| Redes e mediação:princípios epistemológicos da teoría da rede de mediadores em educação
 Elena  Maria Mallmann *   SÍNTESE: Aspectos epistemológicos da Teoria da Rede de Mediadores  são explicitados, sinalizando contribuições na investigação, na análise e na compreensão  do conceito mediação pedagógica. As reflexões são sustentadas por resultados  oriundos da investigação-ação sobre o processo de transposição didática de  materiais didáticos hipermídia. Argumenta-se que a Teoria da Rede de  Mediadores, na sua relação com a produção científica em educação, como avanço e  possibilidade, gera compreender a educação escolar em virtude das interações e  da interatividade requerida em torno dos conteúdos escolares. Conclusivamente,  destaca-se que o fator inovador na opção por essa matriz teórica no âmbito da  pesquisa e da produção conceitual em educação reside na relevância que os  atributos científico-tecnológicos adquirem no processo ensino-aprendizagem pela  indissociabilidade entre ciência, tecnologia e sociedade. Palavras-chave: mediação pedagógica; Teoria da Rede de Mediadores;  materiais didáticos hipermídia.
 Redes y mediación: principios epistemológicos en la  Teoría
 de la Red de Mediadores en educación
 SÍNTESis: A través de este trabajo se explicitan los aspectos epistemológicos de  la Teoría de la Red de Mediadores, mostrando sus contribuciones en la  investigación, el análisis y la comprensión del concepto de mediación  pedagógica. Las reflexiones se sustentan en los resultados obtenidos en una  investigación-acción del proceso de transposición de materiales didácticos  hipermedia. Para ello se argumenta la relación de la Teoría de la Red de  Mediadores con nuevos avances y posibilidades de la producción científica en  educación. Esta teoría genera una forma de entender la educación escolar, a  partir de las interacciones y la interactividad dentro de los contenidos  escolares. En conclusión, la opción de esta matriz teórica representa un fuerte  factor innovador de la investigación educativa, ya que, al no disociar ciencia,  tecnología y sociedad permite resaltar los atributos científico-tecnológicos en  el proceso de enseñanza y aprendizaje.
 Palabras clave: mediación pedagógica; Teoría de la Red de Mediadores;  materiales didácticos hiper-media.
 Networking  and mediation: epistemological principles of the Mediators Network theory in  education
 Abstract: In this paper we will present the epistemological  aspects of the Mediators Network theory, showing its contributions to research,  analysis and understanding of the concept of pedagogic mediation. With this  aim, we will discuss the relation between Mediators Network theory and the  newest breakthroughs and possibilities offered by scientific production in  education. This theory produces a way of understanding schooling through the  interactions and the interactivity within learning content. All in all, this  theoretical matrix presents itself as a strong agent for innovation in  educative research since it does not dissociate science, technology and  society, thus allowing us to highlight the technological and scientific  characteristics of the teaching and learning process.
 Keywords: pedagogic mediation; Mediators  Network theory; didactic hypermedia material.
  1.   Introdução  A reflexão nesse texto sustenta-se na  explicitação dos princípios redes e mediação do ponto de  vista da Teoria da Rede de Mediadores (Mallmann,  2008) com seus desdobramentos para o campo da pesquisa e da produção teórica em  educação. Desse modo, na primeira parte destacam-se as principais proposições  da Teoria da Rede de Mediadores do ponto de vista epistemológico, detalhando  contribuições para o campo da educação escolar especialmente pelas inovações na  interação e na interatividade. No segundo momento do texto, discutem-se as  nuances do princípio redes como fundamento para a compreensão das  estruturas produtivas de novos artefatos e de condições estruturantes do  desenvolvimento científico-tecnológico.  Na terceira parte apresentam-se os quatro atributos propostos  por Latour (1994; 1999; 2000; 2001) para a compreensão das especificidades e  desdobramentos da mediação, de acordo com a lógica das redes formadas pelos  coletivos humanos e não-humanos no campo da indissociabilidade entre ciência,  tecnologia e sociedade.   A partir dos esclarecimentos conceituais sobre os princípios redes e mediação, conforme proposições da Teoria da Rede de Mediadores,  parte-se para as reflexões específicas no campo da educação com a delimitação  temática em torno da mediação pedagógica.   A transposição dos princípios da Teoria da Rede de Mediadores  para análises, interpretações e reflexões no âmbito da produção educacional  está amparada nos resultados oriundos da investigação-ação sobre o processo de  elaboração de novos artefatos pedagógicos (materiais didáticos impressos e  hipermidiáticos, objetos e ambientes virtuais) geradores de tese de  doutoramento em educação (Mallmann,  2008).   Conclusivamente, destaca-se que o fator inovador na opção por  essa matriz teórica no âmbito da pesquisa e da produção conceitual em educação  reside na relevância que os atributos científico-tecnológicos adquirem na  compreensão das ações humanas no processo ensino-aprendizagem pela  indissociabilidade entre ciência, tecnologia e sociedade. A perspectiva teórica  da Rede de Mediadores tem sido apropriada pela educação, gerando, como  consequências, avanços e possibilidades na educação escolar do ponto de vista  da integração das tecnologias educacionais para fortalecer interação e  interatividade em torno dos conteúdos curriculares.  2.   