A televisão, a vida quotidiana e o direito de participação das crianças na escola e na comunidade
DOI:
https://doi.org/10.35362/rie260981Palavras-chave:
televisión, infancia, PortugalResumo
Neste texto, o autor propõe uma abordagem da relação entre a televisão e as crianças na qual são entendidas não como clientes ou meros destinatários das mensagens das instituições sociais, mas como seus parceiros e interlocutores. Apresenta depois alguns resultados de uma investigação realizada com cerca de 800 crianças em idade escolar, realizada em diferentes meios sócio-geográficos do Norte de Portugal, para pôr em destaque a diversidade de situações e de contextos em que ocorre a experiência de vida dos mais pequenos, bem como alguns desafios que se colocam no plano da intervenção, para quem se quer envolver em dinâmicas que visem superar impasses e dificuldades identificadas.
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Notas
1. Título de um livro editado em 2000 pelas Edições ASA (Porto), da autoria de Juan Carlos Tedesco, Manuel Pinto, José Machado Pais e Ana Paula Relvas, sob a coordenação de Joaquim Azevedo.
2. A trilogia violência-sexo-publicidade, que condensa os campos acerca dos quais se exprime a maioria das objecções mais comuns à televisão e/ou à respectiva programação, apresenta graus de consenso social variáveis de época para época, de sociedade para sociedade e no interior de cada sistema social. O tema da violência parece ser hoje o que reúne o maior denominador comum de preocupações, pelo menos daquelas que se exprimem publicamente. Não se estranha, assim, que, nas tomadas de posição política, seja a violência a matéria mais sensível e sistematicamente referida, quando na legislação em vigor, no caso português, aquelas três matérias são objecto de uma atenção equivalente (com alguma ênfase até nas possíveis incidências das mensagens publicitárias nas crianças).
3. Embora os normativos oficiais privilegiem o chamado horário normal (aulas de manhã e de tarde), com frequência o excesso de alunos, os interesses pessoais dos docentes e/ou a pressão das próprias famílias levam à adopção de horários só durante a manhã ou só durante a tarde.
4. Confirmando pesquisas desenvolvidas na região de Barcelona por Magda Albero-Andres (1994), continuam a ser de uma enorme variedade os jogos e as brincadeiras das crianças estudadas, mantendo, em vários casos, características de sazonalidade e, o que é ainda mais interessante, dando continuidade aos jogos dos pais e avós, mesmo que sob a capa de novas nomenclaturas e ingredientes.
5. Assim, por exemplo, um rapaz dirá que «ajudou» a sua irmã a lavar a loiça e não que ele e a irmã realizaram tal tarefa
6. De resto, este ponto permite chamar a atenção para uma questão metodológica que se põe no estudo da vida quotidiana. De facto, não basta contabilizar actividades, as suas sequências e os tempos por elas ocupados. É que, por um lado, há actividades simultâneas; por outro, há modos socialmente diferenciados de experienciar as mesmas actividades; e, além disso, muita da vida quotidiana nem sequer se pode categorizar de modo linear no conceito difuso de «actividade». Há a necessidade de recorrer a outraschaves de análise que permitam dar conta, por exemplo, das passividades, sofridas ou procuradas, do não-dito ou do não facilmente enunciável, do sonho acordado, entre muitos outros aspectos.
7. Em Portugal os programas estrangeiros por norma não são dublados em português, mas legendados.
8. Na altura da Guerra do Golfo, recordo-me do caso de uma criança que passava grande parte do dia sozinha em casa e que chegou à escola preocupada, porque tinha ouvido a notícia de que os árabes poderiam atingir a Península Ibérica com mísseis lançados a partir do Norte de África. Diante desta inquietação, a professora encerrou ali o assunto, sublinhando que, perante tantas horas de imagens de guerra, pelo menos a escola seria um espaço de paz.
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