A educação como indústria cultural: um negócio em expansão

Autores

  • Márcia Lopes Reis Universidade de São Paulo, Brasil.

DOI:

https://doi.org/10.35362/rie360865

Resumo

Este artigo parte do pressuposto do processo de legitimação da educação desde as interações com outros agentes como a cultura e suas interfaces, a estrutura social, a economia e o próprio Estado, para tratar do quadro complexo de funções sociais que permeiam esta instituição típica da sociedade moderna. Agrega-se a essa condição histórica a constatação de que, em cada estágio de desenvolvimento, a sociedade capitalista forma os indivíduos de que necessita para reproduzir-se (Gramsci) em princípios que têm sido reificados nas políticas públicas de educação. Dentre os aspectos fundantes nas políticas públicas de educação mais recentemente evidenciadas, pretende-se analisar, em profundidade, as relações estabelecidas com os processos de absorção dos meios de comunicação de massa – aqui tratados conceitualmente como parte da «indústria cultural». Nesse início de século, a prática educativa da «escola das novas tecnologias» passa a representar um negócio da indústria cultural em expansão.

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Biografia do Autor

Márcia Lopes Reis, Universidade de São Paulo, Brasil.

Centro de Estudos de Políticas Públicas da Educação (CEPPE) da Universidade de São Paulo, Brasil.

Referências

Bibliografia

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Postman, N. (1994): Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia, São Paulo, Nobel.

Notas:

1) As análises podem ser vistas em profundidade a partir desse autores nas seguintes obras: M. Castells (2001): A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura, trad. Roneide Venâncio Majer, São Paulo, Paz e Terra, vol.1; J. Elster (1990): El cambio tecnológico, Barcelona, Gedisa; P. Lévy (ed. 34) (1993): As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro; A. Schaff (1985): A sociedade informática, São Paulo, UNESP; M. A. Minsk (1994): Conversation with Marvin Minsk about Agents Comunication of ter ACM, July 1994, vol. 37, n.° 7. p. 8.; N. Negroponte (1995): A vida digital, São Paulo, Companhia das Letras.

2) Ver especificamente R. Faoro (1992): A questão nacional: a modernização, in A Bosi (ed.): Estudos avançados, n.° 14, vol. 6, p. 9, jan./abr, São Paulo, USP.

3) A. Touraine (1994): Crítica da modernidade, Petrópolis, Vozes.

4) A propósito desse tema, veja a epígrafe deste artigo.

5) T. Adorno e M. Horkheimer (1985): Dialética do esclarecimento, trad. Guido Antonio de Almeida, Rio de Janeiro.

6) A socióloga americana S. Turkle (1995) tem realizado pesquisas sobre os efeitos dos jogos eletrônicos e no desenvolvimento intelectual e sócio-afetivo de crianças e adolescentes vivendo num universo saturado dos recursos eletrônicos da indústria cultural. Ver especificamente Life on the Screen -Iidentity in the age of the Internet, Nova Iorque, Simon & Shuster. Ver também A. Pacey (1990): La cultura de la tecnología, México, FCE, e N. Postman (1994): Tecnopólio, trad. Reinaldo Guarany, São Paulo, Nobel.

7) T. W. Adorno e M. Horkheimer: Dialética do esclarecimento, p. 136.

8) A expressão «semiformação» é empregada por Adorno, no texto Educação e Emancipação, para designar a formação unilateral própria da cultura capitalista.

9) T. W. Adorno (1996): «Teoria da semicultura», in Educação e Sociedade, ano XVIII, n.° 56, dez., p. 94.

10) S. Schwartzmann (1991): «Educação básica no Brasil: a agenda da modernidade», in Estudos Avançados, USP, São Paulo, Instituto de Estudos Avançados, vol. 5, n.° 13, jan/abril, pp. 52-53.

11) F. A. Sobral (1993): «Educação, universidade e sociedade» in Natureza, história e cultura: repensando o social, Porto Alegre, PPGS/UFRGS, Cadernos de Sociologia, vol. 4, n.º especial, pp. 105-113.