Teoria da Rede de  Mediadores (TRM): princípios epistemológicos  A Teoria Ator-Rede (tar), conhecida internacionalmente como Actor-Network  Theory (ant) ou Théorie des  Acteurs-Réseaux é originalmente desenvolvida no campo das pesquisas e das  teorizações científicas e sociais. O Grupo Science, Technologie et Société (sts) pesquisa as relações sociais,  políticas e culturais no desenvolvimento científico e na inovação tecnológica (Moraes, 2004; Callon, 2007). Nas pesquisas e na produção teórica em  educação, no Brasil, (Mallmann,  2008) vem sendo denominada Teoria da Rede de Mediadores (trm) em virtude dos fundamentos para  reflexões sobre preocupações temáticas em torno das especificidades e  implicações de artefatos tecnológicos na mediação pedagógica. Do ponto de vista  educacional, essas implicações dizem respeito à operacionalização das  interações entre professores e estudantes e à interatividade permitida em  objetos e ambientes virtuais durante a manipulação de variáveis experimentais  e/ou percursos de navegação em materiais hipermídia na Internet.  No campo epistemológico da trm,  as proposições de Bruno Latour sobre a relação entre ciência, tecnologia e  sociedade se inscrevem dentro de um plano conceitual que ele chama de  «não-moderno» em oposição ao «acordo modernista» ou às denominações «pós-modernas».  Sua principal discordância em relação a essas concepções epistemológicas é a  separação entre a natureza (fatos), sociedade (poder) e discurso  (representação) que preconizam Sujeito e Objeto como dois polos  incomensuráveis. A proposta defendida por Latour (2000; 2001) é o agenciamento  entre Humanos e Não-Humanos (h-nh),  estabelecendo mediações em redes. Na educação escolar, uma das potencialidades  desses agenciamentos é a ampliação da interação entre professores e estudantes  para além da sala de aula, melhorando condições de ensino-aprendizagem.  Um mediadoré sempre um aspecto, um elemento, uma  entidade, uma ferramenta capaz de mobilizar, modificar, potencializar ações  dentro de um universo, de uma rede constituída de uma heterogeneidade de mediadores  h-nh. Compreensão epistemológica  essencial quando se trata da indissociabilidade entre ciência, tecnologia e  sociedade. No processo escolar, isso requer ter bons diagnósticos das condições  do contexto em que o processo ensino-aprendizagem transcorre já que as  tecnologias (mediadores não-humanos) podem ser utilizadas para produzir  inovações metodológicas na abordagem dos conteúdos curriculares de cada área.  A trm explicita o  conjunto de negociações que identificam a qualidade e a intensidade das relações  entre redes h-nh, uma vez que  fatores como infraestrutura, recursos e tempo são condições contextuais  envolvidas nos processos de construção do conhecimento científico e  tecnológico. O conhecimento científico-tecnológico, social e cultural é fruto  de projetos amparados por uma diversidade de fatores que garantem sua  sustentabilidade: financiamento, aliados políticos, laboratórios, equipamentos  tecnológicos de precisão, técnicas e procedimentos de registro, análise e  divulgação dos resultados. As proposições conceituais de Pasteur, Newton,  Darwin e Bacon, por exemplo, não teriam os alcances que tiveram se não tivessem  como aliados culturas microbianas, átomos, moléculas, laboratórios de  astronomia, combinações químicas e seres biológicos em constante desenvolvimento.  São redes de humanos, animais, máquinas, matéria em geral, agindo e fazendo  agir a partir das infinitas possibilidades de conexões. Desse ponto de vista  epistemológico, os elementos não-humanos na produção de novos artefatos e  conhecimentos não podem ser desconsiderados na coleta de dados, análise,  interpretação e generalizações nas pesquisas independentes da área. Já em  educação, o mesmo vale para a implementação das parametrizações curriculares e  transposições didáticas que geram materiais didáticos, projetos de cursos,  planos de ensino, planos de aula e registros de aula.  A natureza heterogênea dos mediadores interligados numa rede tem  interesse em trabalhos de investigação que se inscrevem na matriz conceitual da  trm. Metodologicamente falando, o  empenho está em detalhar e explicitar os conhecimentos desde suas etapas  iniciais de desenvolvimento, considerando os elementos que interferem nas  decisões e nas ações para que os produtos finais se caracterizem, qualifiquem e  quantifiquem de determinada maneira. Do ponto de vista das relações entre  natureza, sociedade e discursos os princípios que sustentam a trm implicam compreender que o  conhecimento não é fruto de ações místicas, mas resulta de um esforço  concentrado de h-nh agenciados nas  mais diversas áreas como Medicina, Engenharia, Bioquímica, Cibernética,  Informática, Sociologia, Psicologia, Neurologia, etc. Do ponto de vista  educacional, o aspecto epistemológico diz respeito aos estágios da transposição  didática.   O esforço e a contribuição estão justamente na transposição  desse marco epistemológico para as pesquisas e a produção conceitual no âmbito  da educação para que seja possível compreender melhor de que forma os artefatos  científico-tecnológicos mobilizam e potencializam as decisões e as ações  humanas no escopo da mediação pedagógica do ponto de vista das interações e  interatividade.  Um esclarecimento é necessário antes de adentrar ainda mais  nesse emaranhado de conceitos que estão em jogo quando o assunto gira em torno  dos postulados da trm e,  especialmente, de suas contribuições para analisar e refletir sobre os pilares  teórico-metodológicos da mediação pedagógica. O posicionamento analítico no  tratamento simétrico de Humanos e Não-Humanos como componentes em correspondência  numa rede heterogênea não quer dizer que pessoas estejam sendo tratadas como  máquinas e animais ou vice-versa (Latour,  2006). 
