhosos,
a astúcia do caçador, manobras, situações
polimórficas, descobertas prazerosas, tão poéticas
quanntes do valor destas inversões temporárias no
fluxo do poder. E mais que resistir a estas rebeliões, fazem
tudo que podem para amplificá-las. E na verdade fazem com
que a criação de espaços, canais e plataformas
para estas inversões seja fundamental para sua prática.
Com isso, os alunos vão compreendendo os trajetos, os caminhos
feitos e significados por eles e pelos outros, buscando perceber
como representam em seu imaginário a estética e a
sociabilidade existente nas relações e no local For-Chat,
além de tentar entender de que forma isso reflete na sua
vida; recriando um cotidiano de práticas de vida, com seus
desejos e sonhos - "fazer com" de Certeau.
Essa ferramenta está sendo utilizada em algumas disciplinas
da área pedagógica e da Informática da Educação
na UFRGS, inclusive, em disciplinas do MEAD/UFRGS (Mestrado em Educação
a Distância), entre outras instituições.
Assim, justificam-se estudos do For-Chat e, conseqüentemente,
os ambientes virtuais de aprendizagem, não só na importância
de ser um estudo ligado à Internet (pelos vários motivos
já apresentados), mas também pelo que ele pode investigar
sobre a práxis pedagógica e a formação
do educando pela/na educação a distância. Dessa
forma, estudos mais profundos da ferramenta e seu uso auxiliam na
elucidação, proposição e contribuição
para uma EAD transformadora.
Referências
Axt, Margarete; Maraschin, Cleci. Narrativas avaliativas
como categorias autopoiéticas do conhecimento. Florianópolis,
Revista de Ciências Humanas, Série Especial Temática,
p. 21-42., 1999
Axt, Margarete; Medeiros, Fábio; Stuermer-Daitx, Tiago.
Desenvolvimento do software de comunicação For-Chat.
http://www.lelic.ufrgs.br/webteca/for-chat.pdf, março,
2003
Certeau, Michel de. A invenção do cotidiano:
artes de fazer. 2ª ed. Petrópolis, Vozes, 1996
Certeau, Michel de; Giard, Luce e Mayol, Pierre. A invenção
do cotidiano: morar, cozinhar. 3ª ed. Petrópolis,
Vozes, 2000
Garcia, David e Lovink, Geert. (2004) O ABC da mídia
tática. http://www.gardenal.org/cltn/archives/000206.html, julho
Peters, Otto. Didática do ensino a distância.
São Leopoldo, Ed. da Unisinos, 2001
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