12) T. W. Adorno (1996): op. cit.

13) A agenda pendente em termos de universalização da educação básica figura como uma das prioridades nas políticas públicas desde o final dos anos 80. No entanto, as questões quanto à qualidade do processo ensino-aprendizagem são reiteradamente objeto de análise, como, por exemplo, a constatação de que os dados do Programa Acelera Brasil (ação que visa a minimizar a defasagem idade/série) indicaram que, no início do programa, 45% de alunos baianos não sabiam ler. Técnicos do Ministério da Educação dizem que, em certas regiões, já se chegou a detectar um índice de 75% de alunos matriculados na quarta série que não liam nem escreviam. Exames feitos durante o ano de 2000 pelo Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) mostraram que apenas 10% dos alunos da quarta série aprendem Matemática satisfatoriamente. Os ensinamentos de Língua Portuguesa surtem efeito somente para 42% dos estudantes da rede pública. Sem dúvida, cabe uma análise sobre o critério de «ensino satisfatório», bem como uma metaavaliação dos instrumentos utilizados que diz respeito a outra discussão igualmente significativa que não caberia neste artigo.

14) T. W. Adorno e M. A. Horkheimer (1985): dialética do esclarecimento, Rio de Janeiro, Zahar, pp. 119-135.

15) Para Maar, em sua obra À guisa de introdução: Adorno e a experiência formativa, «há uma transformação básica na chamada superestrutura, confundindo-se os planos da economia e da cultura. A indústria cultural determina toda a estrutura no sentido da vida cultural pela racionalidade estratégica da produção econômica, que se inocula nos bens culturais enquanto se convertem estritamente em mercadorias; a própria organização da cultura, portanto, é manipulatória dos sentidos dos objetos culturais subordinando-os aos sentidos econômicos e políticos e, logo, à situação vigente. Além disso, ocorre uma interferência na apreensão da sociedade pelos seus «sujeitos» pelo mecanismo da «semiformação»: seja com conteúdos irracionais, seja com conteúdos conformistas» (p. 21).

16) A. Moles et al. (1990): Teoria da cultura de massa, Rio de Janeiro, Paz e Terra.

17) Note-se, por exemplo, que para Adorno, em suas análises sobre a questão da indústria cultural, «a cultura é uma mercadoria paradoxal. É de tal modo sujeita à lei da troca que não é nem mesmo trocável; resolve-se tão cegamente no uso que não é mais possível utilizá-la. Funde-se, por isso, com a propaganda, que se faz tanto mais onipotente quanto mais parece absurda, onde a concorrência é apenas aparente. Os motivos, no fundo, econômicos» (p. 198).

18) Deve-se aqui remeter à segunda citação da epígrafe deste artigo.

19) O potencial explicativo desse conceito deve ser retomado uma vez que «a noção de capital cultural impôs-se, primeiramente, como uma hipótese indispensável para dar conta da desigualdade de desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes sociais, relacionando o «sucesso escolar», ou seja, os benefícios específicos que as crianças das diferentes classes e frações de classe podem obter no mercado escolar, à distribuição do capital cultural entre as classes e frações de classe». M. A. Nogueira e A. Catani (1998): Escritos de educação, Petrópolis, RJ, Vozes, p. 73.

20) Ver especificamente P. Lévy (1995): O que é virtual, São Paulo, Editora 34.

21) A dita formação da «aldeia global» pode ser vista especificamente em M. McLuhan (1971): Os meios de comunicação como extensões do homem – understanding media, São Paulo, Cultrix.

22) Ver especificamente A. Gramsci (1978): Os intelectuais e a organização da cultura, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.

23) Ver especificamente M. Weber (1967): A ética protestante e o espírito do capitalismo, São Paulo, Pioneira.

Como Citar

Lopes Reis, M. (2004). A educação como indústria cultural: um negócio em expansão. Revista Ibero-Americana De Educação, 36, 89–104. https://doi.org/10.35362/rie360865

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Publicado

2004-09-01

Edição

Seção

Artigos do monográfico