               O «conhecimento», portanto, é corporificado em várias formas  materiais. Mas de onde ele vem? A resposta da teoria ator-rede é que ele é o  produto final de muito trabalho, no qual elementos heterogêneos – tubos de  ensaio, reagentes, organismos, mãos habilidosas, microscópios eletrônicos,  monitores de radiação, outros cientistas, artigos, terminais de computador, e  tudo o mais – os quais gostariam de ir-se embora por suas próprias contas, são  justapostos numa rede que supera suas resistências. Em resumo, o conhecimento é  uma questão material, mas é também uma questão de organizar e ordenar esses  materiais. Este então é o diagnóstico da ciência, na visão ator-rede: um  processo de «engenharia heterogênea» no qual, elementos do social, do técnico,  do conceitual, e do textual são justapostos e então convertidos (ou  «traduzidos») para um conjunto de produtos científicos, igualmente  heterogêneos. (Law, 2007, p. 3).  A trm esboça um  quadro teórico que serve para explicitar condições e contornos da construção  dos conhecimentos científico-tecnológicos acoplados às determinações  socioculturais. Em últimas pesquisas, reflexões e publicações no âmbito  educacional tem-se vislumbrado a possibilidade de se lançar mão dessa matriz e  construir transposições/adaptações para as preocupações temáticas em educação,  especialmente no que diz respeito ao entendimento do movimento de produção de novos  artefatos pedagógicos (transposição didática que gera novos materiais  didáticos) (Mallmann, 2008; 2010).   Os postulados da trm têm  alicerçado a sistematização conceitual da cadeia produtiva que requer  competência científico-didática, autonomia e dimensões éticas no trabalho  docente de elaboração e utilização de  materiais didáticos impressos e hipermidiáticos (objetos e ambientes  virtuais) como mediadores não-humanos implicados na mediação pedagógica.   No Brasil, abordagens teóricas dessa natureza são inovadoras no  campo das pesquisas em educação, especialmente por proporem uma análise  alicerçada na indissociabilidade entre ciência-tecnologia-sociedade. Essa  indissociabilidade precisa ser levada em consideração no escopo educacional  para que as potencialidades das tecnologias educacionais possam ser bem  compreendidas, alavancando inovações metodológicas que permitam a interação  qualificada entre professores e estudantes e, também, movimentar a  interatividade.   Diante desse cenário, explicitam-se, a seguir, entendimentos  sobre conceitos, redes e mediação centrais na trm a partir dos textos de Latour (1994;  2000; 2001). Dessa maneira, pode-se esclarecer de que modo os postulados da trm têm sido bases epistemológicas  fundamentais para avançar teórico-metodologicamente em pesquisas, reflexões e  ações em torno da produção e da utilização de materiais didáticos hipermídia  (objetos e ambientes virtuais) para mediação pedagógica no sentido de  potencializar o ensino-aprendizagem.   2.1 Rede  No lastro epistemológico da trm, o conceito rede compreende  uma série de agenciamentos entre mediadores h-nh.  Uma rede é composta de nós, convergências e bifurcações entre mediadores  h-nh. Há muitos tipos e níveis de  redes. As conexões variam conforme valores, concepções, interesses e relações.  Podem ser as redes sociais primárias, como, por exemplo, a família ou amigos,  estendendo-se até as redes sociais secundárias como a instituição escolar, por  exemplo. Uma rede pode ser constituída por grupos sociais, povos, artefatos,  dispositivos e entidades, formando uma estrutura caracterizada por cada um dos  seus componentes.   O conceito rede fica mais fácil de ser entendido na  medida em que se percebe que cotidianamente os pensamentos em ação transcorrem  em redes. Está presente desde o campo da sociologia (redes sociais) até a  informática (rede de computadores). Os sistemas de informação e comunicação, de  transporte e energia elétrica são bons exemplos de redes sociotécnicas e redes  técnico-econômicas que estão presentes na interface entre o desenvolvimento da  ciência, da tecnologia e da sociedade. Rede implica sempre a  heterogeneidade, híbridos, agenciamentos de h-nh,  provocando sucessivas associações, delegações, (des)equilíbrios, mobilização e  potencialidade nas ações. Do ponto de vista do agenciamento, os mediadores são  analisados a partir das características dentro de uma mesma rede.   O conceito rede ocupa lugar importante na trm, já que a elaboração do conhecimento  científico está atrelada a um sistema com princípios explicativos, proposições  e generalizações. Conforme a trm,  a ciência, quando desconsidera a relação h-nh  estabelecida em redes, é orientada por um pensamento simplificador e  unidimensional. Opera sem levar em consideração as aleatoriedades, reduzindo o  conhecimento ao conjunto de resultados gerados numa observação que exclui as  interferências do observador.   Em educação, isso quer dizer que, ao pesquisar, analisar e  propor avanços conceituais sobre o processo de elaboração de materiais  didáticos como novos artefatos pedagógicos para mediação pedagógica, é  necessário levar em consideração um grande número de aspectos. Dentre eles, as  relações comunicativas estabelecidas entre os envolvidos na produção, os modos  de negociação, as formas de poder, as condições espaço-temporais, a  infraestrutura e, sobremaneira, as características dos novos artefatos  pedagógicos elaborados.  Diante dos resultados de pesquisa sobre elaboração de materiais  didáticos para a mediação pedagógica (Mallmann,  2008) pode-se afirmar que o conhecimento educacional gerado com base  epistemológica na trm: a) avança  na superação da dicotomia Sujeito-Objeto nos princípios de explicação; b)  incorpora a dinâmica ação-reflexão-ação como elemento de compreensão da  realidade; c) explicita o processo de construção do conhecimento científico  como condição de consciência da situação de inacabamento; d) incorpora o fluxo  criativo de novas situações de pesquisa e ensino-aprendizagem; e) toma como  referência o contexto sociocultural em que o conhecimento é produzido; f) explicita  as implicações das cadeias de equilíbrio-desequilíbrio nas redes de mediadores;  g) sistematiza conceitualmente eventos dinâmicos como o processo de elaboração  de novos artefatos pedagógicos (materiais didáticos); h) não negligencia as  implicações dos artefatos científico-tecnológicos no sistema de relações e  interação humanas em situações educacionais. Portanto, a concepção de mediação  pedagógica nessa base teórica perpassa a necessidade de interação e  interatividade em torno dos conteúdos curriculares.  O exercício de produção de novos mediadores no âmbito  educacional e da sua sistematização e proposição teórica suscita possibilidades  de abarcar cada vez mais as conformidades e as singularidades do agenciamento  que os mediadores humanos estabelecem com os não-humanos na produção da sua  existência. Conceitos, valores, saberes e significados aparecem na explicitação  de um conhecimento que passa a ser o porta-voz da própria mediação.  No cenário da ciência da educação, o desafio, portanto,  concentra-se na revisão de conhecimentos científicos que envolvem as  tecnologias, elementos socioculturais, étnicos e curriculares, fundamentos e  metodologias. Um processo ensino-aprendizagem sustentado nos princípios da rede de h-nh descarta a  transmissão-recepção, o professor como único detentor do saber, a verdade  absoluta dos conteúdos escolares, o desempenho da aprendizagem pautado somente  na origem social ou na hereditariedade genética e mensurações de input/output.  De acordo com esse princípio, torna-se possível analisar e compreender melhor  as implicações da utilização de mediadores não-humanos, como os materiais  didáticos hipermídia na mediação pedagógica como aspectos que produzem  implicações imediatas ou em longo prazo nas formas de comunicação e apropriação  do conhecimento.   2.1.1    Ciência em  ação   O conceito rede está  atrelado ao conceito ciência em ação na trm.  Se, de acordo com essa matriz teórica, o conhecimento é resultado da mediação  em redes compostas de h-nh,  torna-se necessário seguir os mediadores nas suas ações, arranjando mecanismos  e procedimentos para registrá-las, analisá-las e compreendê-las: entender e  divulgar o conhecimento científico que se dá no interior das próprias ações,  alcançar os contornos contextuais e culturais que envolvem as decisões.  As generalizações e inscrições científicas expressas por leis,  modelos, esquemas, matrizes, equações, gráficos, mapas, anotações, experimentos  de laboratório, relatórios e artigos representam os recursos mobilizados, os  procedimentos e estratégias implementados durante o percurso investigativo para  atingir determinados objetivos, produtos e resultados. O corpo  teórico-metodológico da trm é  formado com base na análise da ciência em construção. Reconhece-se a  importância de cada um dos componentes da rede, expandindo as  proposições conceituais na interface entre categorias naturais, sociais e  discursivas.   Na trm prioriza-se  como foco central o processo e as implicações de todos os mediadores. Por isso,  configura-se como matriz teórica apropriada para compreender as implicações do  processo de elaboração e utilização de novos artefatos pedagógicos (materiais  didáticos) para mediação pedagógica. Os materiais didáticos, objetos e  ambientes virtuais são os resultados concretos, os mediadores não-humanos  produzidos; estão materializados; podem ser compartilhados. Na perspectiva de  construção conceitual na trm, o  registro do processo, esquemas, ilustrações, gráficos, artigos, teses, entre  outros códigos de linguagem, também são resultados que permitem compartilhar  interpretações e análises do evento investigado.   Seguir os mediadores implica compreender que o conhecimento  científico é resultante das mediações estabelecidas no contexto da ciência  em ação, uma vez que os produtos (novos artefatos) sempre são efeitos de  uma rede heterogênea de h-nh.  A pergunta de estudos científicos embasados na trm deve girar em torno das interações,  interferências e ações. Como elas acontecem? Como se sustentam? Como geram  efeitos em níveis macro como organização, poder, estabilidade? (Law, 2007). Cartografar a ciência em  ação no interior de uma rede de h-nh  requer analisar as práticas cotidianas, registrar as decisões, compreender como  os problemas são resolvidos e organizar proposições conceituais que podem  servir de indicadores para ações futuras. Essa perspectiva epistemológica é  apropriada para a educação escolar, pois assim pode-se avançar para a produção  de conhecimento, levando em consideração a tecnologia, como resultado da  produção da humanidade. No lastro da trm,  os conhecimentos educacionais produzidos no âmbito dos fundamentos da educação  com base na filosofia, psicologia, sociologia e antropologia passam a ser  complementados em virtude do par ciência-tecnologia.  3.   Mediação   No espectro da trm, o princípio mediação se  localiza como um dos nós centrais acoplado ao conceito rede. Mediação é  um conceito amplamente utilizado em educação, tanto na modalidade presencial  quanto a distância. Tem suas raízes em diversas disciplinas específicas das  ciências humanas ou mesmo em princípios das ciências naturais. Embora muitas  vezes seja utilizado acoplado aos conceitos de pedagogia e didática nem sempre  a matriz teórica, na qual se apoia é explicitada. A mediação é um  princípio amplamente desenvolvido nos campos da filosofia, da sociologia e da  psicologia. Destaca-se como exemplo a Teoria da Atividade, desenvolvida nos  trabalhos de Vigotski, Leontiev, Luria e Davidov que adotam o conceito para  analisar a atividade humana historicamente desenvolvida.  A mediação é um conceito particularmente importante em  educação pelas relações estabelecidas na esfera do que Chevallard (1991) chama  de triângulo didático: Professores-Estudantes-Conhecimento. Devido a essa  especificidade, aspectos não-humanos como os materiais didáticos  hipermidiáticos adquirem um caráter mediador imprescindível no processo  ensino-aprendizagem, juntamente com todos os desdobramentos das ações humanas  envolvidas em torno desses artefatos pedagógicos. Esse caráter mediador é  marcado pela interação e pela interatividade requerida na educação escolar.   Os postulados da trm apontam  como contribuições particularmente importantes para a análise do processo de  produção de novos artefatos pedagógicos (materiais didáticos), utilizados em  grande escala na mediação pedagógica seja ela presencial ou a distância. O  conjunto de mediadores não-humanos que mobilizam e potencializam a interação no  processo ensino-aprendizagem implica na adoção de um ponto de vista conceitual  capaz de tratar da heterogeneidade, do híbrido que mistura, sem cessar, professores,  estudantes, tutores, materiais didáticos, objetos digitais, ambientes virtuais,  etc. A trm traz, portanto, um novo  palco para os estudos educacionais sobre mediação pedagógica pelo fato de estar  assentada no pressuposto da indissociabilidade entre ciência, tecnologia e  sociedade.   Para investigar e compreender as singularidades da mediação  pedagógica torna-se necessário registrar, analisar e entender as ações de cada  um dos componentes envolvidos, as decisões e as ações que provocam constantes (des)equilíbrios. Latour  (2001) permite dizer que a maneira de definir um mediador é por  intermédio de sua ação que provoca modificações, perturbações, que faz  enunciações. A definição de um mediador se consegue a partir das suas  performances, a partir daquilo que é capaz de fazer, por aquilo que provoca  mudanças na ação de outros mediadores. Não é uma questão de definir a essência  dos eventos, de definir o que «É» um mediador. Mas, sim de mapear a sua  potencialidade, aquilo que Pode Ser e Fazer. Os princípios centrais da mediação passam a ser a ação, interação e interatividade (Mallmann, 2008).  A mediação na perspectiva das redes não reforça a  oposição entre os mediadores. Isso caracteriza a mediação como um evento  que sempre depende da composição de h-nh  em redes, um acontecimento, a ação e os resultados efetivamente  produzidos. A mediação é entendida como força positiva, como pulsão,  ressonância das ações do coletivo de h-nh.   Analisar os eventos em redes implica entender que todos  os componentes são modificados durante as ações empreendidas. A compreensão  transcorre num plano em que a análise não se prende às relações lineares ou  circulares entre causas e efeitos, entre processo e produtos. Os processos  educacionais, nessa perspectiva, são composições que levam em consideração  contexto, artefatos (sociais, culturais, tecnológicos), condições, temas de  interesse, pessoas envolvidas. A mediação é o que se estabelece entre  todos esses aspectos sendo, ao mesmo tempo, propósito, processo e resultado.  Detalharemos, a seguir, as especificidades do conceito mediação tal como  proposto na trm para avançar na  explicitação das possibilidades e das inovações da mediação pedagógica.  3.1 Os quatro  significados da mediação   A mediação pedagógica, tal como  proposta em Mallmann (2008), situa-se dentro de um cenário em que se mesclam as  ações e as interferências de h-nh  desde os materiais didáticos efetivamente produzidos e dos entendimentos sobre  os mesmos, da interatividade e das interações que provocam, das ações ensinar e  aprender que impulsionam. Por isso, no escopo epistemológico da trm, uma definição da mediação e  de seu papel na organização de um coletivo de mediadores h-nh torna-se imprescindível. De acordo  com as contribuições de Latour (1994; 1999; 2000; 2001), mediação é um  conceito cheio de indeterminações e desdobramentos. Para compreendê-lo, o autor  propõe quatro significados complementares e interligados, discutidos a seguir:
 
               a) translação de objetivos: a partir dessa definição a preocupação central dos trabalhos  de investigação científica não é a definição do que é o objeto ou o que é o  sujeito numa rede. Há um deslocamento do verbo ser para a  locução verbal poder fazer. Discute-se a interferência simétrica de h-nh na ação, constituindo um terceiro  agente. Fica mais fácil ser compreendido a partir de exemplos já localizados no  cenário educacional, já que o entendimento que se procura é sobre o conceito  mediação pedagógica: o terceiro agente, o professor-material didático ou  o material didático-professor, forma-se a partir desse par humano  (professor) e não-humano (material didático). A translação de objetivos envolve  aspectos como a problematização, interesse, envolvimento e mobilização de  aliados. Os materiais didáticos tornam-se aliados dos professores no processo  de ensino e dos estudantes nas etapas de estudo. Por isso, analisar o processo  ensino-aprendizagem a partir da interação professor-estudante ou a partir da  mediação professor-materiais didáticos-estudantes requer bases epistemológicas  diferenciadas. 
               Os mediadores são sempre definidos a partir das interferências  que provocam nas ações dos outros numa rede. Na mediação pedagógica o  professor potencializa sua ação docente, primeiro ao elaborar o material e  depois ao implementá-lo. O trabalho do professor no processo  ensino-aprendizagem modifica-se na medida em que produz novos artefatos  pedagógicos (materiais didáticos). A ação do professor torna-se diferente em  função das ações realizadas em torno da produção material didático e também na  sua implementação. O interesse do professor não recai apenas na aplicação de um  material produzido por outro autor. O novo artefato pedagógico construído é a  marca concreta da sua própria autoria. O objetivo da ação docente amplia-se,  agregando competências científicas, didático-metodológicas, políticas e éticas,  fundamentais na transposição didática (Chevallard,  1991).  A translação de objetivos compreende um dos estágios mais  intensos do princípio da mediação do ponto de vista da trm. Agregar mediadores não-humanos para  potencializar as ações significa assumir graus de responsabilidade  diferenciados em relação à estabilidade das redes, garantindo interações  mais significativas. A mediação pedagógica é potencializada na medida em que as  ações humanas (professores, tutores, estudantes) estão sustentadas por  artefatos não-humanos (materiais didáticos hipermidiáticos), tendo em vista os  objetivos que pretendem ser alcançados no processo ensino-aprendizagem. 
               b) composição: aqui se fala em composição da ação como desdobramento da  «translação de objetivos». O agente Humano associa-se com o agente Não-Humano,  potencializando a ação. Dessa forma, ambos tornam «a ação uma das propriedades  das entidades associadas [...]. A ação não é uma propriedade de humanos, mas de  uma associação de atuantes». (Latour,  2001, p. 210). Não é somente um agente não-humano, mas diversos agentes  não-humanos que são articulados, adaptados, produzidos, modificados pelos  humanos, compondo novos objetivos, potencializando ações e fortalecendo a  indissociabilidade entre ciência, tecnologia e sociedade.
 c) obscurecimento reversível: o conceito de obscurecimento é tratado como sinônimo de  «caixa-preta». Em diversas situações os não-humanos sequer são percebidos.  Participam das ações, mas são tratados como se fossem invisíveis na medida em  que tudo transcorre no curso do tempo e do espaço planejados com antecedência.  Enquanto uma ação é praticada, vários mediadores h-nh ora se reúnem ora se dispersam, constituindo diversos  passos e grupos, embora isso nem sempre esteja explícito. 
               Numa situação pedagógica organizada em videoconferência, por  exemplo, na maioria dos casos os professores, tutores e estudantes tratam dos  conteúdos, realizam interações sem priorizarem suas compreensões em relação aos  artefatos tecnológicos envolvidos. Os mediadores não-humanos se tornam foco de  interesse quando provocam desequilíbrios, quando desestabilizam situações  confortáveis de comunicação. Eles são focos de atenção quando surgem problemas  que interferem diretamente no sucesso do planejamento inicialmente proposto. 
 
               d) delegação: a fronteira entre as coisas e os signos que elas emitem é  transposta porque novas funções são delegadas em virtude da presença de  mediadores não-humanos nas ações. Por exemplo, um quebra-molas interfere na  ação dos motoristas obrigando-os a diminuir a velocidade caso não queiram  provocar acidentes ou romper a estrutura do veículo. Esse mediador não-humano  comporta todo trabalho da equipe de engenheiros que o projetaram em função de  uma velocidade máxima permitida pela legislação, contempla a ausência de um  guarda controlando a velocidade e, além disso, substitui outros mediadores como  semáforos ou controladores eletrônicos de velocidade. A delegação é mais  incisiva que a translação porque a mudança de significado é muito maior. Há uma  mudança de comportamento humano imediata provocada pela presença de um mediador  não-humano. 
               Em se tratando da mediação pedagógica destaca-se a  potencialidade das atividades didático-metodológicas planejadas nos materiais  didáticos. Os Ambientes Virtuais de Ensino-Aprendizagem (avea), por exemplo, disponibilizam uma  série de ferramentas que permitem o planejamento de delegações no processo de  aprendizagem dos estudantes. Atividades de avaliação em hipertextos, tarefas,  lições ou edições colaborativas implicam em condutas diferenciadas. Na medida  em que os próprios materiais apresentam orientações que instigam os estudantes  a organizarem seus ritmos de estudos não é necessário que o professor ou o tutor  fiquem permanentemente de vigília sinalizando os percursos para os estudantes.   A partir dos quatro conceitos desenvolvidos por Latour (1994;  1999; 2000; 2001) a mediação implica ações numa rede h-nh como um coletivo que produz  eventos. «Em sentido algum se pode dizer que os humanos existem como humanos  sem entrarem em contato com aquilo que os autoriza e capacita a existir (ou  seja, agir)» (Latour, 2001,  p.221).  Mediadores provocam e potencializam ações e ao mesmo tempo se  modificam com ela. Portanto, só há sentido falar em mediação no interior  de uma ação. «Entremesclar-se; bifurcar; acontecer, coalescer; negociar; aliar;  ser circunstância de [...]. A ação não é o que as pessoas fazem, mas sim o fait-faire,  o faz-fazer, realizado juntamente com outros num evento, com as oportunidades  específicas fornecidas pelas circunstâncias» (Latour,  2001, p. 323).  Diante das especificidades do conceito mediação, fica  claro que os mediadores modificam as ações reordenando a conjuntura das redes.  Mais claramente, isso significa avançar para a compreensão de que os mediadores  (também denominados artefatos, ferramentas, recursos, tecnologias e, no nosso  caso, materiais didáticos) são essenciais para o desenvolvimento cognitivo,  para a ativação diante da resolução de problemas, agilizar comunicação,  potencializar colaboração e interação.  4.   Mediação pedagógica  Os conceitos redes e mediação no panorama conceitual da trm trazem  referências e ressonâncias significativas para a compreensão dos eventos  educacionais em virtude do foco temático que gira em torno do movimento  retrospectivo e prospectivo que os artefatos pedagógicos (materiais didáticos  hipermidiáticos, objetos e ambientes virtuais) provocam no triângulo didático  professores-estudantes-conhecimento. Essa é uma das esferas que permite  construir a transposição das proposições conceituais da trm para pesquisas e produções teórico-metodológicas em  educação, especialmente, para que os aspectos científico-tecnológicos  envolvidos na mediação pedagógica não sejam negligenciados. A ressonância dos  conceitos redes e mediação da trm na  produção teórica sobre mediação pedagógica podem ser mais bem compreendidas na  rede conceitual organizada na figura 1.  A mediação pedagógica comporta a relação das pessoas entre si e  dessas com o saber, levando-se em consideração todos os mediadores que  potencializam o ensino e a aprendizagem. A mediação pedagógica requer  preocupação com a organização didático-metodológica dos saberes a serem  ensinados, contemplando as ações em torno do conhecimento contextualizado em  função da linguagem, das práticas socioculturais e dos avanços  científico-tecnológicos. Tratar da mediação pedagógica implica recorrer às  singularidades do processo ensino-aprendizagem em virtude dos diferentes  aspectos que o compõem e isso, conforme a trm,  significa não perder de vista os mediadores humanos e os não-humanos.   
 Os recortes conceituais e operacionais que são propostos na  análise da mediação pedagógica sempre se desdobram em vários níveis em função  dos h-nh envolvidos. A mediação  dentro do contexto educacional vem acoplada aos conceitos da pedagogia,  didática, tecnologia, metodologia, fundamentos da educação (psicologia,  sociologia, filosofia) entre tantos outros pilares que poderiam ser eleitos em  função dos recortes temáticos específicos.   A mediação pedagógica se constitui dos enunciados, signos,  atributos, translações, composições e delegações próprias do evento  ensino-aprendizagem. O sentido da mediação pedagógica no interior das  circunstâncias educacionais é proporcionado pelo «faz-fazer»  característico dos mediadores como os materiais didáticos que promovem o  encontro de professores, estudantes e conhecimentos no âmbito das modalidades  presencial e a distância.  As ações ensinar e aprender transcorrem no percurso das etapas  de translação de objetivos, composição de novos objetivos, obscurecimentos e  delegações provocadas pela coletividade que professores e estudantes  estabelecem com os materiais didáticos nos contextos educacionais. Tanto  professores quanto estudantes e materiais didáticos são mediadores, compondo redes e gerando constantes espirais de equilíbrio-desequilíbrio.  Aqui a argumentação se concentra em torno de uma ideia  principal: compreender a mediação na perspectiva das redes preconizada pela trm significa  levar em consideração as ações propriamente ditas e, especialmente, o conjunto  de artefatos científico-tecnológicos que as potencializam. No campo  educacional, mediação pedagógica, portanto, não se trata das pessoas nem dos  materiais nem das tecnologias isoladamente. Uma definição amparada na trm sinaliza que a mediação pedagógica é  a dinâmica ação-reflexão-ação própria do processo ensino-aprendizagem  sustentada no princípio do «faz fazer» impulsionado pelas redes de h-nh que configuram o cenário  educacional.  Desse modo, os materiais didáticos são muito mais do que  intermediários, ferramentas, meios ou pontes que permitem o acesso de  professores e estudantes ao conhecimento. Esses artefatos pedagógicos mobilizam  os estudantes para a ação estudar da mesma forma como mobilizam os professores  para a ação ensinar. São imperativos, requerendo ações concretas de professores  quando se tornam autores nos períodos de planejamento e elaboração das  estratégias de ensino-aprendizagem. Da mesma forma, «fazem os estudantes fazer»  leituras, exercícios, pesquisas, estudos, avaliações, provocam interações e  comunicação.   Para compreender as implicações conceituais e operacionais da  mediação pedagógica amparada na trm explicitamos  que ela não se restringe a princípios únicos. Mediação pedagógica não pode ser  definida apenas como interação ou apenas como interatividade. Mediação também  não é compreendida como meio, caminho. Por isso, os artefatos tecnológicos não  são a mediação, são mediadores. Nesse viés, materiais didáticos precisam estar  sistematizados de tal forma que mobilizem ações e operações de  ensino-aprendizagem.  5.   Conclusões  Um dos propósitos desse texto foi  explicitar os conceitos redes e mediação da trm como contribuições para investigar,  analisar e compreender as implicações dos materiais didáticos hipermidiáticos,  objetos e ambientes virtuais na mediação pedagógica, seja ela presencial  ou a distância. O fator inovador na opção por essa matriz teórica no âmbito da  pesquisa e produção conceitual em educação reside na relevância que os  atributos científico-tecnológicos adquirem na compreensão das ações humanas no  processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, ao tratarmos de mediação  pedagógica levamos em consideração não apenas a interação entre as pessoas  envolvidas, mas também as implicações das próprias tecnologias que permitem  e/ou potencializam essa interação por meio da interatividade. Na base desse  argumento é possível pensar uma infinidade de inovações no campo educacional,  avançando para a produção de tecnologias que permitem cada vez mais a interação  e a interatividade em torno dos conteúdos curriculares, levando-se em  consideração as especificidades de cada área.  A mediação pedagógica requer dos estudantes um exercício  intenso de autonomia na organização do tempo-espaço de estudo e dos professores  competência científico-didática, autonomia e princípios éticos na seleção,  adaptação e/ou produção de novos artefatos pedagógicos (materiais didáticos)  para o ensino.  Desse modo, percebe-se que as ações ensinar e aprender são  mediadas pelos materiais didáticos hipermidiáticos que comportam delegações  didático-metodológicas (desafio e ativação para o estudo) desdobradas em textos  para leitura e interpretação, atividades de pesquisa, exercícios, resolução de  problemas, resumos, destaques, tarefas individuais e coletivas. Nesse aspecto  reside uma consequência especial na proposição do conceito mediação pedagógica  compreendida na perspectiva epistemológica da trm.  Na medida em que investigarmos e compreendermos melhor o agenciamento possível  nas redes h-nh (no escopo escolar  essas redes se formam entre professores, estudantes e tecnologias educacionais)  poderemos avançar em termos de fluência tecnológica; metodologias que levem em  consideração estilos de aprendizagem; estratégias que desafiem e ativem mais os  estudantes (delegações propriamente ditas).  Quando os professores se envolvem na produção de novos materiais  didáticos eles próprios organizam e sistematizam essas delegações de acordo com  as condições estruturais das redes de h-nh  envolvidos durante a produção. Desse modo, os resultados das pesquisas  realizadas em torno das potencialidades dos materiais didáticos na mediação  pedagógica indicam a necessidade de analisar, além das características do  material propriamente dito, as condições logísticas, o tempo, os recursos, as  referências e as evidências de colaboração.  Uma das maiores contribuições da trm  enquanto fundamentação epistemológica no escopo da pesquisa e da  produção conceitual em educação é permitir compreender que a mediação  pedagógica não se resume à interação e à comunicação que acontece entre  professores e estudantes no percurso do processo ensino-aprendizagem. Ao  incluir os materiais didáticos, objetos e ambientes virtuais na estruturação de  um evento educacional torna-se evidente que as delegações que eles comportam  implicam na disposição dos estudantes diante dos estudos e da compreensão  conceitual estabelecida a partir dos conhecimentos prévios até os  científico-escolares.  A mediação pedagógica é a própria dinâmica  ação-reflexão-ação docente e discente acentuada pelos mediadores não-humanos  cuja presença e relevância são evidentes em situações educativas,  independentemente do nível de escolaridade. Os postulados da trm contribuem de maneira significativa  nas reflexões sobre a mediação pedagógica por evidenciarem atenção ao  movimento tanto retrospectivo quanto prospectivo do processo  ensino-aprendizagem fortalecido, sistematizado, potencializado ou obscurecido  pelos mediadores não-humanos. Por exemplo, para examinar com cuidado e  compreender as particularidades de uma aula, muitas vezes torna-se necessário  recorrer aos acontecimentos e condições transcorridos durante as fases de  planejamento, tanto em nível macro (políticas públicas, currículos, projetos  pedagógicos, recursos didáticos, planos de ensino) quanto em nível micro  (planos de aula, materiais didáticos, laboratórios).  A mediação pedagógica não se restringe às etapas de  aplicação das aulas, de modo que, ao pesquisar, observar, registrar,  compartilhar e avaliar o processo de produção dos novos artefatos pedagógicos,  antes mesmo da aplicação das disciplinas, torna possível compreender muitas  singularidades da mediação. Da mesma forma, essas especificidades são mais bem  compreendidas quando se leva em consideração as potencialidades ou fragilidades  dos mediadores não-humanos (materiais didáticos) utilizados.   Muitos mediadores diversificam, ampliam e reorganizam as ações  no processo ensino-aprendizagem, reformulando constantemente o sentido e a  potencialidade da mediação pedagógica. De acordo com a trm, muitas singularidades a respeito  desses mediadores somente são perceptíveis enquanto se acompanha o seu  movimento de produção e utilização. Assim acontece com os mediadores  pedagógicos não-humanos. Diversas questões da mediação pedagógica podem  ser compreendidas quando se está implicado no processo de elaboração dos  materiais didáticos hipermidiáticos. Inevitavelmente, as ações ensinar e  aprender se reconfiguram nesse cenário de produção de novos mediadores não-humanos.  Competências, habilidades, poderes para decisões e disponibilidade para ação  ensinar-aprender requerem diferentes matrizes conceituais e operacionais quando  se admite as redes de h-nh.  No lastro epistemológico da trm,  a mediação pedagógica se define por todas as ações e operações (interação e  interatividade) que geram desenvolvimento cognitivo e ativação diante da  resolução de problemas típicos da escolaridade. A mediação pedagógica é, ao  mesmo tempo, interação e interatividade em torno de recortes temáticos  específicos (redes conceituais parametrizadas curricularmente). Por isso,  precisa ser potencializada pelos mediadores h-nh  que constituem a rede escolar.   Portanto, a mediação pedagógica é um evento que se define  pelas ações realizadas e provocadas pelos mediadores h-nh. De acordo com a trm,  a ação (Faz fazer) é um princípio central nas situações de  ensino-aprendizagem. No cenário da pesquisa educacional, a opção por essa  matriz teórica é inovadora e pode ser considerada um salto conceitual para a investigação  e a compreensão da mediação pedagógica, já que na perspectiva das redes  o fundamento epistemológico reside na indissociabilidade entre ciência,  tecnologia e sociedade. Callon, Michel (2007). What is Actor-Network Theory? <http://carbon.cudenver.edu/~mryder/itc_data/ant_dff.html>  [acesso: julho de 2009].Chevallard, Yves (1991). La transposición didáctica:  del saber sabio al saber enseñado. Buenos Aires: Aique Grupo Editor.
 Deleuze, Gilles (1998). Lógica do sentido. São Paulo:  Editora Perspectiva.
 Latour, Bruno (1994). Jamais fomos modernos: ensaio de  antropologia simétrica. Rio de Janeiro: Editora 34.
 — (1999). A vida em  laboratório. São Paulo: Relumé-Dumará.
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 — (2001). A esperança de  Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru, SP: edusc.
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